Brasil perde R$ 59 bi por ano com má qualidade das estradas

Bruno Moreno - Hoje em Dia
05/11/2015 às 06:42.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:20

Em cinco anos, o Brasil poderia dar um salto de qualidade nas rodovias do país se fizesse uma escolha relativamente simples: investir em uma malha de melhor qualidade para deixar de gastar recursos públicos com as consequências indesejáveis da qualidade ruim das estradas.

A conta é fácil de fazer. De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), são necessários R$ 294 bilhões para que o país tenha um sistema de transporte rodoviário de alta qualidade. Esse dinheiro seria utilizado em adequações, duplicações e construção de rodovias, além de recuperação do pavimento e asfaltamento das que ainda são de terra.

Ao mesmo tempo, a perda anual com acidentes, incluindo gastos com hospitais e seguros, além da perda da produtividade, é de aproximadamente R$ 59 bilhões. Ou seja, se esse dinheiro fosse direcionado para a melhoria do sistema das rodovias, o valor total seria alcançado em cinco anos.

Os dados constam na Pesquisa CNT Rodovias 2015, divulgada nessa quarta (4). E revelam que as estradas brasileiras apresentaram sensível melhora nos últimos anos, mas o avanço ainda é tímido.

“O que o governo gasta para dar suporte aos acidentes, se fosse investido em infraestrutura, daria economia. Mas investir em rodovia não é automático. É preciso um prazo”, pondera o diretor da CNT, Vander Costa.

Para Minas Gerais, a CNT estima que são necessários R$ 7,15 bilhões em investimentos para a reconstrução, restauração e a manutenção dos trechos de rodovias danificadas.

A pesquisa aponta que os melhores resultados foram encontrados nas rodovias concedidas à iniciativa privada (veja infográfico), principalmente em São Paulo. O outro fator que contribuiu para a melhora dos índices foi o aumento do investimento em sinalização.

Fluxo

Na opinião de Vander Costa, é preciso que mais trechos sejam concedidos, mas não todos. “Não seria o caso de conceder todas, porque muitas rodovias não têm tráfego para sustentar o negócio. Mas conceder as principais, onde tem fluxo, é a forma que tem de reduzir o investimento do Estado”.

De acordo com Costa, o orçamento para rodovias do governo federal em 2015 é de aproximadamente R$ 10 bilhões e, até setembro, faltando três meses para acabar o ano, apenas R$ 4,8 bilhões haviam sido autorizados.

Nos últimos anos, essa situação também ocorreu, mas desde 2011 tem piorado. De acordo com o relatório da CNT, em 2014, quase um quarto do valor previsto para investimento do governo federal nas rodovias não foi utilizado, e foi devolvido ao Tesouro.

CNT aposta em capital internacional para melhorar rodovias

Enquanto o Brasil passa por uma crise econômica, fiscal e política, a solução para conseguir recursos para investir em infraestrutura pode estar no capital externo. A aposta é do diretor da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Vander Costa.

“Capital no mundo tem, nós sabemos disso. Tem na Europa, no Oriente Médio, na China. O que falta é o Brasil dar segurança jurídica necessária de que os contratos serão cumpridos. É preciso que os contratos sejam de longo prazo. E também tem que ter a facilidade de licenças ambientais. Não defendemos que não haja regras para o meio ambiente. O que propomos é que o impacto ao meio ambiental seja o menor possível”, afirmou.

Vander Costa cita como vantagem do Brasil a alta cotação do dólar e enfatiza que a melhoria do sistema rodoviário incrementa a economia.

Comparativamente com outros países de tamanho continental, a malha rodoviária brasileira asfaltada é muito pequena – 12%, de acordo com a pesquisa da CNT.

No país, a densidade de rodovias pavimentadas para cada 1.000 km² é de 25, muito atrás dos Estados Unidos (438,1), China (359,9), Rússia (54,3), Austrália (46) e Canadá (41,6).

De acordo com relatório do Fórum Econômico Mundial, divulgado em setembro deste ano, a qualidade das rodovias brasileiras está muito baixa, ocupando o 121º lugar, dentre 140 países. O Brasil aparece atrás vizinhos latino-americanos como Chile (35ª), Uruguai (95ª), Argentina (108ª), Bolívia (109ª), Peru (111ª).

Em junho último, a presidente Dilma Rousseff anunciou um plano de logística no qual seriam investidos R$ 66 bilhões em rodovias no país, incluindo concessões e recursos do governo federal.

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