Dois palestinos mortos em 'dia de ira' após anúncio de Trump sobre Jerusalém

AFP
08/12/2017 às 21:31.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:08
 (Mari Matsuri / AFP)

(Mari Matsuri / AFP)

Dois palestinos morreram nesta sexta-feira (8) em confrontos com as forças israelenses em um "dia de ira" que levou milhares de manifestantes às ruas após a decisão do presidente americano, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel. Os protestos mobilizaram milhares de pessoas na Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jerusalém, e em diferentes países muçulmanos, do Irã à Malásia. Em todas as partes, os manifestantes queimaram e pisotearam fotos do presidente americano, Donald Trump.

Na noite desta sexta, um foguete disparado da Faixa de Gaza atingiu a cidade de Sderot, no sul de Israel, no terceiro ataque deste tipo desde a decisão de Trump. Aviões israelenses bombardearam posições militares do movimento islâmico Hamas na Faixa de Gaza em resposta aos ataques, ferindo ao menos 14 pessoas, informou o ministério palestino da Saúde.

O Conselho de Segurança da ONU se reuniu nesta sexta-feira em Nova York. A ONU está "muito preocupada com os riscos de uma escalada da violência" na região, disse o coordenador especial da ONU para a Paz no Oriente Médio, Nikolai Mladenov, ante o Conselho de Segurança em um vídeo de Jerusalém.

Rejeitando "os sermões e lições", a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, repetiu que Trump "não tomou posição sobre os limites ou as fronteiras" e que o "status quo se mantém nos lugares santos". Reiterou também que os Estados Unidos continuam comprometidos com o processo de paz.

Virando as costas para décadas de diplomacia americana e internacional, Trump reconheceu unilateralmente na quarta-feira Jerusalém como a capital de Israel e anunciou a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para esta cidade. O secretário de Estado, Rex Tillerson, explicou que a mudança não será realizada antes de dois anos.

Dois mortos 

Em diferentes cidades da Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel, como em Belém, Hebron, Jericó e perto de Nablus, dezenas de manifestantes, muitos deles jovens com o rosto coberto por panos, jogaram pedras em soldados israelenses que responderam com disparos de balas de borracha e munições letais, assim como bombas de gás lacrimogêneo.

Na Faixa de Gaza, Mahmud al-Masti, de 30 anos, morreu alvo de disparos de soldados israelenses a leste de Khan Yunis quando participava de um protesto perto da barreira de segurança que fecha o enclave palestino, disse o Ministério da Saúde de Gaza.

Um segundo palestino, "Maher Atalah, 54 anos, faleceu no norte da Faixa de Gaza, após ser ferido durante os choques da tarde", revelou Ashraf al Qudra, porta-voz do ministério da saúde. 

Outro palestino, de cerca de 20 anos, atingido por uma bala na cabeça, se encontra em estado grave. As autoridades palestinas falam em dezenas de feridos por balas de borracha ou por munição letal.

Em Jerusalém houve violentas confusões entre manifestantes e a Polícia israelense, dentro e ao redor da Cidade Velha.

Centenas de policiais 

Israel mobilizou centenas de policiais e soldados em Jerusalém e na Cisjordânia. Jerusalém e a Esplanada das Mesquitas, terceiro local santo do Islã, também venerado pelos judeus como o Monte do Templo, cristalizam as tensões entre israelenses e palestinos.

Israel estendeu seu controle à parte oriental de Jerusalém em 1967 e a anexou para depois proclamar toda a cidade como sua capital, o que a comunidade internacional nunca reconheceu.

Os palestinos querem fazer de Jerusalém Oriental a capital do Estado ao qual aspiram. Os dirigentes palestinos consideram que a decisão americana condiciona as negociações sobre o estatuto de Jerusalém, uma das questões mais delicadas na busca de uma solução ao conflito entre israelenses e palestinos.

Segundo eles, aquele que assumiu o cargo proclamando sua vontade de alcançar um acordo diplomático para a paz não pode mais assumir o papel histórico dos Estados Unidos como mediador no processo de paz.

'Jerusalém é a capital da Palestina'

"Pouco importa o que acontece", disse Omar, de 20 anos, ao se dirigir à oração na Esplanada das Mesquitas. "Todos sabemos que Jerusalém é a capital da Palestina e não de Israel. Israel é uma potência ocupante".

Israel, que proclama que Jerusalém é sua capital "eterna e indivisível", agradeceu sem demora as declarações de Trump, mas a nível internacional continua provocando rechaço.

Desde a criação de Israel, em 1948, a comunidade internacional nunca reconheceu Jerusalém como capital e sempre considerou que o "estatuto final" da Cidade Santa deveria ser negociado.

O grande imã de Al Azhar, influente instituição do Islã sunita estabelecido no Cairo, cancelou um encontro previsto com o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, em uma visita que ele deve fazer ao Egito em 20 de dezembro.

Um encarregado do Fatah, o partido palestino mais importante, afirmou que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, não receberá Pence em sua próxima visita à região.

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