De portas fechadas: com Covid-19, prefeito suspende alvarás de bares, restaurantes e shoppings de BH

Paulo Henrique Lobato e Evaldo Fonseca
primeiroplano@hojeemdia.com.br
18/03/2020 às 21:10.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:00
 (RIVA MOREIRA)

(RIVA MOREIRA)

A ordem para suspender o funcionamento de bares, restaurantes e shoppings, entre outros estabelecimentos, dada ontem à noite pelo prefeito Alexandre Kalil, deve aumentar ainda mais os prejuízos que já vinham sendo previstos por comerciantes da cidade em razão da chegada da epidemia da Covid-19. 

O prefeito assinou decreto, no início da noite, tornando inválidos por tempo indeterminado os Alvarás de Localização e Funcionamento (ALFs) emitidos para realização de atividades com potencial de aglomeração de pessoas, em razão da Situação de Emergência em Saúde Pública, que já havia sido declarada por meio de outro decreto – o de número 17.297, datado da última terça-feira. 

A medida, que já valia desde então para eventos realizados na cidade, clubes recreativos e parques públicos, por exemplo, foi ampliada para os estabelecimentos citados e ainda para casas de shows, danceterias, salões de dança, casas de festas e eventos, feiras, exposições, congressos e seminários. Até mesmo academias de ginástica e clínicas de estética e salões de beleza foram incluídos na suspensão

A restrição, contudo, não se aplicou a supermercados, farmácias, laboratórios, clínicas, hospitais e demais serviços de saúde em funcionamento no interior de shoppings centers, centros de comércio e galerias de lojas, desde que adotadas as medidas estabelecidas pelas autoridades de saúde de prevenção ao contágio e contenção da propagação de infecção viral relativa à Covid-19. Também não afetou restaurantes de hotéis, pousadas e similares.

Pouco antes da assinatura do decreto municipal, o Hoje em Dia conversou com representantes do setor de bares e restaurantes, um dos principais motores da economia da Região Metropolitana de Belo Horizonte, e constatou que, mesmo sem fechamento compulsório das portas, era grande o temor de colapso em razão da pandemia do novo coronavírus. A expectativa era de quebradeira e demissões em massa, com perdas de até 70% nos faturamentos.

“Há aproximadamente 22 mil bares e restaurantes na Grande BH e, desses, 12 mil são de pequeno porte. Correm risco de colapso”, alertou o presidente da seção mineira da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Ricardo Rodrigues. 

Já a entidade nacional projetava a possibilidade de o setor perder três milhões de empregos em menos de um mês e meio, o equivalente a 50% do contingente de trabalho do segmento em todo o país.

A orientação do poder público para que moradores fiquem em casa, a suspensão das aulas e o efeito das empresas que adotaram a jornada home office deixaram estabelecimentos vazios na capital dos bares, ontem.

Diante do sumiço dos clientes, empreendedores estão aflitos. Sócio do restaurante João da Carne, no Carlos Prates, Cristiano Barcelos calcula que o movimento na hora do almoço nesta terça-feira foi “de 20% a 30% menor do que a média tradicional para o dia”. 

“Estamos fazendo o que está ao nosso alcance: disponibilizamos álcool em gel, colocamos cartazes com informações sobre o combate ao coronavírus e aumentamos o espaço entre as mesas, como recomendam as autoridades de saúde (mínimo de 1,5 metro)”, disse o comerciante.

Mas o setor pedia mais e dependia da ajuda dos governos federal e estadual. Até o fechamento desta edição, o presidente da Abrasel-MG ainda não se posicionara sobre a decisão do prefeito.

 Sebrae cria cartilha para ajudar empreendedor na pandemia

Diante dos pífios indicadores projetados por especialistas após a chegada do coronavírus no Brasil, o Sebrae elaborou uma cartilha para orientar donos de pequenas empresas no controle das finanças. O Guia de Gestão Financeira oferece dicas diante de aspectos como a redução no movimento de clientes, faturamento menor e queda na produção.

As medidas, informa o Sebrae, estão alinhadas às do Banco Central e às da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). O documento foi elaborado, sobretudo, para amenizar as perdas nos segmentos cujas atividades são mais dependentes do atendimento ao público, como turismo, alimentação fora do lar, feiras livres e varejo tradicional.

A primeira orientação é para que os empreendedores façam “uma previsão das despesas para um período de dois ou três meses, e, se possível, identifique esses valores de acordo com o tipo de despesas”. Assim, pode priorizar a negociação de despesas com maior impacto no seu negócio.

O Sebrae também recomenda que se “procure negociar as despesas bancárias, buscando um prazo maior para o pagamento dos seus compromissos”. 
É importante não se esquecer que as cinco maiores instituições brasileiras (BB, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco e Santander) já anunciaram que vão prorrogar por 60 dias os vencimentos de dívidas de micro e pequenas empresas.

Outra orientação essencial é evitar despesa que não seja extremamente necessária para a continuidade dos negócios.
Em relação às mercadorias, é preciso estudar a possibilidade promoções de produtos que estejam no estoque há muito tempo. Se preciso, “disponibilize serviços de entrega para manter o nível de compra dos clientes”, pois o objetivo “é aumentar o faturamento”.

“A ideia é criar uma rede de apoio aos empreendedores que desempenham papel estratégico no desenvolvimento da economia brasileira (99% dos negócios do país são de micro e pequenas empresas) e hoje respondem por 27% do PIB nacional, ou seja, quase um terço de toda riqueza produzida no país. Apesar de o momento atual trazer complicações para a economia mundial, os pequenos negócios brasileiros já mostraram a força que têm ao registrarem o melhor saldo de empregos formais para o segmento dos últimos cinco anos, de acordo com dados de janeiro deste ano”, analisa o Presidente do Sebrae, Carlos Melles.

 Kalil e Zema divergiram sobre providências contra o vírus

Provável candidato ao governo estadual em 2022, o prefeito Alexandre Kalil mostrou-se frustrado, no final da tarde de ontem, com as novas medidas anunciadas pelo governador Romeu Zema para conter a expansão do coronavírus, especialmente em BH, que já registrava dez casos confirmados de infecção.

“Como o governo do Estado recuou nas providências que deveria tomar, anunciarei amanhã, 12h, novas medidas”, afirmou o prefeito, pelo Twitter, embora pouco depois tenha noticiado o decreto. 

Kalil se referia a informações extra-oficiais, que chegaram a circular anteontem na capital, de que Zema determinaria o contingenciamento do funcionamento de shoppings, bares e restaurantes e outros estabelecimentos no Estado ou limitaria os serviços de transporte. Ao falar do conjunto de ações para BH, na terça, o prefeito chegou a elogiar o colega por algo que não se concretizou. “O governador me ligou. Já tínhamos combinado… Uma pena. Preocupado com votos e não com vidas”, explicou Kalil, destacando que adotaria “medidas solitárias”.

O mais provável era que Kalil, que já suspendera atividades em escolas municipais, fechara parques e cancelara a concessão de alvarás para eventos, por exemplo, baixasse decreto com restrições ainda mais severas, atingindo comércio e serviços. Foi que aconteceu.

Governo Estadual
Em coletiva transmitida pelo Facebook, ontem, o governador Romeu Zema não mencionou a questão do funcionamento do comércio ou medidas restritivas a transportes, por exemplo. 

Ele admitiu, contudo, que as ações para conter o avanço da Covid-19 prejudicam a venda antecipada de recebíveis do nióbio, tida como alternativa para que o Estado regularize contas. “O investidor prefere aplicar em títulos de países mais seguros. Isso vai retardar a nossa operação, estamos revendo alternativas”.

Zema prevê, no momento, perdas de arrecadação do Estado de R$ 500 mi em razão da crise do coronavírus. “Vamos enfrentar esses desafios por uns 30 a 90 dias. Depois tudo volta ao normal”, comentou. Zema também reconheceu a impossibilidade de por em dia o pagamento do funcionalismo até maio. O prazo será estendido.

SAIBA MAIS:

Como se não bastasse a recente crise da Covid-19, Minas teve, ontem, mais uma notícia preocupante: o PIB do Estado teve retração de 0,3% em relação a 2018, conforme números divulgados pela Fundação João Pinheiro (FJP). 

A variação está dentro da previsão feita pelo pesquisador Raimundo Leal, responsável pelo Núcleo de Contas Regionais da FJP, que havia apontado que o dado relativo ao ano não deveria fugir dos valores observados no acumulado do terceiro trimestre de 2019 (-0,2%).

O resultado de Minas fica bem aquém do constatado na economia brasileira, que obteve uma melhora de 1,1% em 2019, valor ainda assim abaixo do esperado. 

O estudo aponta que o distanciamento entre a performance em Minas e a brasileira se deu no segundo semestre, tanto pela crise do setor de extração mineral, como resultado do rompimento da barragem de Brumadinho, como em função da baixa do ciclo do café, que ocorre am anos ímpares.

O PIB mineiro para 2019 ficou em R$ 632 bilhões, o que equivale a 8,7% do PIB brasileiro, calculado pelo IBGE em R$ 7.256,9 bilhões. Em relação ao terceiro trimestre, o PIB estadual obteve um crescimento de 0,6%. No período, a estimativa preliminar para o Estado totalizou R$ 164,3 bilhões a preços correntes.

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