Como em SP e Rio, empresariado mineiro inicia ofensiva por recuperação

Thiago Ricci e Alessandra Mendes - Hoje em Dia
24/08/2015 às 06:42.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:28

A indústria mineira, responsável por 11% do PIB industrial do Brasil, iniciou uma reação à, como o próprio setor qualifica, inércia do governo e do Congresso frente à crise política e econômica encarada pelo país. Por meio de discursos públicos e posicionamentos oficiais, as entidades representativas deram largada a uma ofensiva em busca da governabilidade – com pitadas de repúdio ao impeachment e maciço apoio, mesmo que parcialmente velado, ao vice-presidente, Michel Temer.

“Chegamos praticamente ao fundo do poço. É hora de dizer um sonoro ‘basta’ a líderes políticos que não estão à altura do nosso país e do nosso povo! É hora de dizer um sonoro ‘chega’ a líderes políticos que imaginam poder fazer do nosso país o seu próprio quintal”, afirmou, em diferentes discursos nos últimos dias, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas (Fiemg), Olavo Machado Jr.

Oficialmente, o líder do setor industrial mineiro nega apoiar uma hipotética substituição de Dilma por Temer – e também evita conceder entrevistas. “Meu apoio e o apoio da indústria não são ao vice-presidente e, sim, à sua proposta para que nos unamos em torno de um grande entendimento nacional”.

A seus pares, no entanto, o tom de Machado é mais agressivo. “Os empresários não aceitam este estado de desgoverno em que os líderes se transformam em déspotas que só pensam em si mesmos”.

Outras entidades, como os sindicatos das indústrias da Construção Civil (Sinduscon) e da Construção Pesada (Sicepot) de Minas, seguem a mesma linha. O primeiro, por exemplo, exibe uma nota na página principal do site oficial sobre o cenário atual.

“Não dá para continuar nesse imobilismo. Se o governo não tem mais força, que substitua. Se tem força, que aja. Precisamos, no entanto, agir para não aumentar a recessão que passamos, desde que pelas vias constitucionais”, avalia o presidente do Sinduscon, Luiz Fernando Pires.

“Estamos dando um grito de socorro público. Um grito de quem ainda acredita no Brasil. Os empresários sabem onde está a solução. Passa pela diminuição do Estado, das cargas tributárias, da burocracia. É hora de união política”, afirma o presidente do Sicepot, Emir Cadar Filho.

O setor da indústria pesada mineira, inclusive, luta para receber pagamentos atrasados do governo de Minas. O valor da dívida não foi divulgado.

Operação ‘Lava Jato’

Um outro fator que tem atrapalhado o setor da indústria é a operação “Lava Jato”, da Polícia Federal, que investiga corrupção na Petrobras envolvendo empresários.

“Os órgãos ficam mais lentos. Não podemos ficar com esse assunto toda a vida. Resolve esse problema, pune a quem tiver de punir e bola pra frente. Não pode ficar com o país esperando a definição da ‘Lava Jato’”, diz Pires.

“Cria insegurança no setor da construção. Grandes empresas tratam desses problemas e elas são parceiras naturais de investimentos de fora do país. Ainda é preciso lembrar que a grande empresa tem muitas subcontratadas e isso aquece o mercado. Se a grande não tem contrato, a pequena também não tem”, diz Petrônio Lerche Vieira, diretor do Sinicon.

Termômetro do mercado registra queda no número de vagas

A apreensão dos empresários com relação à atual crise econômica e política tem fundamento. Os impactos já são aparentes em um dos setores que funciona como termômetro no mercado: a construção. A queda no número de vagas de emprego na área, apenas em Minas Gerais, chegou a quase 52 mil em junho deste ano na comparação com o mesmo mês de 2014. No Brasil, a redução foi de 348 mil vagas na construção.

“Existe muita demissão no setor, que tem alta rotatividade, mas esse não é o problema. O problema é a falta de contratação. Sai a mesma quantidade de gente que saía no ano passado, mas, como não entram obras novas, não há contratação”, explica o diretor executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), Petrônio Lerche Vieira.

Cenário

Alimentada quase que exclusivamente por obras públicas, a construção pesada tem registrado quedas mais acentuadas no número de vagas do que a construção civil. Em todo o Brasil, o número de empregos no setor caiu 24% em junho deste ano na comparação com os dados de junho de 2014. Em Minas, o recuo na construção pesada foi de 19%.

“É o setor que está mais afetado hoje. Como os orçamentos estão contidos, a falta de investimentos em obras impacta diretamente no setor. E, com o problema da Petrobras, as demissões aumentam o ritmo”, avalia Vieira.

Os números, coletados pelo Sindicato na base de dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) ainda mostram que, dos 730 mil postos de trabalho perdidos no Brasil desde junho do ano passado, 348 mil foram na área da construção. Isso quer dizer que a queda nas vagas ofertadas nas construções pesada e civil representa 48% da perda total de empregos no país.

Esperança

Uma mudança nesse cenário negativo só deve ocorrer, na melhor da hipóteses, a partir de 2016. “O governo está se esforçando para fazer concessões em algumas áreas. Essas são grandes oportunidades de emprego na construção. A expectativa é de retomada de obras no ano que vem, o que representaria uma melhoria”, prevê Vieira.

O Sinicon defende o investimento no setor até mesmo como um caminho para melhorias em outras áreas da economia. “Começamos com crise de obras, agora já temos notícia com crise de fornecedores da construção. Afeta toda a economia, por isso costumamos dizer que a construção é PIB (Produto Interno Bruto) na veia”, afirma o diretor-executivo da entidade.

De acordo com o sindicato, o investimento de R$ 1 milhão na construção significa um impacto de R$ 1,6 milhão na economia de um modo geral.

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