Depois das chuvas, pandemia é mais um desafio a muitos negócios em BH

Rodrigo Gini
rgini@hojeemdia.com.br
25/04/2020 às 19:07.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:22
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Maurício Vieira/N/A

Roney fez mudanças na agência de veículos em enchentes anteriores, mas ainda assim teve prejuízos

Prejuízos e dificuldade em dose dupla, emendando uma tragédia em outra. Depois do começo de ano marcado pelas fortes chuvas em Belo Horizonte, o que complicou a vida de vários negócios, muitos deles sofrem agora com a pandemia do novo coronavírus. Quem não se enquadra entre os serviços essenciais, cujo funcionamento é permitido por decreto municipal e tem poucas alternativas para oferecer produtos e serviços de forma remota tenta manter a serenidade e a confiança, à espera da retomada ampla das atividades. Muitas vezes com a consciência de que nada será como antes.

Estabelecimentos em regiões como a Praça Marília de Dirceu, em Lourdes; as avenidas Vilarinho e Tereza Cristina mal tiveram tempo de se levantar das perdas do período chuvoso e agora lidam com as portas fechadas. Um levantamento da Câmara de Dirigentes Lojistas da capital (CDL-BH) identificou 2.516 estabelecimentos atingidos pelos efeitos das tempestades, com prejuízo médio de R$ 16,4 mil. O que não leva em conta os danos provocados em ruas e avenidas que dificultaram o acesso e, em muitos casos, ainda não foram totalmente reparados pela PBH.

Sócio de uma revenda de automóveis seminovos (Vemig Automóveis) na Tereza Cristina, Roney Fernandes conseguiu escapar de danos materiais maiores nas chuvas graças às lições das enchentes anteriores. Mesmo assim, não ficou imune às dificuldades. "Estamos nessa região há 20 anos. Depois das cheias de 2009, elevamos a loja em mais de um metro justamente para escapar da enxurrada. Mesmo assim, as perdas foram incalculáveis se eu pensar que não havia como chegar até aqui; que o acesso a partir do Barreiro e das cidades do entorno segue fechado. Fui obrigado a retirar os carros para um pátio mais seguro e, diante do movimento menor, acabei obrigado a dispensar funcionários, muitos deles formados por nós, e a reduzir a equipe. E não tem como não se envolver com o que aconteceu em volta, muita gente perdendo casa, móveis, tudo. Agora estamos eu e meu sócio aqui lidando com o que é possível fazer, já que não podemos abrir as portas", explica.

Mudanças


A ordem, no entanto, é não jogar a toalha e, por isso mesmo, aproveitar a pausa forçada para buscar mudanças no formato do negócio que permitam maior tranquilidade no pós-pandemia. "A compra do carro ainda é algo muito pessoal, que envolve tocar, cheirar, ver de perto. Mas estamos reforçando nossa presença online para ajudar o cliente. Acreditamos que a maneira de pensar e agir do consumidor vai mudar definitivamente e é importante estar pronto para isso. Não adianta lamentar o que aconteceu ou está acontecendo. A hora é pensar no que fazer para minimizar e no que vem pela frente".

Pá de cal

Outro empresário da mesma região não teve tanta sorte depois das enchentes. Dono de um topa-tudo e uma casa de recepções na Tereza Cristina (Bairro Salgado Filho), Leonardo Mazzini viu as instalações completamente tomadas pela lama no começo do ano. Ele nem sequer conseguiu retirar o entulho e recuperar os danos. Com as atividades interrompidas, reclama da falta de apoio público para recuperar os negócios. "Esperava algum tipo de ajuda em termos de crédito, um apoio da prefeitura, cobrei, reclamei, mas não tive nenhuma resposta. Imagino que o prejuízo total aqui seja superior a R$ 1 milhão. Imagina uma casa de recepções com vários eventos marcados e que, de um dia para o outro, está diante de uma avenida destruída? Não dá para estacionar carro aqui em volta. Até vender o imóvel acho difícil, ainda mais agora, com essa nova crise. Fora que quem vai investir numa região que pode passar por tudo de novo quando chegar janeiro?"

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