Aumenta o número de estrangeiros à procura de emprego em Minas

Raul Mariano - Hoje em Dia
30/03/2015 às 08:04.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:26
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Minas viu crescer em 15%, de 2013 para 2014, o número de estrangeiros que buscam aqui um emprego – ainda que isso signifique deixar a família e viver a milhares de quilômetros da terra natal. Hoje, o Estado só perde para Rio e São Paulo na concessão de autorizações de trabalho temporário e permanente para forasteiros.

Parte deles é recrutada por multinacionais que precisam de funcionários especializados em equipamentos importados, mas a possibilidade de ter residência humanitária também aumentou a oferta de mão de obra vinda de outros países, sobretudo na área operacional.

Líderes no número de pedidos de visto ou residência permanente aceitos no Brasil em 2014, os haitianos formam uma das comunidades de imigrantes de destaque em Belo Horizonte. Os primeiros chegaram em 2011, e a maioria encontrou ocupação na construção civil, em frigoríficos e na área mecânica. Hoje, são mais de 3 mil, estima o Grupo de Estudo de Distribuição Espacial da População (Gedep) da PUC Minas.

Roseme Dazulme é um deles. Mudou-se para BH depois que um terremoto devastou a capital haitiana, Porto Príncipe, em 2010, fazendo 200 mil vítimas e reduzindo todas as perspectivas de crescimento econômico locais.

Aos 35 anos e atuando como auxiliar de mecânico industrial, Roseme tem renda bruta de R$ 900 por mês. Mora de aluguel em Contagem e sustenta a mulher, enfermeira, que segue à caça de emprego. Também ajuda os parentes que ficaram para trás. “Mas, além de ganhar pouco, tenho dificuldade porque a moeda do Haiti é o dólar. Então, o dinheiro fica ainda menor quando fazemos a conversão”.


ROSEME - Emprego em BH ajuda a custear despesas de parentes que continuam no Haiti (Foto: Ricardo Bastos/Hoje em Dia)

À PRÓPRIA SORTE

Segundo a Coordenação Nacional de Imigração do Ministério do Trabalho e Emprego, a maior parte dos estrangeiros que chegou a Minas em 2014 estava na condição de artista ou desportista, sem vínculo empregatício. Foram 686 autorizações naquele ano, contra 435 em 2013. Um crescimento de 63%.

As oportunidades em solo brasileiro atraíram a musicista chilena Cláudia Manzo, há quatro anos. “Trabalho uma média de sete horas por dia como professora de canto, fora os ensaios e a preparação vocal de outras artistas. O salário poderia ser melhor, como para a maioria dos professores, mas ainda vejo possibilidades de crescimento porque o Brasil é um país imenso”.

Para o professor de Relações Internacionais Reginaldo Nogueira, do Ibmec, o principal chamariz para estrangeiros está ligado ao alto nível de emprego no Brasil nos últimos cinco anos. Apesar de os números oficiais sugerirem uma redução nas autorizações para entrada de estrangeiros, é possível que o volume de imigrantes tenha até aumentado, devido à desburocratização do processo. Hoje, é possível pedir a permissão ainda na terra natal.

“O mercado brasileiro remunera bem pessoas com qualificação. No entanto, receber imigrantes com menor formação também é positivo, porque traz produtividade. Apesar da recessão no biênio 2015-2016, ao longo prazo nossa economia continua sendo atraente”, diz o professor.

Reconhecimento profissional lá fora seduz brasileiros

Em um caminho inverso, brasileiros também fazem as malas para tentar a sorte grande em outros cantos do mundo. Adquirir valorização profissional, ganhar fluência em outro idioma e ampliar o conhecimento na área de atuação são as principais vantagens.

Um dos destinos mais cobiçados é o Canadá. Conhecido pelas políticas multiculturais e a receptividade com imigrantes, o país tem amplo mercado para profissionais especializados. Não por acaso, é apontado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como detentor do maior número de profissionais com pós-graduação do mundo.

Levantamento da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) revela que mais de 3 mil empresas dos dois países realizam operações comerciais atualmente. Em 2014, as exportações brasileiras para território canadense ultrapassaram US$ 2,3 bilhões.

O cenário é fértil principalmente em agrone-gócio, mineração, infraestrutura e tecnologia, explica o diretor de Relações Institucionais da CCBC, Paulo de Castro Reis.

“Além disso, o Canadá tem o melhor crescimento de Produto Interno Bruto (PIB) do G-7, com média de 1,2% entre 2008 e 2012, que foram anos de recessão”.

O analista de sistemas Fabrício Barreto e a jornalista Nilian Ferreira chegaram ao país em maio de 2014. Ainda se adaptam à província do Quebec, mas já descobriram que a valorização profissional por lá é incomparável. “Faríamos tudo de novo”, afirma Nilian.

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