Bem além da inflação: na pandemia, alimentos passaram a custar até o dobro do que seria pelo IPCA

André Santos e Evaldo Magalhães
andre.vieira@hojeemdia.com.br
21/06/2021 às 20:04.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:13
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Não é novidade: o preço dos alimentos segue em disparada no país, desde o ano passado. Os motivos para sucessivas altas, que em alguns casos chegam a mais de 120% na capital, caso do óleo de cozinha, são muitos: pandemia, desvalorização do Real, aumento do custo de insumos e a preferência dos produtores por exportar, reduzindo oferta interna de alguns produtos.

Tal elevação exagerada de preços foi comprovada por pesquisa, feita em supermercados de BH e divulgada ontem pelo site Mercado Mineiro (MM). O estudo comparou o que era cobrado por uma série de alimentos em janeiro de 2020, antes da crise sanitária, e junho deste ano, chegando a resultados assustadores. O curioso é que, se os valores médios tivessem seguido a variação do Índice Preços ao Consumidor (IPCA), medido pelo IBGE, de 7,88% em 15 meses, os preços encontrados pelos consumidores agora seriam muito mais baixos (veja a arte).

Um dos exemplos é o óleo de soja de 900 ml, que custaria R$ 3,79 em vez dos atuais R$ 7,81 em média nos supermercados da capital – em janeiro de 2020, o item saía por R$ 3,51. Já o pacote de 5 quilos de açúcar cristal, que 15 meses atrás custava R$ 8,23, hoje sai por R$ 15,19 – alta de 84%. Se o valor fosse corrigido pela inflação, seria R$ 8,88. No caso do quilo do feijão carioca, atualmente a R$ 8,93, com alta de 77% ante o preço de janeiro de 2020 (R$ 5,40), o consumidor pagaria R$ 5,44. 

O saco de Arroz branco de 5 kg era vendido por R$ 13,80 em janeiro de 2020 e, hoje, por R$ 23,93 em média – elevação de 73%. Com o IPCA, custaria R$ 14,89. A mudança seria impactante também no pente de ovos de 30 unidades, que sai por R$ 13,87 em média, ante R$ 8,98 no início do ano passado (+54%), e custaria R$ 9,69 se a variação seguisse a inflação. 

Vai continuar

Para o economista e diretor do MM, Feliciano Abreu, a alta dos preços tende a ser mantida nos próximos dias e meses, em razão da pressão dos custos de produção – como energia e combustíveis – e da demanda externa pelos produtos. “Para os produtores de muitos desses itens, ainda está melhor exportar do que abastecer o mercado interno. Com isso, ainda é difícil determinar uma freada nesses aumentos”, destaca Abreu.

Carnes

Outro item importante da mesa dos mineiros que deve seguir nas alturas, mas que não consta da pesquisa nos supermercados, são as carnes – bovina, suína e de frango. De janeiro a maio, segundo levantamento anterior do MM em açougues da capital, tais produtos subiram, em média, 5,86% desde janeiro deste ano, acima dos 3,22% da inflação no período. 

“Somente os custos com a ração animal consomem 70% do que é gasto com os rebanhos. E ainda há outros itens como embalagens, combustíveis, que subiram. Não há como não repassar os custos da carne”

E, daqui para a frente, eles ainda devem sofrer novos reajustes, por causa da disparada nos preços dos insumos da pecuária – em especial, os da ração dos rebanhos. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que uma saca de milho de 60 kg, vendida no Triângulo por R$ 55 em junho de 2020, atualmente não sai por menos de R$ 100. Já o farelo de soja, também essencial para o gado, subiu 70%. Segundo Luís Rua, diretor da ABPA, mesmo com a nova safra de grãos, será difícil conter repasses ao consumidor. 
 

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