A gestão da travessia

06/08/2012 às 09:08.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:12
 (Arquivo)

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A universitária Daniela Priscila Alves, de 18 anos, de Sabará, na Grande BH, por pouco não precisou abandonar a faculdade de engenharia química. O pai, que arcava com as mensalidades, sofreu um acidente e foi obrigado a se afastar do trabalho. Daniela, filha única e sem emprego, acabou ficando inadimplente. Graças ao incentivo de R$ 3 mil, recebido por meio do programa "Poupança Jovem", Daniela pode honrar oscompromissos atrasados e seguir com os estudos. Aliviada, conta que o dinheiro "veio em boa hora".

Para Daniela, a primeira da família a ingressar numa faculdade, além do benefício financeiro, o programa a deixou mais preparada para concorrer a uma vaga no mercado de trabalho. "Foram muitas palestras de incentivo aos estudos e sobre como conquistar o primeiro emprego", destaca a jovem. Daniela faz parte da primeira turma de formandos do Poupança Jovem no Estado. Mais de 18.600 estudantes já receberam a bolsa de R$ 3 mil do programa, desde 2009. Até hoje, 98.038 alunos dos nove municípios atendidos (Ribeirão das Neves, Esmeraldas, Ibirité, Governador Valadares, Sabará, Montes Claros, Teófilo Otoni, Juiz de Fora e Pouso Alegre foram contemplados). Coordenado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), o Processo Estratégico Poupança Jovem é voltado para alunos do ensino médio matriculados em escolas estaduais de municípios com elevados índices de evasão escolar e vulnerabilidade social.   DIREITOS E DEVERES   Para ter direito à poupança, o aluno não pode matar aulas, além de concluir o ensino médio e participar das atividades de formação cidadã, escolar, cultural e profissional. Ou seja, além de dar um empurrãozinho para a emancipação de quem conquista o diploma, o programa ainda previne a evasão escolar. Hoje, Daniela está a procura de um estágio remunerado e afirma que a experiência ficará para a vida toda. "A gente aprende a valorizar mais aquilo que lutamos para ter", diz Daniela.   Essa "travessia" de pessoas como ela, de uma realidade de vulnerabilidade social para um mercado de trabalho com perspectivas de crescimento rege os programas prioritários do governo estadual, entre eles o justamente intitulado "Travessia". Criado em 2008, o Travessia baseia-se em ações de curto, médio e longo prazo, articuladas em conjunto pelas secretarias estaduais e órgãos do Estado. A convergência de ações entre as secretarias tem por objetivo potencializar os recursos públicos, evitando-se gastos desnecessários ou duplicados na mesma área. Quem está entre os cerca de 2 milhões de beneficiados direta ou indiretamente pelo programa desde a sua criação não tem ideia do aparato montado para tirar o Travessia do papel.   Essa é a função do comitê integrado por doze secretários de Estado, que discute a destinação dos investimentos nos municípios apontados com o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).    RADIOGRAFIA   Identificados os municípios, agentes locais capacitados pelo governo estadual vão a campo para desempenhar uma espécie de radiografia da pobreza, por meio do projeto "Porta a Porta", que realiza, nos domicílios, questionários baseados nos critérios do PNUD. Prontos, os questionários são lidos por um sistema que automaticamente revela as privações de cada família pesquisada, como saneamento básico, educação e saúde. Feito o diagnóstico, cada secretaria planeja o investimento de parte do orçamento de acordo com a privação encontrada. Se um município apresenta privações em saúde e educação, por exemplo, as Secretarias Estaduais de Saúde e Educação estabelecem uma meta conjunta de investimento. Cada secretaria fica responsável pelo monitoramento do seu próprio recurso, configurando uma parceria entre os governos do Estado e dos municípios. O diferencial do Travessia é a aposta técnica em se trabalhar também a cidade. As reuniões de avaliação dentro do Travessia são contínuas: a gerência do programa se reúne mensalmente com gerentes designados por cada secretaria. De dois em dois meses, a reunião em que se acompanha a execução do orçamento é feita com a gerência do programa, o comitê de secretários e a Sedese, além da Copasa, Copanor e Seplag.   No fim do ano, resultados são apresentados, e, de dois em dois anos, é realizada uma amostragem que afere se determinado município finalmente deixou a situação de privação. Um indivíduo saudável que busca inclusão tem que ter as privações sanadas e não quer ser tutelado. Entre as ações "concretas" do Travessia estão a entrega de casas populares, a reforma de escolas, construção de unidades básicas de saúde e farmácias. O programa do porte do Travessia já canalizou investimentos de R$ 925 milhões e em 2012 deixa de focar em apenas uma região e começa a se expandir por todo o Estado, atingindo 84 municípios. 

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