Declarações sobre aborto e gravidez provocam revolta nos EUA

AFP
20/08/2012 às 19:26.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:36

  WASHINGTON - Um deputado republicano provocou nesta segunda-feira uma onda de críticas depois de ter afirmado que raramente uma mulher engravida depois de sofrer um estupro.   Ao explicar sua oposição total ao aborto - também em casos de estupro -, Todd Akin, membro da Comissão de Ciências do Congresso e candidato a senador pelo estado central de Missouri, afirmou que "os casos de gravidez depois de um estupro são muito raros".   "Se for um verdadeiro estupro, o corpo da mulher tenta por todos os meios bloquear isso", acrescentou.   "Nos casos em que isso acontecer (...) o castigo deve recair no estuprador e não na criança", acrescentou Akin, que já foi eleito seis vezes e é apoiado pelos ultraconservadores do "Tea Party".   "Qual é a prova de que (um estupro) é exatamente 'um verdadeiro estupro?", ironizava nesta segunda-feira "ftb3" no blog do Washington Post, fazendo uma comparação com os "processos por bruxaria". "Atira-se (as acusadas) na água. Se flutuarem, são culpadas. Se afundarem, são inocentes".   A declaração - que, mais tarde, Todd Akin, reconheceu ser uma "estupidez"-, pôs a questão do aborto no centro da campanha eleitoral, tema de controvérsia permanente nos Estados Unidos.   Tanto o candidato republicano à presidência Mitt Ronmey como seu companheiro de chapa Paul Ryan imediatamente tomaram distância das declarações do deputado.   "O governador Romney e o deputado Ryan concordam com as declarações de Akin e uma administração Romney-Ryan não se oporia ao aborto em caso de estupro", indica um comunicado da equipe de campanha.   O presidente Barack Obama disse que as declarações de Akin são "ofensivas": "a opinião expressada (por Akin) foi ofensiva. Um estupro é um estupro", afirmou durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca.   Claire McCaskill, atual senadora democrata pelo Missouri e candidata à reeleição, se disse chocada. "Que alguém possa ignorar a tal ponto o trauma físico e emocional que um estupro provoca é realmente incompreensível", enfatizou.   A imprensa publicou nesta segunda-feira um estudo de 1996 do Jornal de Ginecologia e Obstetrícia, que informava que 32.101 gestações (5% do total) eram resultado de um estupro. Segundo um relatório de 2011 da Associação de Obstetras, a cada ano são realizados "entre 10.000 e 15.000 abortos por gestações produzidas por um estupro ou incesto".   As declarações de Akin são "escandalosas, insensíveis e (ele) está mal informado", disse à AFP Brenda Smith, professora de Direito da American University de Washington, especialista em legislação sobre estupros, apesar de achar que o legislador pelo Missouri "acredita no que diz e muitos conservadores concordam com ele".   As organizações contrárias à legalização do aborto aproveitaram a discussão para levantar suas bandeiras. A associação anti-aborto FRC (Family Research Council) lembrou que na segunda-feira que "durante seus 12 anos no Congresso, Todd Akin apoiou as leis que respeitam a vida humana".   "Ninguém questiona que o estupro seja um crime abominável", afirmou a organização Susan B. Anthony, mas os opositores "utilizam o tema como uma cortina de fumaça para ocultar suas pregações a favor do aborto".   Os sites militantes na internet, ao contrário, lembram antigas declarações de republicanos nesta mesma linha: o legislador Henry Aldrige achava em 1995 que "os fluidos não deslizavam" quando as mulheres são "verdadeiramente violentadas" e seu colega Stephen Freind defendia, em 1988, que a mulher estuprada produzia "certa secreção" que impedia a fecundação, lembra o buzzfeed.com.   Um comentário no Twitter de @vampsicola dizia que "em um mundo perfeito, esses comentários (de Akin) teriam sido um suicídio político, mas na realidade, muitas pessoas votarão nele".

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