Crise hídrica é oportunidade para empresas privadas de saneamento

Estadao Conteudo
04/01/2015 às 12:27.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:33

A crise hídrica que despontou em 2014 é vista como oportunidade de negócio pelas empresas privadas de saneamento e pode alterar o cenário futuro de concessões, segundo executivos do setor ouvidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. Apesar da expectativa por novas oportunidades, as companhias de saneamento preveem crédito mais difícil em 2015, considerado um ano de ajustes macroeconômicos.

Em um cenário no qual as concessões de saneamento crescem gradualmente a cada ano - ainda que em ritmo aquém do desejado pela iniciativa privada -, a crise hídrica enfrentada por diversos municípios brasileiros pode acelerar esse calendário, diante do impacto da escassez no caixa de algumas empresas públicas, como Sabesp e Copasa, cujas receitas caíram com a redução no consumo. "Enxergamos a crise hídrica como oportunidade de negócio, de nos tornarmos parceiros para ajudar empresas que sofrem com o problema, por meio também de subconcessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs)", aponta Hamilton Amadeo, presidente da concessionária Aegea, que atende 35 municípios de seis Estados.

Em 2014, o número de clientes atendidos pela empresa cresceu 400 mil. A perspectiva para 2015 é de um aumento maior, de 500 mil clientes. A Aegea, que é a terceira maior concessionária do País, com 17% do mercado, disputa novas concessões em Buritis (RO), Ariquemes (RO), Timon (MA), Navegantes (SC) e Pará de Minas (MG).

Para o diretor do Grupo Águas do Brasil, Carlos Henrique da Cruz Lima, a crise hídrica mostrou que não houve racionamento em municípios onde a iniciativa privada atua no saneamento. No mercado desde 1997, o grupo atua em 15 municípios por meio de 13 concessionárias. Lima prevê que nos próximos 15 a 20 anos a participação das empresas privadas no mercado brasileiro de saneamento passará dos atuais 10% para 30%. A Águas do Brasil disputa com a Aegea a concessão plena de água e esgoto em Pará de Minas, cidade mineira que estava há cinco anos sem alcançar um acordo com a Copasa para o abastecimento de água e tratamento de esgoto.

As companhias privadas do setor também sentiram queda na receita com a redução no consumo dos clientes este ano. "Grandes empresas expostas à falta de água devem ter problemas de caixa em um futuro próximo. Até para nós, que não sofremos com falta de água, houve certo impacto na receita, mas muito pequeno", diz Amadeo, da Aegea, sem especificar um valor.

A Odebrecht Ambiental registrou queda de 20% na receita este ano em suas concessões paulistas de Limeira, Santa Gertrudes e Porto Ferreira. O diretor superintendente da companhia para o Estado de São Paulo, Guilherme Paschoal, afirma que houve contenção de custos e demissões pontuais na empresa em 2014, porém a queda na receita foi compensada pelos gastos menores com a produção de menos litros de água, para atender a um consumo menor. Em Limeira também houve um aumento real de 6% nas tarifas cobradas pela empresa. Ao mesmo tempo, a companhia aumentou investimentos para reduzir perdas e fraudes.

O executivo está otimista com um crescimento das concessões em um ritmo mais acelerado. Segundo ele, no cenário de escassez hídrica as prefeituras perceberam que não bastam investimentos pontuais. "É necessário planejamento, tecnologias novas, coisas que os municípios não têm capacidade técnica de fazer", afirma Paschoal. "Nossa visão é de parceria e não de substituir. Não estamos aqui para disputar mercado com empresas estaduais, com municípios", ressalta, citando PPPs de destaque na Odebrecht Ambiental, como Recife (PE) e Rio Manso (MG).

Para o presidente do conselho diretor da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), Paulo Roberto de Oliveira, as perspectivas para os próximos anos são "animadoras". A Abcon, que fechou em novembro os números de 2013 do setor, apurou que o segmento privado ultrapassou no ano passado, pela primeira vez, o montante de R$ 1 bilhão de investimentos no setor. Entre 2013 e 2017, a previsão é de um total de R$ 6,5 bilhões investidos.

"Não acredito que um governador ou prefeito vai ficar sentado esperando para saber se no ano que vem haverá escassez de novo ou não. Em 2016 temos eleições. Aquele que em 2014 passou dificuldades com o sistema de água, se em 2015 isso acontecer de novo, terá reeleição comprometida em 2016", avalia Oliveira.

Em 2014, a atuação da iniciativa privada em concessões de saneamento ultrapassou a marca de 300 municípios e deve chegar mais longe em 2015. Atualmente, as cidades de Jaú, Holambra (SP), Penha (SC), Pará de Minas (MG) e Marabá (PA) estão entre os municípios que possuem concessões em aberto, em diferentes estágios do processo. Além disso, Mauá e Santo André (SP) preparam PPPs. A última concessão concluída em 2014 - a de Sumaré (SP) - foi vencida pela Odebrecht Ambiental.
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