Criatividade ajuda belo-horizontinos a garantir o "amigo oculto" na crise

Rafaela Matias
21/12/2018 às 22:24.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:42
 (Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

{Em tempos de crise e aperto financeiro, sobrou até para o amigo oculto. Para gastar pouco, sem abrir mão da diversão, belo-horizontinos apelaram para a criatividade. Há o amigo oculto alcoólico, onde a bebida consumida no bar é o presente, o amigo secreto temático, que permite escolhas mais econômicas, e até uma brincadeira em que o mimo é, na verdade, um nova amizade. 

No bar Laicos, no Funcionários, os clientes se tornaram adeptos do amigo oculto alcoólico. Nas últimas semanas, pelo menos três grupos de amigos já se reuniram para fazer a confraternização recheada de drinks. Funciona assim: cada pessoa tira um nome no sorteio e precisa presentear o escolhido com uma bebida que se pareça com a personalidade dele. 

 Arquivo pessoal No bar Laicos, no Funcionários, os clientes se tornaram adeptos do amigo oculto alcoólico

“Alguns dizem, por exemplo, que o drink vai para a fulana porque ela é amarga e doce ao mesmo tempo. Ou para ciclano porque ele conseguiu fazer uma limonada com os limões que a vida lhe deu”, conta Marco Sassen, proprietário do Laicos. O sucesso foi tanto que o bar abraçou a ideia. “Já estamos até divulgando essa alternativa nas nossas redes sociais”, diz Sassen. 

Cada drink custa R$ 20. Se o freguês optar pela versão de R$ 28, ainda pode levar a taça para casa. “Com certeza é uma opção bem mais econômica que o amigo oculto tradicional, além de ser muito mais divertido”, acredita o empresário.

Na turma das amigas da engenheira Bruna Queiroz, de 25 anos, a opção foi por um amigo secreto temático. Desde o ano passado, o grupo escolhe uma modalidade de presente, respeitando a faixa de preço decidida por todas. “No ano passado foram chinelos Havaianas e agora demos pijamas”, conta. 
Para ela, a estratégia é boa porque mantém todos os presentes no mesmo nível e permite adaptar as opções de acordo com a disponibilidade financeira de todas. 
“Se a intenção de todo mundo for economizar, é possível escolher um item que seja mais em conta. Além disso, a probabilidade de que todos os participantes fiquem satisfeitos com os presentes é maior, já que o tema é escolhido em conjunto”, diz. 

Já um grupo de mães de Belo Horizonte inventou uma maneira de confraternizar sem gastar um centavo. Para estreitar os laços, cerca de 30 integrantes do grupo de corrida “Corre, Mamãe”, criado pela jornalista Luciana Machado, decidiram fazer um sorteio virtual com a proposta de que cada uma ligasse para a sua amiga secreta e batesse um papo para saber um pouco mais sobre ela. 

“Eu não queria que ninguém gastasse dinheiro e pensei que essa poderia ser uma forma de todas se conhecerem melhor, de aproximar tantas mulheres incríveis que fazem parte do grupo”, diz Luciana. 

Após as ligações, as moças se encontraram em um bar da capital para brindar e confraternizar. 
“Além de novas amizades, ganhamos um vale night mega divertido. Muito melhor do que qualquer presente material”, afirma a professora Zaline Brito, de 36 anos, integrante do grupo.

Para o consultor de finanças e professor universitário Paulo Vieira, as brincadeiras alternativas são ótimas estratégias para driblar a crise e evitar o endividamento. 
“Estipular um teto para o amigo oculto é uma excelente forma de adaptar os presentes às condições financeiras atuais. Deve-se sempre fazer a relação custo-benefício, lembrando que além de ser uma época difícil para o país, estamos perto do início do ano, que também vem recheado de despesas, como impostos e material escolar”, explica, orientando a nunca gastar o 13º salário integralmente com presentes. 

“Ele pode e deve ter outras destinações também”, diz Vieira, ressaltando que, embora os presentes sejam importantes do ponto de vista sentimental, eles não são itens essenciais de consumo e, por isso, precisa ser escolhidos com limite e equilíbrio.

“Os presentes são importantes porque possuem valor sentimental, algo que vai além do aspecto econômico, mas eles precisam estar compatíveis com a situação financeira do país e da conta bancária de cada um”, explica.

Amigo oculto alcoólico, onde a bebida consumida no bar é o presente, amigo oculto temático, que permite escolhas mais econômicas, e até uma brincadeira em que o presente é, na verdade, um novo amigo. Essas são algumas das estratégias adotadas pelos grupos para manter a tradição sem comprometer as finanças

 Brincadeira é vista como forma de gastar menos no Natal
 

Levantamento do SPC Brasil mostra que quase metade (47%) dos consumidores brasileiros veem no amigo secreto uma forma para gasta<CW-11>r menos com presentes de Natal. Perguntados sobre as razões para participar desse tipo de interação, 50% dos entrevistados afirmaram gostar da brincadeira, enquanto 13% disseram entrar no jogo para não serem considerados antissociais.

Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, avalia o amigo oculto como uma boa estratégia para economizar, já que possibilita um número de presentes reduzido. “Na turma do trabalho, por exemplo, costumamos ter muitas pessoas e é difícil presentear todo mundo. O amigo secreto é vantajoso quando você substitui vários presentes por um só, mantendo a tradição sem que ninguém se comprometa financeiramente”, afirma. 

Mesmo assim, é preciso tomar cuidado para não escolher presentes fora do padrão orçamentário e não entrar em muitos sorteios. “É importante ter discernimento, escolher coisas mais em conta, que caibam no bolso. Se não der para entrar, é melhor explicar e pedir a compreensão de todos, mas evitar o endividamento. É gostoso participar, mas é melhor ainda ter as contas em dia”, diz.

No geral, pouco mais de um terço (34%) dos brasileiros que pretendiam comprar presentes no Natal iriam participar de ao menos um amigo secreto. Os que ficariam de fora desse tipo de evento somaram 45% dos entrevistados. 

Para quem não pretendia participar da confraternização, apenas 11% alegaram razões financeiras. A maior parte iria ficar de fora por não gostar da brincadeira (48%) ou por falta de costume (37%). 

Em média, cada entrevistado iria participar de um ou dois amigos secretos, mas 10% deveriam entrar em três ou mais confraternizações. Os participantes mais citados são familiares (71%) e grupos de convivência, como colegas de trabalho (35%) e amigos (35%). Neste ano, o gasto médio por presente deve ficar em R$ 59,49. Assim, estima-se que a brincadeira tenha injetado aproximadamente R$ 5,1 bilhões na economia.
 

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