Ata do Copom mostra BC de olho na demanda interna

Célia Froufe e Eduardo Cucolo
06/09/2012 às 09:54.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:03

O Comitê de Política Monetária (Copom) avaliou, por meio da ata da reunião realizada na semana passada, na qual o Banco Central (BC) reduziu a Selic para 7,50% ao ano, que a demanda doméstica tende a se apresentar robusta, especialmente o consumo das famílias. Isso se dará, diz o documento, em grande parte devido aos efeitos de fatores de estímulo, como o crescimento da renda e a expansão moderada do crédito.

"Esse ambiente tende a prevalecer neste e nos próximos semestres, quando a demanda doméstica será impactada pelos efeitos das ações de política recentemente implementadas, que, de resto, são defasados e cumulativos", trouxe o documento. O colegiado ressaltou que, além desses efeitos, os programas de concessão de serviços públicos e a gradual recuperação da confiança criam boas perspectivas para o investimento neste e nos próximos semestres.

Na ata, os diretores do BC ponderaram que iniciativas recentes apontam um "cenário de neutralidade" do balanço do setor público. Ao mesmo tempo, o comitê avaliou que o "frágil cenário internacional" se apresenta como importante fator de contenção da demanda agregada. "Esses elementos e os desenvolvimentos no âmbito parafiscal são partes importantes do contexto no qual decisões futuras de política monetária serão tomadas, com vistas a assegurar a convergência tempestiva da inflação para a trajetória de metas."

O Copom salientou também que o recuo das taxas de juros em geral e, em particular, da taxa neutra foi determinado por "mudanças estruturais significativas" na economia brasileira. "Apoiam essa visão, entre outros fatores, a redução dos prêmios de risco, consequência direta do cumprimento da meta de inflação pelo oitavo ano consecutivo, da estabilidade macroeconômica e de avanços institucionais", enumerou.

Além disso, o processo de redução dos juros foi favorecido, conforme o colegiado, por mudanças na estrutura dos mercados financeiros e de capitais, pelo aprofundamento do mercado de crédito e pela geração de superávits primários "consistentes" com a manutenção de tendência decrescente para a relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB).

Para o comitê, todas essas transformações caracterizam-se por elevado grau de perenidade e contribuem para que a economia brasileira hoje apresente sólidos indicadores de solvência e de liquidez, ainda que reversões pontuais e temporárias possam ocorrer em virtude dos próprios ciclos econômicos.

O documento também explica que o aumento na oferta de poupança externa e a redução no seu custo de captação têm contribuído para a redução das taxas de juros domésticas, inclusive da taxa neutra. O aumento da oferta de poupança e a redução do custo são em grande parte, na avaliação do comitê, desenvolvimentos de caráter permanente.

Cenário externo

O cenário internacional possui um viés inflacionário no curto prazo, mas se mostra desinflacionário no médio prazo, segundo avaliação dos diretores do BC, expressa na ata. "Desde a última reunião, surgiram evidências de pressões localizadas de preços, decorrentes de um choque desfavorável de oferta no segmento de commodities agrícolas", pontuaram. A análise do BC é a de que esse choque tende a ser menos intenso e menos duradouro do que o ocorrido em 2010/2011, bem como tende a se reverter no médio prazo.

O colegiado também considerou que, desde a reunião anterior, os riscos para a estabilidade financeira global permaneceram elevados. Em particular, os diretores do BC citaram os riscos decorrentes do processo de desalavancagem em curso nos principais blocos econômicos. "O Comitê entende que, de modo geral, mantiveram-se inalteradas as perspectivas de atividade global moderada, e pouco se alteraram as restrições às quais estavam expostas diversas economias maduras."

O diretores ressaltaram também que, nessas economias, o espaço para utilização de política monetária parece limitado e prevalece um cenário de restrição fiscal neste e nos próximos anos. "Além disso, em importantes economias emergentes, apesar da resiliência da demanda doméstica, o ritmo de atividade permaneceu moderado", consideraram.
http://www.estadao.com.br

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