Com pandemia 'bombando', indicadores de otimismo da indústria voltam a cair

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
27/01/2021 às 19:49.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:02
 (FLAVIO TAVARES/JORNAL HOJE EM DIA)

(FLAVIO TAVARES/JORNAL HOJE EM DIA)

Em meio à nova explosão de casos de Covid-19, no país e no mundo, e diante de perspectivas até promissoras, mais ainda incertas em relação à vacinação, a confiança de industriais brasileiros e mineiros – indicadores que, de modo geral, tiveram boa performance no último trimestre de 2020 – voltou a cair, agora em janeiro. 

A avaliação da conjuntura econômica nacional e as projeções para o futuro das empresas, por representantes de 26 dos principais 30 setores industriais, recuou este mês em relação a dezembro de 2020, segundo o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). 

Apesar da queda, segundo especialistas, os patamares alcançados não indicariam, ao menos por enquanto, pessimismo na indústria, já que nenhum deles ficou abaixo dos 50 pontos (marco que separa confiança e desconfiança).

“Se compararmos o ICEI deste ano com o de janeiro de 2020, vamos ver uma queda ainda mais expressiva em alguns setores do que a da comparação com dezembro. Mas isso não significa que os empresários não estejam confiantes”, assegura o gerente de análise econômica da CNI, Marcelo Azevedo. 
Bebidas

Não é bem isso, contudo, o que se percebe em alguns setores que tiveram diminuições do ICEI neste mês. É o caso da indústria de bebidas, que registrou 55,9 pontos em janeiro e figura entre os segmentos produtivos com menor confiança entre os pesquisados, ao lado de obras de infraestrutura (52,6 pontos), outros equipamentos de transporte (53,7 pontos), produtos de limpeza, perfumaria e higiene pessoal (54,4 pontos) e confecção de artigos, vestuário e acessórios (56,3 pontos).

De acordo com o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral de Minas (Sindbebidas), Marco Falcone, a situação para os produtores de cervejas, por exemplo – especialmente das 89 empresas artesanais do Estado, 60 delas na região da capital –, é considerada preocupante. “Além da conjuntura geral ser bem desfavorável, tem a situação local, com os bares e restaurantes novamente de portas baixas na capital mineira e sem perspectivas de festas e eventos como o Carnaval”, diz Falcone, cuja fábrica, a Falke Bier, teve 170 pontos de venda fechados na cidade. 

“Não estamos falando mal nem questionando do Poder Público por medidas adotadas em razão da pandemia, mas há a realidade de que 10% das empresas do setor fecharam e outras tendem a fazer o mesmo”, completa. Só na Grande BH, Falcone calcula que 180 pessoas, das cerca de 1.800 empregadas na produção de cervejas artesanais, tenham sido demitidas. “Nossa única esperança é de que, com chegada das vacinas, o quadro mude, mas isso só será sentido no segundo semestre”, conclui.

Construção civil tem leve recuo após seis altas consecutivas 

O setor industrial em que a queda de confiança dos empresários mais chamou a atenção, em janeiro, foi o da construção civil. Considerado essencial desde o início da pandemia - o que impediu interrupções nos trabalhos -, o segmento apresentou resultados excepcionais no ano passado, beneficiado também pelos juros baixos dos financiamentos imobiliários e por mudanças comportamentais ligadas à Covid-19, que fizeram muita gente trocar de casa.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que mede o Índice de Confiança da Construção (ICST), o recuo do indicador neste início de ano, no setor, foi de 1,4 ponto, após seis altas consecutivas em 2020. Tudo bem que o patamar continua nas alturas (92,5 pontos, próximo ao de fevereiro de 2020), mas a redução não deixa de surpreender.

Para a economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE, a explicação passa, entre outros fatores, pela alta de insumos verificada pelas construtoras. “Desde setembro, o custo dos materiais vem crescendo como fator limitativo, associado ao expressivo aumento dos preços observados a partir desse período. Essa questão deve se manter entre as principais dificuldades do setor nos próximos meses”, avalia ela.

O resultado negativo em janeiro refletiu a piora da percepção dos empresários na avaliação sobre o momento presente e redução das expectativas em relação aos próximos meses. O Índice de Situação Atual (ISA-CST) recuou 1,9 ponto para 90,5 pontos, interrompendo sequencia de altas desde junho. Os indicadores de situação atual dos negócios e de nível da carteira de contratos recuaram de forma parecida.

Para o vice-presidente de incorporadoras da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas (CMI/Secovi-MG), Daniel Katz, embora a elevação de custos cause insegurança, a ligeira queda na confiança está mais ligada à sazonalidade (dezembro e janeiro são meses ruins para o setor). 

“Temos, sim, que ficar atentos ao problema dos insumos, no curto e médio prazos. Mas, com juros a 2%, a expectativa pela vacina e uma perspectiva global positiva, com a eleição nos Estados Unidos, nossa projeção é de que tenhamos um primeiro semestre para a construção civil melhor que do ano passado”, afirma.

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