Dono do grupo Super Nosso fala sobre o setor e revela estratégia de crescimento

Amália Goulart
amaliagoulart@hojeemdia.com.br
24/09/2018 às 06:45.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:36
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Euler Fuad Nejm começou a trabalhar desde cedo. Aos oito anos acompanhava o pai, comerciante, no armazém da família. Aos 15, já com uma veia empreendedora, foi emancipado para tornar-se sócio do negócio. O pequeno armazém hoje transformou-se no Grupo Super Nosso, gigante do setor com forte atuação em Minas Gerais. O negócio hoje conta com a participação dos dois filhos de Euler, que trilham os caminhos do pai.

Com faturamento anual de R$ 2,15 bilhões, Euler diz que, nos 48 anos de lida no ramo varejista, nunca viu crise deste porte. E, mesmo assim, o Grupo pretende crescer 10% neste ano. O segredo? Encontrar na dificuldade novas oportunidades. O Grupo inaugura lojas descentralizadas e investe ainda no e-commerce. 

Cortês e antenado nos rumos econômicos do país, o empresário diz que gerar emprego é uma meta. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Euler revela os esforços do setor para manter preços, com alta do dólar e tabelamento do frete.

Como o senhor passou alheio à crise?
Ninguém sai imune à crise. Temos trabalhado redobradamente e, graças a Deus, as medidas que temos efetivado responderam. Trabalhamos com criatividade, muita luta e dedicação. Assim respondemos às dificuldades. Todas as empresas estão passando por adaptações, ajustes de custos e isso é inerente ao nosso setor. Diante das dificuldades é que conseguimos enxergar as oportunidades. E com inovação e gestão dinâmica e atuante, temos conseguido superar, apesar de toda a dificuldade.

Qual o impacto do dólar no setor, uma vez que ele utiliza de muitos produtos importados?
O setor varejista e atacadista, do ramo alimentar, sofreu até deflação de preço de um ano, um ano e meio para cá. Agora, com a alta do dólar e entressafra, deve haver uma recuperação dos preços, dos alimentos. O setor do canal alimentar, as multinacionais, devem reajustar também. Não só em função de matéria-prima, mas ao câmbio também. 

Quem tem estoque segura um pouco?
Trabalhamos sempre com estoque regulador, estoque de segurança. Mas estoque também é custo. Então, não fazemos estoque especulativo, pensando em ganho. Até porque tivemos prejuízo naquilo que mantemos de estoque devido à deflação que houve. Mas o estoque é só para confortarmos em relação ao abastecimento. As multinacionais do setor já estão incomodadas com as tabelas de preços e são unânimes em apresentar reajuste de preço, apesar de o mercado ter dificuldade de absorver essa alta. Por isso, o setor procura barrar esses aumentos porque é difícil repassar, devido a esses problemas ocasionados pela crise: desemprego, defasagem salarial, perda de poder de compra. Então, fazemos uma guerra de esforços para segurar.

 

"Tenho candidato, porém, nesse processo de discussão, já mudei três vezes de candidato", disse Euler.

Tem ainda o tabelamento do frete. Teve impacto?
A greve dos caminhoneiros impactou muito o setor. Naquela ocasião, devido aos estoques confortáveis que carregamos, consegui suprir a demanda, com algumas exceções localizadas. A greve em si impactou esses meses subsequentes. O estabelecimento de tabelas de frete, uma das reivindicações dos caminhoneiros, tem sido um dificultador para a manutenção das tabelas das indústrias. Tudo influi no preço.

Chega uma hora que não dá para segurar...
Chega uma hora que não tem jeito. E é um pouco de estagflação. Ou seja, é uma estagnação econômica e inflação. É um momento ruim. Aumenta preço e o consumo fica restrito ainda.

O setor notou uma mudança de hábitos do consumidor, com a crise?
Sim. O consumidor tem trocado as marcas, principalmente. Eles estão mais propensos à experimentação de marcas mais em conta. Mas, assim que melhora, eles voltam para as marcas líderes. O que percebo é que no início do mês as marcas líderes, quando todos estão com dinheiro no bolso devido ao pagamento dos salários, têm uma saída forte. No final do mês, as marcas menos tradicionais, ou menos importantes, começam a reagir. Por isso, temos um portfólio diversificado para atender a todas as classes. 

O senhor aposta muito na internet também. Tem dado resultado?
A internet tem sido uma aposta nossa nos últimos anos. Temos pagado a conta ultimamente porque a operação é deficitária. O custo logístico é um desafio e a logística também. O consumidor às vezes fica na expectativa de receber um produto para ser consumido de imediato. Pode ser que você entregue um produto que está com perecividade curta, então é um desafio, é um aprendizado para nós essa experiência. Mas é um caminho sem volta. Estamos felizes com o e-commerce, tanto do Super Nosso, com o Super Nosso em Casa - ele tem crescido a dois dígitos desde que foi implantado, e também com o Apoio Entrega, que lançamos há pouco tempo. O Super Nosso em Casa tem abrangência somente na Grande BH. O Apoio Entrega tem abrangência em todo o Estado de Minas, mas não trabalhamos com produtos perecíveis no Apoio. Só produtos industrializados e alimentícios de modo geral. 

Quanto o senhor faturou ano passado?
O Grupo Super Nosso, que abrange as lojas Super Nosso supermercados, Momento Super Nosso, e-commerce (Super Nosso em Casa), o Apoio e a DEC Minas, a distribuidora, além da indústria (temos uma indústria própria) faturou R$ 2,15 bilhões. Trabalhamos com expectativa de o Grupo crescer, neste ano, 10%. A expectativa é arrojada e desafiadora. Estamos com crescimento nominal de 8%, em relação ao ano passado. É um número bom se olharmos toda essa crise. E 12% se consideramos a inauguração de lojas.

Irão abrir mais lojas?
Este ano abrimos duas Super Nosso e dois Apoio Mineiro. Já abrimos. E vamos abrir agora um Super Nosso no bairro Cidade Nova. Este ano chegará ao fim com cinco novas lojas. No ano que vem, temos sete inaugurações previstas, entre Apoio e Super Nosso. 

Temos visto um movimento empresarial forte também na política. É um setor que tem sofrido com medidas econômicas. O que o senhor espera do próximo presidente?
Percebemos que a política está fazendo, cada vez mais, parte da vida do brasileiro. O brasileiro era alheio à política, muitas vezes apolítico, apartidário. E agora tem sido um assunto geral. Em todos os meios, conversas, reuniões se fala de política. Acho que agora o brasileiro absorveu na pauta isso. É positivo. É um momento importante para o Brasil. Para nós também, o empresariado, temos que trabalhar em cima de perspectivas. O mercado reage assim. A perspectiva sempre de entrada de um novo presidente, de novos dirigentes políticos, é positiva. Porque vai trazer um presidente eleito pela maioria. Então, com poderes para tomar as medidas necessárias para a recondução da economia, do país. 

O senhor tem candidato?
Tenho candidato, porém, nesse processo de discussão, já mudei três vezes de candidato. Hoje eu tenho candidato. Mas ainda não me defini. É um candidato de centro-direita. Sem citar nomes, vemos a boa intenção em alguns candidatos. Dá vontade de votar em muitos. Inclusive na esquerda. Quem sabe se fizessem uma união de esforços para o bem nacional...
Pode ser utópico, mas temos que apoiar o que a maioria escolher e tomara que seja uma escolha bem feita para o futuro do país e dos nossos filhos. O Brasil precisa de sucessivas boas administrações para recuperar e não perder o que foi criado, especialmente em termos de democracia, nação, economia. Muita coisa foi criada, tem muito aprendizado. Nesses tantos episódios, temos que olhar sempre pelo lado positivo, do aprendizado, de reconstrução e fortalecimento das instituições. 

Qual a principal reivindicação do setor?
Como empregador e empreendedor, esperamos que a economia possa se movimentar mais. Fico feliz quando gero empregos. Para mim, pessoalmente, fico muito satisfeito. É como se fosse uma missão. Fico muito empolgado com a possibilidade de abertura de lojas, de criação de empregos. Tenho um certo desprendimento das coisas. Gosto muito de produzir. Fico feliz em ver uma retomada mais forte da economia, para podermos reinvestir, criar empregos e gerar renda, impostos.

E as reformas?
Com relação às reformas, o Brasil precisa de várias. Temos a política, tributária, da previdência, que é ruim de mexer, mas necessária. A simplificação de impostos é necessária. A redução de impostos, em um primeiro momento, será frustrada. Não é possível. Um gestor precisa das receitas porque ele já tem despesas recorrentes. Então, ele tem que fazer um trabalho de redução das despesas para futuramente reduzir uma carga tributária. Tem que haver uma simplificação tributária porque é uma complexidade de impostos muito grande. Meu departamento contábil é muito grande, em comparação com empresários do mesmo setor de outros países. As pessoas têm uma pessoa no setor enquanto que tenho que ter um contingente. Atuo também em outro estado, então, é muito complexo. 

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