Desemprego impulsiona 100 mil novos microempreendedores por ano em Minas

Ivana Andrade
iandrade@hojeemdia.com.br
09/05/2017 às 20:23.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:29

Em um universo de mais de 14 milhões de desempregados, o número de Microempreendedores Individuais (MEIs) tem crescido significativamente. Em Minas, segundo levantamento do Hoje em Dia no Portal do Empreendedor, o saldo entre adesões e fechamentos chega a 100 mil por ano desde 2014, quando a crise econômica começou a tirar vagas dos trabalhadores.

Entretanto, segundo a analista da Unidade de Atendimento do Sebrae Minas, Viviane Soares, é preciso cautela antes de investir no negócio próprio.
“Muitas vezes, a pessoa abre a empresa sem estar preparada e o empreendimento não vai adiante”, adverte.

No Brasil, os microempreendedores já são quase 7 milhões, com destaque para Minas, terceiro estado com maior número de formalizações (774 mil), atrás de Rio (857 mil) e São Paulo (1,8 milhão). Os números são cumulativos de 2009 até março de 2017, segundo o Sebrae Minas.
De todos os registros no primeiro trimestre deste ano, 47% foram feitos por mulheres, grande parte por necessidade e outras pela vontade de abrir um negócio.

Após trabalhar em uma indústria de alimentos, a nutricionista Fernanda Veloso ficou desempregada. Sem sucesso no mercado, fez um planejamento para se tornar microempreendedora. Foi então que nasceu a Fina Salada Gourmet, especializada em alimentação saudável, aberta em sociedade com a psicóloga Eliane Ferreira. “Com a ajuda do Sebrae, pensei na criação da marca, embalagem e público-alvo”, afirma.

As saladas, montadas em copos de acordo com o gosto do cliente, são refeições com um tipo de proteína, carboidrato, vegetais e folhas. Os pedidos são feitos via delivery. Os preços variam de R$ 9,50 a R$ 14,99.

Opção
Se para muitas a opção de se tornar MEI é uma urgência em meio à crise e ao desemprego, para outras é opção para mudar de ramo e investir no que gosta. Esse é o caso de Dayana Rezende Silva, que trabalhava como auxiliar administrativo e decidiu seguir a vocação de doceira, ofício que começou a aprender na adolescência.

Hoje aos 30 anos, Dayana montou a confeitaria “Relíquias do Glacê”, que produz bolo, alfajor, brownie, brigadeiro gourmet, bem-casado e macaron (iguaria francesa feita com claras de ovos). Após se tornar MEI e fazer curso de confeiteira, ela foi premiada com um estágio na área de pâtisserie do hotel Château de Divonne, na cidade de Divonne-le-Bains, na França. “A receita do meu bolo, chamado Fabuloso, obteve nota máxima. Inclusive ele é meu carro-chefe nas vendas”, diz. Como microempreendedora, Dayana viu sua renda triplicar. Os doces são comercializados por meio de encomendas ou via bike, que roda pela cidade.

A carreira de Marília Santos Outuky também deu uma reviravolta após ela se tornar microempreendedora individual. Apaixonada pela área de corretagem de seguros, trocou o emprego com carteira em um escritório do ramo para investir no próprio negócio no mesmo segmento, a Outuky Corretora.

A renda mensal de R$ 1.500 no emprego anterior saltou para R$ 5 mil, em média. “Aconselho as pessoas a fazerem o que gostam. Elas têm de arriscar, mas com determinação. Sem sacrifício não há bons resultados”, diz.Lucas Prates

SÓCIAS – Eliane Ferreira e Fernanda Veloso apostaram em saladas montadas em copos de acordo com o gosto do freguês 


Uma em cada quatro empresas fecha por falta de lucro

Apesar do processo de formalização do MEI ser menos burocrático, também exige responsabilidades, alerta a analista do Sebrae Minas, Viviane Soares. Prova disso é que um em cada quatro brasileiros que encerraram as atividades como Microempreendedor Individual (MEI) alega falta de retorno financeiro como o principal motivo para a decisão.

Segundo Viviane, o número de MEIs vem crescendo ao longo dos últimos oito anos principalmente porque a pessoa que é demitida e não consegue um novo emprego necessita de uma fonte de renda para sobreviver, e passa a enxergar o MEI como alternativa.

No entanto, antes de trilhar esse caminho, algumas dicas são primordiais, segundo Viviane. O primeiro passo é planejar a estrutura do negócio.
“Muita gente diz que mesmo com a crise as pessoas não deixam de comer. Mas há quem está deixando de ir a restaurantes, por exemplo, por causa da recessão.

Outras pensam investir em salão de beleza, porém há tratamentos estéticos considerados supérfluos que estão sendo deixados de lado no momento em função da crise econômica. Então, tudo isso tem que ser levado em consideração na hora de legalizar a empresa”, aconselha.

As atividades como maior número de formalizações em Minas são as relacionadas ao comércio de vestuário e acessórios (68,422 mil) e cuidados com a beleza, cabeleireiro e manicure (66,214 mil), conforme levantamento do Portal do Empreendedor. Os números são cumulativos de 2009 até março deste ano.

Criatividade

Para o professor da área de Finanças do Ibmec Bruno Machado de Araújo, momentos de crise são ruins, mas também podem favorecer ideias criativas. “Há pessoas que trabalham, ganham bem e vivem na zona de conforto. Mas, nas adversidades, são empurradas para o empreendedorismo, ou seja, acabam descobrindo as verdadeiras vocações”, diz.

Araújo lembra que para ser MEI o faturamento não pode ultrapassar R$ 60 mil por ano. Também é vedada a participação em outra empresa como sócio ou titular. Entre as vantagens do sistema, ele cita a facilidade para abertura de conta bancária e obtenção de empréstimos.

Além disso, essas pessoas têm direitos a auxílios relacionados à maternidade, doenças e aposentadoria. Outro benefício é o baixo custo para o processo de formalização. O pagamento mensal fixo é de R$ 47,85 a R$ 52,85, em se tratando de comércio, indústria e serviços, e de R$ 51,85, no caso de prestação de serviços.

Como forma de esclarecer os interessados a se tornarem MEIs, o Sebrae Minas fará um mutirão até o próximo sábado. Analistas darão orientações gratuitas em diversos pontos de atendimento em BH e no interior do Estado

  

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