Comida de rua vira negócio sério nos food trucks

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
25/07/2014 às 10:10.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:31
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Uma nova e saborosa onda aportou em Belo Horizonte. Tendência da gastronomia mundial, principalmente em países como Estados Unidos e Japão, os food trucks chegam devagarzinho às ruas da capital mineira, mas já conquistam o estômago da clientela mais exigente. Nada de cachorro quente ou churrasquinho. Esses veículos adaptados que se transformam em mini restaurantes de esquina estão oferecendo aos fregueses iguarias sofisticadas, preparadas com estilo e ingredientes nobres.   O cardápio itinerante oferece desde crepe de chocolate belga e tacos mexicanos com pico de galo (refogado de vegetais) a massa fresca ao molho de ragú de cordeiro. Se a opção for mais light, canelone de tofu ou tropeiro vegetariano com torresmo de trigo.   Sem ter que arcar com o custo do aluguel, o negócio, apontam os empresários do ramo, oferece infinitas e deliciosas possibilidades, com a oportunidade do consumidor comer bem e pagar pouco.   O casal Débora Amaral Gontijo e Luciano Neri colocou o seu Crepioca na rua há apenas 20 dias. Da cozinha da caminhonete S10, saem iguarias como crepe ou tapioca mexicanos, recheado com carne moída, molho picante, catupiry e tomate picado. Ou o Cinco Estrelas Confit, preparado com carne seca e cebola ao vinho tinto e vinagre balsâmico.   O segredo do sucesso, diz Luciana, são os ingredientes requintados. “O Ganache Loko, um dos nossos crepes doces, é feito com creme de chocolate belga e frutas frescas. Primamos pela qualidade dos produtos”, diz.   A cada 10 tapiocas, Luciana e o marido vendem um crepe, que ele aprendeu a fazer com um chef francês. A iguaria típica da Bahia custa entre R$ 7 e R$ 10, e a francesa, entre R$ 9 e R$ 14. A opção borda de parmesão sai por mais R$ 3. Enquanto espera pelo pedido, o cliente pode navegar pela Internet, utilizando a rede wi fi do veículo.     Investimento   O casal investiu R$ 80 mil na adaptação do veículo. “Oferecemos opções às pessoas que saem de casa e querem fugir da dupla espeto ou hot dog”, diz Luciana.   O retorno do investimento virá mais rápido do que imaginaram. Há dias em que mais de 150 unidades são vendidas. “Nossa meta era 100 unidades. Está melhor do que a encomenda”, comemora.   Tacos mexicanos são a especialidade do Pac Bull Food Service, de Robert Alexandre Freitas Ferreira. Ex-funcionário de uma empresa de automação de restaurantes e amante das panelas, ele tinha o sonho de abrir o próprio negócio.   Chegou a procurar um ponto, mas desistiu em função dos preços dos aluguéis. Foi então que teve a ideia do food truck.  “Primeiro escolhi o Centro, mas ninguém comprava tacos por lá. Aí resolvi ir pra zona sul, em frente à Universidade Fumec. O produto caiu no gosto dos estudantes”, afirma.   O taco maior custa R$ 7,50 e o menor, R$ 6. Na cozinha do restaurante ambulante são elaborados cerca de 80 unidades por dia.   “Estudei receitas mexicanas até chegar na ideal”, conta ele, que investiu R$ 70 mil no empreendimento. Os sabores são carne de boi, frango, misto ou light. .     Atividade não possui regulação específica   Na falta de uma lei específica para o funcionamento dos food trucks em Belo Horizonte, eles ainda são regulamentados pelo Código de Posturas. No texto, fica determinado que os vasilhames e utensílios utilizados sejam fiscalizados e aprovados pela vigilância sanitária municipal, dando mais segurança ao consumidor.   Além disso, as pessoas que trabalham nos restaurantes ambulantes devem usar uniformes limpos e de cores claras.   Para que não haja problemas com os órgãos de fiscalização, o responsável pelo food truck deve portar o licenciamento sempre atualizado. O veículo deve, ainda, estar corretamente emplacado e possuir recipiente para coleta de resíduos e extintor de incêndio.   A localização do restaurante sobre rodas também é prevista no Código de Posturas da cidade. Segundo o texto, a venda de alimentos nesses veículos não pode ser realizada a menos de 50 metros de lanchonetes, bares, restaurantes e similares.   É proibido vender bebida alcoólica, refresco, caldo de cana, café, carnes e derivados, sorvete de fabricação instantânea e fruta descascada ou partida (exceto laranja).   Audiências públicas já foram realizadas para colher informações para um Projeto de Lei específico para os food trucks. A ideia é inspira-se na regulamentação de São Paulo.     Opções vão de cordeiro à comida vegana   Massa fresca de fabricação própria com molhos especiais servida em caixinhas que mantêm a comida quente até o final e são perfeitas para comer em qualquer lugar são o carro chefe do On The Go Pasta Fresh Gourmet. Dono de um restaurante na Savassi, o empresário Max Miller Ladeira teve a ideia de montar seu food truck depois de assustar-se com o valor do aluguel de um quiosque em um shopping center. “Pediam mais de R$ 18 mil. Então resolvi montar uma cozinha itinerante, onde não tivesse que pagar tão caro”, diz.   A adaptação da kombi exigiu dele R$ 50 mil. As primeiras paradas foram portas de faculdades, ideia que ele abandonou por ser difícil competir com produtos mais baratos, como cachorro quente e pipoca. Decidiu então que escolheria um ponto a cada dia: segundas e sextas na Raja Gabaglia, terças na Assembleia Legislativa, no Santo Agostinho, quartas na avenida Brasil e quintas na avenida Barbacena, próximo à Cemig.   “Funciona muito bem, porque geralmente as pessoas elegem um dia da semana para comer massa. Os clientes ficam nos esperando com aquele gostinho na boca”, afirma.     Cardápio   Até ficar pronto, o molho de ragú de cordeiro, explica Ladeira, é cozido ao molho de vinho tinto em fogo brando por quatro horas, até desmanchar. A caixa, com cerca de 400 gramas, é vendida por R$ 16. Outro sucesso gastronômico é o sabor especial, com queijo minas, linguiça e couve, que sai por R$ 13. “Às vezes dá fila”, comemora o empresário, que vende até 60 massas por dia. Todos os cartões de débito e crédito são aceitos.   Até conseguir a permissão para colocar seu food truck na estrada foi um longo caminho. O empresário diz que para funcionar na legalidade são necessárias cinco licenças. Entre os órgãos competentes, estão Departamento do Trânsito de Minas Gerais (Detran), Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), Vigilância Sanitária e Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).   “É complicado porque você faz todo esse processo para depois ir à prefeitura. Se ela te der bomba, todo investimento terá sido em vão”, alerta.     Sem carne   Vegetariano há vários anos, o empresário Paulo fez o mesmo trajeto que Max Ladeira até inaugurar o food truck 100% vegano. Mas engana-se quem acha que a comida é sem graça. No cardápio constam delícias como feijoada feita com soja (R$ 12) e tropeiro com torresmo de trigo (R$ 8). As opções incluem para lasanha bolonhesa de soja (R$ 8) e até canelone de tofu. (R$ 12).   “Aqui não tem nada de origem animal. A comida não leva ovo, leite ou mel”, detalha a funcionária Lorena Martins. O carrinho está quase todos os dias na Praça Mendes Júnior, na esquina com rua da Bahia. À noite, a parada é em frente à Escola de Arquitetura da UFMG, na rua Paraíba.     Sensação nos EUA, Japão e Europa   Sensação em diversas cidades da Europa, do Japão e dos Estados Unidos, os food trucks são sinônimo de gastronomia de qualidade a preços acessíveis –e já angariam uma legião de fãs onde quer que estacionem.     Na badalada praia de Venice, em Los Angeles, na Califórnia, um trecho do famoso calçadão virou uma espécie de “praça de alimentação”, com uma série de restaurantes sobre rodas parados lado a lado oferecendo as mais diversas iguarias, das mais simples às mais sofisticadas.

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