Desemprego cresce e trabalhador se arrisca a abrir o próprio negócio

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
02/08/2015 às 07:07.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:11
 (Lucas Prates / Hoje em Dia)

(Lucas Prates / Hoje em Dia)

Realidade para um número cada vez maior de brasileiros, o desemprego já atinge mais de 8,2 milhões de pessoas no país. Sem fonte de renda e com poucas perspectivas de voltar ao mercado de trabalho, cujas portas estão fechando, trabalhadores demitidos têm tomado o rumo do empreendedorismo. Segundo o Sebrae, três a cada dez dispensados do antigo emprego investem no próprio negócio.    Para entrar no universo dos patrões, entretanto, é preciso muito mais que dinheiro na conta bancária e uma boa ideia na cabeça. Antes de gastar todo o fruto da indenização e do FGTS na abertura da empresa é preciso fazer pesquisa, aprender sobre gestão e elaborar um plano de desenvolvimento do negócio, alertam consultores do Sebrae-MG.    “Percebemos que os novos empreendedores têm um perfil em comum. Na maioria, são pessoas que perderam o emprego. Essa é hoje nossa maior demanda”, diz a analista do Sebrae-MG Silmara Ribeiro, que dá expediente em uma unidade da instituição no Shopping Uai, no Centro de Belo Horizonte.    O movimento aparece também nas estatísticas do IBGE. Em um ano, 522 mil brasileiros passaram a engrossar a fila dos desempregados, aumento de 45% entre junho de 2015 e igual mês no ano anterior. No mesmo período, considerando-se só a Região Metropolitana de Belo Horizonte, pelo menos 8 mil pessoas começaram a trabalhar por conta própria.    “Os números mostram que o aumento de trabalhadores autônomos tem sido uma tendência. Com o crescimento do desemprego muitos fazem esse caminho”, avalia a técnica do IBGE Adriana Beringuy.    Motor   Modalidade que mais cresce no país, a figura do Microempreendedor Individual (MEI ) é o atual motor do empreendedorismo. “A pessoa pode contratar até um funcionário e ter faturamento anual de no máximo R$ 60 mil. Não precisa alugar um espaço e enfrenta menos burocracia. E o mais interessante é o direito a benefícios previdenciários”, detalha Silmara Ribeiro. A analista diz que a formalização da atividade via MEI é o primeiro passo indicado, já que com ela, além da nova carreira, o empreendedor garante a Previdência a custo baixo.    Medicina oriental   Despedida do emprego em 2014, Adriana Fagundes Gomes entrou para o time dos microempreendedores individuais há um mês. Diante da falta de vagas no mercado de trabalho, ela resolveu intensificar a produção de tabelas de reflexologia podal, pontos de tratamento da medicina oriental e plantas medicinais que criou. Com o êxito nas vendas, já traduz o material para o inglês e o espanhol.    Ex-técnico de uma empresa de telefonia, Flávio Santana mudou de ramo “na cara e na coragem”. Agora vende produtos para cabelos. “Com a crise, muita gente deixou de frequentar salão. A cliente compra meu produto e faz o tratamento em casa”.    Especialistas aconselham a realização de testes de mercado    Em tempos de turbulência econômica, aumenta a proporção de empreendedores que buscam a realização do sonho do próprio negócio por necessidade. Pelo menos 30% dos brasileiros o fazem porque precisam encontrar um meio de gerar renda e pagar as contas. E é aí que mora o perigo.    “A crise está durando mais tempo do que imaginávamos e as pessoas estão precisando de dinheiro para sobreviver. E não há perspectivas de melhora no mercado de trabalho neste ano e até meados de 2016. A reinserção pode levar um prazo longo, até 12 meses. Aí surge a vontade de empreender. Só que lucro rápido não existe. O retorno do investimento pode levar mais de um ano”, adverte o analista do Sebrae-MG Aroldo Araújo.   Segundo ele, um dos erros mais comuns é deixar a emoção sobressair à razão. Não é porque a pessoa gosta de jantar fora que vai montar um restaurante, por exemplo. “Até o ano passado, mesmo sem planejamento, alguns tinham sucesso porque todo mundo estava consumindo. Com a crise, é preciso redobrar os cuidados, testar o mercado e ter foco”.   Criatividade   O momento exige criatividade até mesmo de quem está há anos à frente do negócio. “Uma loja especializada em moda festa pode passar a apostar em roupas mais casuais e baratas. Também vale fazer parcerias e somar a oferta de serviços”, indica Araújo.   Diretora regional da Associação Brasileira de Franchising em Minas, Danyelle Van Straten diz que o Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo. E defende a franquia como modelo de associativismo e empreendedorismo. “A mortalidade de um negócio individual é quase sete vezes maior que o da franquia”, diz. O investimento é a partir de R$ 5 mil. “Mas o céu é o limite”, frisa Danyelle. Geralmente é exigido o pagamento de royalties.    Pulo do gato é oferecer ao cliente solução com diferencial   Aproximadamente ¾ dos brasileiros têm vontade de empreender. E à medida que o desemprego cresce e a estabilidade desaparece, o desejo vira uma necessidade. “Mais de 30% dos empreendedores são situacionistas”, diz o coordenador regional da Endeavor em Minas, Ênio Borges.    Mas a necessidade em si não é só ruim. “Não dá para olhar a queda do PIB e desanimar. Mais do que o dado macroeconômico a seu favor, o empreendedor precisa de um diferencial, de oferecer uma solução ao cliente”, afirma Borges. O pesquisador do Sebrae-MG Ricardo Leopoldo ressalta que um item básico para quem deseja empreender é a afinidade com o negócio.      Minifábrica   E foi justamente esse o ingrediente que levou a ex-gerente regional de uma joint venture Aline Bonnereau a investir R$ 7 mil em uma minifábrica de pão de queijo. Em abril deste ano, ela recebeu do chefe a notícia que ninguém quer ouvir. Sem emprego, descobriu na receita artesana, sempre tão elogiada por amigos, a chance para voltar a ganhar dinheiro.    Criou a marca “Meu Pão de Queijo”, se formalizou como MEI, comprou máquina de ensacar e de fazer a massa, criou logomarca, plotou o carro, fez banners de divulgação e cartões de visita. Hoje, os cinco sabores da iguaria estão em lojas de Nova Lima e do Mercado Central. “Vou até contratar uma ajudante”, comemora.    Mais de 40% das dúvidas dos empreendedores se referem à gestão financeira do negócio, diz o Sebrae-MG

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