Crise dissolve indústrias e também a economia de Minas

Bruno Porto - Hoje em Dia
24/02/2016 às 07:15.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:33
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O ambiente adverso para a economia mineira, seja pelo fim do chamado “ciclo das commodities”, ou pelo encolhimento do mercado interno, desencadeou em Minas Gerais uma série de impactos perversos: aumento do desemprego, queda de arrecadação de impostos e desconfiança do investidor. Esse cenário culminará em dois anos de PIB negativo para o Estado,  ambos com quedas acima da média nacional.

A projeção para o Brasil em 2015 é de que retração fique entre 3,5% e 4%, ou seja, o desempenho negativo em Minas pode chegar a até 5%, na avaliação dos economistas consultados. Para 2016, o cenário é de incerteza, porém não há nada que sinalize retomada.

Os últimos dados publicados pela Fundação João Pinheiro (FJP) revelam uma queda de 4,3% do PIB mineiro nos três primeiros trimestres de 2015 contra variação negativa de 3,2% do PIB nacional.

Agravamento

Os índices de emprego revelam a velocidade e o tamanho do agravamento da crise econômica. De dezembro de 2014 para dezembro de 2015 a taxa de desocupação na Região Metropolitana de Belo Horizonte saltou da menor da história (2,9%) para a maior desde 2007, de 5,9%.

“A trajetória dos indicadores da economia mineira indicam para um PIB menor em até um ponto percentual em 2015 e novamente em 2016. Essa situação se deve basicamente à dependência de commodities, e tem o contrapeso da agroindústria, um dos poucos setores ainda em alta”, disse o professor de economia da faculdade Ibmec e pesquisador da FJP, Glauber Silveira.

O perfil exportador da economia mineira é mais um ingrediente que nesta conjuntura pesa em desfavor do Estado, dada a crise internacional que afeta as commodities, em grande parte atrelada à menor demanda chinesa.

“A conjuntura externa potencializa a queda do PIB mineiro, e por isso deve cair mais do que o do país. A concentração exacerbada das exportações em minério de ferro penaliza ainda mais Minas nesses ciclos de desvalorização”, afirmou o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Lourival de Oliveira Júnior.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), em janeiro deste ano Minas exportou 32,6% a menos do que em janeiro de 2015 - total de US$ 12,5 bilhões. Somente o minério de ferro apresentou queda de 46,5%, com total de R$ 254 milhões. “A deterioração dos indicadores econômicos vai espalhando seus efeitos, e atinge o emprego, a arrecadação, e o PIB”.


 
Prolongamento da crise afeta gigantes do setor privado

O prolongamento da crise econômica tem impactos nos cofres tanto públicos como de empresas privadas. A desvalorização do minério de ferro no mercado internacional atingiu o caixa da Vale, gigante da mineração com ampla atuação em Minas Gerais. A empresa teve prejuízo de R$ 11 bilhões no acumulado até o 3º trimestre de 2015 e cortou a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) dos trabalhadores.

Essa decisão ocasionou uma paralisação, nessa terça (23), de 5,5 mil trabalhadores nas minas da empresa em Nova Lima e Itabirito, informou o Sindicato Metabase de Belo Horizonte e Região.

De acordo com a Vale, foram liberadas às 14 horas as portarias de nove unidades da empresa nos municípios de Nova Lima e Itabirito. “Essas portarias foram bloqueadas durante a manhã pelo sindicato em razão da divulgação do resultado da Participação de Lucros e Resultados (PLR) referente a 2015. Os bloqueios impediram a entrada e saída de empregados”, afirma a mineradora, por meio de nota.

A companhia ressalta que, de acordo com os critérios fixados no acordo de PLR, “seu pagamento não é devido”. “Cabe ressaltar que esses critérios estabelecidos no acordo de PLR foram aprovados pelos sindicatos e pelos empregados em assembleias conduzidas por esses sindicatos”, diz a nota.

O presidente do sindicato, Sebastião Alves de Oliveira, disse que a paralisação foi interrompida após a Vale agendar uma reunião com a entidade.

Aço

Na Usiminas, maior fabricante de aços planos do país, e base da economia do Vale do Aço, o balanço apontou prejuízo de R$ 3,6 bilhões em 2015. A siderúrgica, que nos últimos anos enxugou seu quadro de trabalhadores, vive a possibilidade real de insolvência, em virtude do crescimento exponencial de seu endividamento sem que as receitas acompanhem esse movimento. Embora atue no mercado interno, o preço do aço está em queda por fatores externos, principalmente o excesso de oferta da China.

No setor automotivo, a Fiat, em Betim, e a Mercedes-Benz, em Juiz de Fora, adotaram diversas vezes em 2015 e novamente em 2016 medidas de contenção da produção, como suspensão do contrato de trabalho dos funcionários e férias coletivas.

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