(MARCELO PRATES)
Os gastos com transporte estão entre os maiores pesos no orçamento das empresas brasileiras. Custos de logística já comprometem cerca de 11,2% da receita das companhias. A infraestrutura deficitária é um dos grandes problemas.
Estudo da Fundação Dom Cabral, realizado com 111 empresas, revela que, para 48,6% delas, os custos com transportes têm influência muito alta na formação do preço final dos produtos.
As rodovias têm importância especial, já que 81,7% das empresas utilizam a via terrestre para o transporte de insumos e produtos. Na sequência vem o transportes ferroviário, que é utilizado por 14,6%.
Isso explica o fato de 40% das companhias consultadas afirmarem que a melhoria das condições do modal rodoviário é um fator crucial para a redução dos custos logísticos e, por consequência, do custo repassado ao consumidor final.
Na avaliação de quase 70% dos entrevistados, a qualidade das estradas brasileiras é considerada muito ruim. Mas não pior do que a situação dos modais ferroviário e portuário, que são considerados muito ruins por 95,5% e 80,8% das empresas, respectivamente.
Para o professor do CBA Logística do Ibmec, Geraldo Abranches, o investimento em transporte multimodal é a principal alternativa para a redução dos custos com a logística.
“De trem e de navio é possível transportar mais pagando menos. Quando quase tudo é feito pelo transporte rodoviário, paga-se mais caro”, comenta.
Outra alternativa apontada como viável por Abranches é permitir que a iniciativa privada administre mais rodovias. Para ele, a medida traz benefícios para o país e mais segurança para quem utiliza as estradas.
Modelos
O Porto de Rotterdam, na Holanda, é considerado um dos melhores exemplos do mundo em eficácia no sistema logístico, de acordo com Abranches. “Por ele, é possível distribuir as cargas até o coração da Europa. Uma prova de que o investimento no multimodal é importante”, comenta. “No Brasil, o Porto de Paranaguá já não suporta os períodos de supersafra da soja. E lá só se chega pelo acesso rodoviário. Estamos muito aquém do modelo logístico ideal”, compara.
Companhias querem punição à corrupção
As propostas feitas pelas empresas para que os projetos de infraestrutura ganhem mais eficiência estão diretamente ligadas ao combate à corrupção.
Cerca de 88,2% das companhias entrevistadas afirmam que “punir exemplarmente os corruptos” é a primeira medida para que o desenvolvimento nesse segmento aconteça.
A redução da burocracia é considerada a segunda medida mais importante, na opinião de 81,8% das empresas ouvidas.
Iniciativa privada
Logo depois, o aumento da participação privada na administração das estradas é a alternativa sugerida por 51,8% das companhias.
Para 74,5% dos entrevistados, a redução da interferência política nos projetos de infraestrutura é outra medida considerada muito importante.
Além disso, aumentar a flexibilidade nos processos de licitação é uma prioridade na opinião de 55,5% das companhias abordadas pela pesquisa.
Estratégias
Com o cenário desfavorável, as estratégias encontradas pelas companhias brasileiras variam de acordo com o segmento.
Um expediente que tem sido bastante adotado é a troca das operações FOB (Free on board ou “Livre a bordo”, em português) – em que o comprador assume os riscos e custos do transporte –, pelas operações CIF (Cost, Insurance and Freight ou “Custo, Seguros e Frete”), em que o fornecedor se responsabiliza por tais despesas. O objetivo é reduzir o impacto dos custos de logística na competitividade das empresas.
Armazenagem também pesa no custo
Dentro do complexo logístico da maioria das empresas, o transporte de longa distância é o que representa a maior fatia dos custos (43,88%). Em seguida, a armazenagem é responsável por 19,6% dos custos. Logo depois, a distribuição urbana consome 17,79% do orçamento das companhias, seguida pelos custos administrativos e os custos portuários. A pesquisa revelou, ainda, que na avaliação da maioria das empresas entrevistadas, a corrupção é o maior gargalo para o cumprimento das obras de infraestrutura no país.