Dólar tem nova alta, vai a R$ 3,76 e fecha no valor mais alto em 13 anos

Folha Press
02/09/2015 às 19:11.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:36

Preocupações com as contas públicas brasileiras e especulações sobre uma possível saída do ministro Joaquim Levy do cargo elevaram o clima de aversão ao risco entre os investidores nesta quarta-feira (2) e fizeram o dólar voltar a fechar no maior valor em quase 13 anos.    A avaliação de analistas é que o quadro piorou depois que o governo entregou ao Congresso nesta semana uma proposta de Orçamento para 2016 prevendo deficit primário de R$ 30,5 bilhões.    A medida elevou o temor de que o país perca seu selo de bom pagador atestado por agências internacionais de classificação de risco. A perda forçaria grandes fundos a retirar investimentos que possuem no país, agravando ainda mais o cenário econômico.    O dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, fechou em alta de 2,06%, para R$ 3,762 na venda. Este é o maior valor da moeda desde 12 de dezembro de 2002, quando fechou cotado a R$ 3,790 (ou R$ 6,23 hoje, após correção inflacionária). Ao longo do dia, a cotação atingiu a máxima de R$ 3,773.    Já o dólar à vista, referência no mercado financeiro, encerrou a sessão com avanço de 1,95% sobre o real, cotado em R$ 3,746 na venda -também a maior cotação desde 12 de dezembro de 2002, quando valia R$ 3,791 (ou R$ 6,23 hoje). A moeda chegou a valer até R$ 3,756 durante o pregão.    O mercado segue alerta em relação à nota de risco do Brasil, que está ameaçada pela crise fiscal no país. Na véspera, a analista Shelly Shetty, da agência de classificação de risco Fitch Ratings, sinalizou preocupação com o novo cenário das contas públicas para o próximo ano.    "Essas revisões [na meta de economia do governo para pagar sua dívida] colocam a tendência para obtenção de superavits primários muito abaixo do cenário-base usado pela Fitch em abril", disse. Na época, a agência havia revisado a perspectiva do rating brasileiro para negativa, mantendo a nota "BBB" -a penúltima classificação dentro da faixa considerada como grau de investimento.    Voltaram a abalar as mesas de operações rumores sobre uma possível saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A presidente Dilma Rousseff defendeu Levy nesta quarta-feira, afirmando que ele não está "isolado" ou "desgastado" dentro do governo.    Ela também admitiu ser ruim o deficit primário previsto para o próximo ano, mas garantiu que o governo não vai "fugir da sua responsabilidade" e tomará as medidas necessárias para reduzir o rombo nas contas públicas do país.    "Existe um sentimento de que o barco está sem capitão. O governo vem tentando achar soluções para estancar a crise fiscal, mas não consegue por causa da falta de união [entre os partidos políticos] para conseguir aprovar as medidas que precisam ser tomadas", disse João Pedro Brügger, analista da Leme Investimentos.    Sobre a forte valorização do dólar na sessão, Brügger disse ser difícil precisar se a alta foi exagerada ou não por causa do alto nível de insegurança dos investidores. "Teoricamente, não houve mudança de fundamento [econômico], mas o mercado está muito inseguro com o que pode acontecer com a equipe econômica, e isso acaba sendo refletido nos preços."    A reunião de política monetária do Banco Central nesta quarta-feira também esteve no radar dos investidores. A expectativa da maioria dos analistas é que a autoridade deverá manter a taxa básica de juros (Selic) em seu atual patamar, de 14,25% ao ano, uma vez que o país já está em recessão e o aperto monetário pode piorar a atividade econômica.    Na manhã desta quarta (2), o indicador de produção industrial reforçou o pessimismo em relação à economia brasileira ao mostrar forte queda de 1,5% na passagem de junho para julho, na taxa livre das influências sazonais (como a diferença dos dias úteis do mês).    A atuação mais intensa do BC no câmbio não impediu a tendência de alta da moeda americana. A autoridade deu início nesta semana à rolagem do vencimento de contratos de swaps cambiais previstos para outubro. A operação equivale a uma venda futura de dólares.    Se mantiver a oferta diária de até 9.450 papéis, o BC rolará até o penúltimo dia deste mês a totalidade de contratos com vencimento em outubro, que correspondem a US$ 9,458 bilhões. Nos meses anteriores, a autoridade estava fazendo apenas rolagem parcial de swaps.    BOLSA    Depois de ter perdido força no final da manhã, o principal índice da Bolsa brasileira intensificou a alta na tarde desta quarta-feira, apoiado pelo bom humor nos principais mercados de ações no exterior, e fechou no azul. O Ibovespa teve valorização de 2,17%, para 46.463 pontos.    Com o movimento, o Ibovespa devolveu parte da perda registrada nas últimas três sessões, quando acumulou desvalorização de 4,69%. Em Nova York, as Bolsas tiveram ganhos acima de 1,8%, enquanto na Europa os principais índices acionários fecharam em altas entre 0,1% e 1%.    Os investidores de ações nos EUA voltaram a alimentar expectativa de que o Federal Reserve (banco central americano) possa esperar um pouco mais para começar a subir a taxa de juros naquele país, atualmente perto de zero, o que manteria a atratividade de papéis em mercados emergentes como o Brasil.    O Livro Bege do Fed, divulgado nesta sessão, destacou que a economia americana seguiu se recuperando em ritmo moderado em julho e na primeira metade de agosto.    Os papéis preferenciais da Petrobras (mais negociados e sem direito a voto) chegaram a cair 3% e exercer pressão negativa sobre o Ibovespa pela manhã, mas inverteram a tendência durante a tarde, na esteira da retomada nos preços do petróleo no exterior. Eles fecharam com alta de 2,68%, a R$ 8,82 cada um. Na véspera, essas ações haviam cedido 6,5%.    Em sentido oposto, as ações da Metalúrgica Gerdau deram sequência às altas registradas nas últimas sessões e lideraram a ponta positiva do Ibovespa nesta quarta-feira, com valorização de 12,9%, para R$ 3,50 cada uma. O movimento também impulsionou os papéis de sua controlada Gerdau, que avançaram 10,05%, a R$ 6,02.

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