Dinheiro da CIA acabou financiando ações da Al Qaeda, diz "NYT"

Folhapress
14/03/2015 às 18:35.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:21

O governo do Afeganistão usou dinheiro entregue pela CIA, a agência de inteligência americana, para pagar o resgate de um diplomata afegão sequestrado pela rede terrorista Al Qaeda, afirma reportagem do jornal americano "The New York Times".   O pagamento foi feito na primavera de 2010: US$ 5 milhões em troca da libertação do diplomata Abdul Khaliq Farahi, refém da rede terrorista há dois anos.  Segundo a reportagem, que cita funcionários do governo afegão envolvidos no episódio, US$ 1 milhão do total do pagamento veio de um fundo secreto mantido pela CIA com entregas mensais de dinheiro ao Palácio Presidencial, em Cabul. Os outros US$ 4 milhões vieram principalmente do Paquistão, em um esforço para amenizar a tensa relação com o vizinho, do Irã e outros países do golfo Pérsico, que também alimentavam o fundo secreto do presidente afegão.   O dinheiro, afirma o "NYT", foi usado pela Al Qaeda para se reerguer depois de uma campanha intensa de ataques americanos com drones, avião não tripulados, contra os membros do alto escalão da rede terrorista no Paquistão.   O jornal americano diz ainda que o então líder da rede, Osama Bin Laden, desconfiava que os americanos soubessem do resgate e chegou a alertar seus aliados de que as notas poderiam estar envenenadas ou ter algum equipamento de rastreio.   Em cartas escritas para seus generais, Bin Laden pede que eles troquem o dinheiro duas vezes, em dois bancos diferentes, para evitar contaminação por veneno ou radiação.   Essas cartas foram apreendidas na operação americana de 2011 em uma casa em Abbottabad, no Paquistão, que acabou na morte do líder terrorista. Elas eram confidenciais até serem listadas como evidência no julgamento de Abid Naseer, membro do braço paquistanês da Al Qaeda condenado neste mês por apoio ao terrorismo e por conspiração para atentado a bomba em um shopping britânico.   Segundo o jornal americano, este foi apenas uma das várias situações em que os EUA financiaram sem saber a rede terrorista que combatem, principalmente por controle financeiro ruim destes fundos. O "NYT" destaca ainda que este caso é mais emblemático por envolver o pagamento de resgate aos terroristas, uma prática que os EUA rejeitam até mesmo em caso de sequestro de seus próprios cidadãos.   Atiyah Abd al-Rahman, gerente da Al Qaeda, afirma em uma das correspondências apreendidas que o dinheiro será usado para "fortalecer a organização, acumulando boas armas." O dinheiro, afirma o "NYT", também serviria para ajudar as famílias de militantes da rede aprisionados no Afeganistão. Outra parte seria entregue a Ayman al-Zawahri, que assumiria a liderança da Al Qaeda após a morte de Bin Laden.   A CIA continuou a alimentar o fundo secreto presidencial com sacolas que continham de centenas de milhares de dólares a mais de US$ 1 milhão. O dinheiro era usado, segundo o jornal, para comprar a lealdade de senhores da guerra, parlamentares e outros afegãos proeminentes, construindo assim uma rede de apoio em torno do presidente Hamid Karzai. Os dólares bancavam ainda despesas extraoficiais, como viagens diplomáticas clandestinas, e coisas que o "NYT" descreve como "mundanas", como aluguel das casas de funcionários do alto escalão.    Funcionários do governo afegão ouvidos pelo jornal americano dizem que os depósitos diminuíram, mas continuam, desde que Ashraf Ghani assumiu a Presidência.

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