Crise faz cerca de 3,9 milhões de pessoas desligarem TV por assinatura

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
10/03/2017 às 21:35.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:41

Os cortes de supérfluos em decorrência da crise econômica chegaram aos pacotes de TV por assinatura, segmento que surfava na onda de ascensão das classes C e D. Entre o acirramento da recessão, em 2015, e o início deste ano, 967 mil brasileiros cancelaram o serviço, redução de 4,9%. Se levarmos em conta que moram quatro pessoas em cada residência, é possível afirmar que 3,868 milhões de pessoas desligaram a TV por assinatura no período.

Somente em Minas Gerais, 53 mil cancelamentos foram realizados, atingindo 212 mil pessoas. Isso significa que, atualmente, 22,6% das residências do Estado contam com o serviço. Em 2015, eram 23,3%.

De acordo com o vice-diretor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), Carlos Nazareth Motta Marins, a retração econômica atingiu em cheio as classes C e D, que antes da crise foram estimuladas a consumir com maior intensidade. “A crise atingiu de forma mais agressiva justamente essas classes, que tiveram acesso ao serviço há pouco tempo”, diz.

A estudante Deborah Sales de Almeida Magalhães é exemplo de quem abriu mão do serviço após redução na renda. “Em 2015 eu me divorciei e a renda diminuiu. Os gastos supérfluos foram os primeiros a serem cortados”, afirma.

Embora a TV por assinatura tenha sido cortada, Deborah não abre mão da internet, que oferece outras maneiras de assistir TV. O vice-diretor do Inatel afirma que as novas ferramentas, principalmente as que utilizam a internet, também influenciam na redução de assinaturas. “Além do Netflix, que é o mais conhecido, as próprias operadoras de TV criaram o serviço <CF36>on demand</CF> para atrair mais clientes”, diz o especialista.

Operadoras no mercado

O setor de TV por assinatura é composto principalmente por quatro operadoras. O grupo Claro, formado por Embratel[/TEXTO] e Net, e a Sky dominam o segmento com 80,6% de participação (grupo Claro 52,7% e Sky 27,9%). Vivo e Oi disputam a menor fatia: 9,1% e 7,1% respectivamente.

As menores foram menos impactadas. Para o diretor de Varejo da regional Minas da Oi, Wellerson Vieira Leite, as novas maneiras de assistir vídeos não têm impacto direto no número de assinantes de TV por assinatura. “São serviços complementares”, diz. De acordo com o executivo, o consumidor não abre mão da grade da TV por assinatura, especialmente dos canais de notícia e esportes, que não são disponibilizados nos sistemas de TV.

Ainda segundo Leite, a Oi tem atraído clientes devido ao serviço Oi Total, que concentra internet, TV por assinatura, telefone fixo e celular. “A economia chega a 30%, na comparação com as assinaturas avulsos”, diz. Como reflexo, a operadora ampliou a base de clientes em 12% entre 2015 e 2017. Em Minas, o crescimento foi de 13,69%.

A Vivo apresentou aumento de 18% na base de clientes no Estado no mesmo período, segundo nota da assessoria de imprensa. “A Vivo tem como diferenciais os canais HD em todos os pacotes; gravador digital 4K; Vivo Play, que permite aos clientes acesso aos conteúdos sob demanda na TV e em outros dispositivos como tablets, smartphones e notebooks”, diz o texto.

Também por nota, a NET, líder de mercado, informou manteve crescimento em TV por Assinatura em 2016, registrando um aumento de 1,64 p.p de market share em comparação com 2015. A Sky não retornou aos e-mails e ligações.

“Além da recessão, a redução foi motivada pelas novas maneiras de assistir TV, como o Netflix”Carlos motta Marinsvice-diretor do inatel

 Serviço aparece em segundo lugar na lista do Procon

Mesmo com a redução no número de assinantes entre 2015 e 2017, o serviço de TV por assinatura está entre os mais reclamados no Procon Assembleia/MG. Em 2016, foram 965 notificações, garantindo ao segmento o segundo lugar na lista. Em primeiro, aparecem os serviços de telefonia fixa e móvel, também de telecomunicações, com 1.661 notificações.

A principal queixa, segundo o gerente do órgão, Gilberto Dias de Souza, refere a cobrança indevida. “Trabalho há 26 anos no Procon e as cobranças indevidas sempre estiveram no topo das reclamações em todos os setores. Não acredito em coincidência. A lesão deixou de ser jurídica para ser contábil. Tenho a impressão de que as empresas usam de má-fé”, rechaça o gerente.

O representante do Procon afirma ainda que poucas pessoas procuram os órgãos de defesa do consumidor, prática que deveria ser mais frequente. “A maioria não reclama e as empresas aproveitam”, lamenta.

Como dica para que não haja divergência entre o contratado e o que é cobrado, Souza diz que é necessário guardar provas. Para isso, fechar contratos por telefone deve ser uma prática evitada. O ideal é ir pessoalmente à loja e assinar um contrato.

Caso não seja possível ir ao estabelecimento, o consumidor deve gravar a conversa que teve com o atendente. “Hoje, existem aplicativos que fazem essa gravação. O consumidor também pode colocar o telefone no viva voz e gravar com outro celular. Infelizmente, o cliente precisa se resguardar”, alerta.

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