Curta-documentário "Sanã" cria polêmica em Gramado

Luiz Carlos Merten
15/08/2013 às 11:39.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:00

Houve um curta-documentário excepcional na segunda-feira (12), à noite - Sanã, do mineiro Marcos Pimentel. Talvez seja o filme mais rigoroso, independentemente de formato, já visto neste festival. O diretor acompanha um garoto albino numa ilha do Maranhão. Parecem os Lençóis. Vento, um areal que não tem fim. O espectador pode sentir certo estranhamento diante do personagem, mas o menino, com sua pele muito branca escalavrada pelo sol, move-se com facilidade nesse universo. É solitário, você poderia pensar num autista. Mas é um performático. O que ele faz, e a câmera o segue com rigor, é de uma beleza de cortar o fôlego. O documentário nos limites da ficção.

Confira o trailer:

 

E logo vieram os longas - o documentário Repare Bem, de Maria de Medeiros, e a ficção A Bruta Flor do Querer, de Andradina Azevedo e Dida Andrade. O filme de Maria foi feito a pedido da Comissão de Justiça e Reparação. Uma ex-guerrilheira, Denise Crispim, presta depoimento doloroso sobre o horror que sofreu com a repressão da ditadura militar. Se o filme de Pimentel prescinde dos diálogos, mas não dos sons, o de Maria constrói-se na força da palavra. Ela disse que o filme foi feito com carência total de recursos, mas, se tivesse muito dinheiro, o faria do mesmo jeito, sem fricotes.

Denise Crispim reconstitui toda a sua dor e, ao mesmo tempo, enquanto fala, o filme retrata toda a experiência humana de uma mulher. Amor, maternidade, morte, renascer. Maria, atriz e diretora portuguesa, foi criticada por haver feito - segundo alguns críticos - um filme chapa-branca. Eles detestam o desfecho, com o pedido de desculpas do representante do governo e do povo brasileiros a Eduarda, filha de Denise e do guerrilheiro Bacuri, barbaramente assassinado pelos militares. Difícil imaginar Repare Bem sem o desfecho. Preste atenção no título - repare no que está sendo dito e mostrado, sugere a diretora, mas a reparação também é de outra ordem. Um reconhecimento, um desejo de reconstrução. Eduarda, criada na Itália e falando um português italianado, assume sua identidade brasileira.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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