Desgaste no ninho tucano: denúncias envolvendo membros do PSDB levam a debandada de correligionários

Lucas Simões
18/01/2019 às 21:24.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:07
 (Waldemir Barreto/Agência Senado)

(Waldemir Barreto/Agência Senado)

Com uma série de dissidências de parlamentares insatisfeitos com posturas do partido e o desgaste da imagem da principal liderança tucana em Minas, o deputado federal eleito Aécio Neves, o PSDB começa a próxima legislatura enfraquecido. 

No Estado, o prefeito de Contagem, Alex de Freitas, e o deputado estadual João Vítor Xavier foram os últimos a romper com a legenda abertamente. Além deles, o secretário de Governo do Estado, Custódio Mattos, agora alinhado a Romeu Zema (Novo), também estaria se preparando para deixar o ninho tucano.

Os sinais de desgaste do PSDB teriam começado com o apoio ao ex-presidente Michel Temer (MDB), em 2016, durante e após o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Depois de Antonio Anastasia perder a corrida ao Palácio da Liberdade para o estreante Romeu Zema, o presidente do partido em Minas, deputado federal Domingos Sávio, relacionou o mal desempenho do partido em Minas ao apoio do PSDB a Temer, considerado um “erro gravíssimo” — o próprio deputado, no entanto, votou pelo arquivamento das denúncias contra o ex-presidente.

Além disso, o fato de Aécio continuar na legenda contribui para um quadro de desconforto na cúpula tucana. “Ninguém esteve na campanha com o Aécio. Nem o Anastasia esteve com ele. O mais sensato seria que ele se desligasse do partido para evitar esse constrangimento”, disse um cacique tucano que preferiu manter o anonimato.

Atualmente, o pedido de expulsão de Aécio, protocolado pelo deputado federal Wherles Fernandes da Rocha (PSDB-AC), está em análise pelo Departamento Jurídico do PSDB. Não há prazo para o processo terminar. Procurada, a assessoria de Aécio, eleito deputado federal na última eleição, não se manifestou.

Aécio Neves é alvo de nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Em dezembro de 2018, endereços da família dele em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro foram alvos de busca e apreensão na segunda fase da Operação Ross, da Polícia Federal, que investiga o suposto pagamento de propina de R$ 110 milhões pelo grupo JBS entre 2007 e 2014.

Motivado pela sucessão de denúncias, o deputado estadual João Vitor Xavier (PSDB) decidiu tomar uma postura independente frente à legenda. Desde dezembro do ano passado, abriu mão do cargo de secretário do PSDB e rompeu politicamente com os outros seis colegas de partido na Assembleia Legislativa. 

Porém, devido às restrições da janela partidária, deverá aguardar para negociar com outros partidos. “Continuarei filiado ao PSDB porque não tem opção neste momento, mas não podia mais exercer as funções no partido se não concordo com a postura do PSDB. Farei um mandato independente”, disse.
Na mesma linha, o prefeito de Contagem, Alex de Freitas, foi aconselhado por partidários próximos a abandonar o partido antes de uma “situação insustentável”. 

Segundo fontes próximas ao prefeito, a preocupação do ex-tucano, que anunciou a saída da legenda na terça-feira, seria as denúncias de corrupção que afetam caciques do PSDB. 

Apesar do suposto “clima amigável” entre o prefeito de Contagem e a direção do PSDB em Minas, Alex estaria incomodado, por exemplo, em ter que comparecer a eventos públicos ao lado dos tucanos — como aconteceu durante a campanha eleitoral. Procurado, o prefeito não quis se manifestar sobre a saída do PSDB.
Para o deputado estadual Domingos Sávio, presidente do PSDB em Minas, o partido é um dos únicos a “assumir a necessidade de uma autocrítica”. 
“O partido está passando por um processo de rever os valores mesmo, acho saudável essa autocrítica. Mas temos alguns dos mais importantes governos no país, o Estado mais populoso e economicamente mais importante (São Paulo). O PSDB está fazendo algo necessário, mas mantendo a própria estrutura”, disse.

 ALÉM DISSO

Membro dos quadros mais antigos do PSDB em Minas, o secretário de Estado de governo Custódio Mattos, agora alinhado à gestão de Romeu Zema (Novo), também estaria próximo de abandonar a legenda. Mattos foi prefeito de Juiz de Fora, na Zona da Mata, por dois mandatos (1993 a 1996 e 2009 a 2012), e cumpriu outros três como deputado federal pelo PSDB. Mesmo com a possibilidade de o tucano Luiz Humberto Carneiro (PSDB) assumir a posição de líder do governo Romeu Zema na Assembleia Legislativa, Mattos não estaria confortável em se manter no PSDB. A principal motivação do atual secretário de Governo seria as fortes críticas do governador à chamada “velha política”, incluindo nesse bolo a gestão de Aécio Neves, da qual Mattos participou como secretário de Desenvolvimento Social entre 2007 e 2008. Segundo fontes do governo, o secretário deve permanecer no partido até que Zema termine de organizar a reforma administrativa, que está sendo chefiada justamente por Renata Vilhena, ex-secretária de Planejamento e Gestão dos governos tucanos. Procurado, Custódio Mattos não quis comentar o assunto.

 
 

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