Dólar sobe e fecha acima de R$ 4 com crise global e preocupações políticas

Folha Press
28/09/2015 às 19:01.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:53

O dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, ampliou a alta em relação ao real na última meia hora de negociações nesta segunda-feira (28) e fechou acima de R$ 4 após duas quedas consecutivas. O movimento, segundo analistas, refletiu comentários da agência de risco Fitch Ratings sobre a nota de crédito do Brasil.

A moeda já vinha subindo desde a abertura, na esteira de preocupações com a crise global geradas por sinais de desaquecimento da China e pela perspectiva de aumento de juros nos Estados Unidos ainda neste ano. Assim, entre as 24 principais moedas emergentes, 17 se desvalorizaram em relação ao dólar -o real foi a segunda divisa que mais perdeu, atrás apenas do rand sul-africano.

O diretor-executivo da Fitch, Rafael Guedes, sinalizou que o Brasil deve ter sua nota de crédito cortada em breve, mas ressaltou que historicamente as decisões de rebaixamento tomadas pela agência são de apenas um degrau. Com isso, o país manteria o selo de bom pagador, uma vez que sua nota atual na Fitch é "BBB" -dois níveis acima do grau especulativo.

O dólar comercial subiu 3,37%, para R$ 4,109 na venda. Já o dólar à vista, referência no mercado financeiro e que fecha mais cedo (por volta de 14h30 de Brasília), avançou 1,71%, para R$ 4,099 na venda.

Para Lauro Vilares, analista da Guide Investimentos, mesmo que a crise política pela qual o país passa já tivesse alimentado perspectivas de corte da nota de crédito brasileira em algum momento, a sinalização da Fitch ampliou o sentimento de aversão ao risco entre os investidores.

"Uma coisa é ter perspectiva de que vai cair [a nota soberana do país], outra é ter uma sinalização da própria Fitch que isso vai ocorrer em breve", afirmou Vilares. No início do mês, outra agência, a Standard & Poor's, cortou o rating brasileiro.

Segundo Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, o cenário interno segue sendo o principal fator de pressão ao dólar. "Há um ambiente de desconfiança em relação à política econômica. O mercado não confia na capacidade de o governo controlar suas contas. Isso tem influenciado o forte aumento do prêmio de risco de investir no Brasil", disse.

O CDS (espécie de seguro contra calote) para títulos da dívida brasileira de cinco anos fechou esta sessão em 539,4 pontos, alta de 7,88%. No início do ano, estava em torno de 200 pontos.

O mercado de juros futuros também respondeu com alta ao clima de maior aversão ao risco e cautela com o cenário político no Brasil. O contrato de DI para janeiro de 2016 fechou o dia prevendo taxa de 14,910%, ante 14,630% na sessão anterior. Já o DI para janeiro de 2021 subiu de 15,730% para 16,420%.

Os dois aumentos -do dólar e dos juros- dificultam a situação de empresas que precisam de financiamento ou estão endividadas em dólar. A preocupação é que, com taxas cada vez mais altas, o crédito "trave", provocando um efeito dominó.

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As intervenções recentes do Banco Central no câmbio e a atuação simultânea do Tesouro comprando e vendendo títulos públicos atenuam a volatilidade dos mercados, segundo Rosa, mas não invertem sua tendência de alta. "Usar ou não as reservas internacionais, nesse caso, dá no mesmo", afirmou.

"A reforma ministerial pode devolver um pouco de governabilidade à presidente Dilma Rousseff e acalmar um pouco o mercado. É preciso que sejam mantidos os vetos presidenciais a projetos aprovados pelo Congresso para barrar a entrada em vigor de medidas que elevariam os gastos federais", completou Vilares.

A avaliação é a mesma de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, que acredita que a deterioração do cenário interno somada à cautela com a crise global -especialmente a desaceleração da China e a perspectiva de aumento de juros nos Estados Unidos- pode gerar novos "ataques especulativos" no câmbio, como na semana passada, quando o dólar se aproximou de R$ 4,25.

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