Escalada do custo de vida e fraca retomada apontam para 'estagflação' na economia do país

André Santos
andre.vieira@hojeemdia.com.br
13/09/2021 às 20:04.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:52

O cenário econômico brasileiro é cada vez mais propício à consolidação da temida “estagflação”. É o enfraquecimento da reação econômica em meio a uma crise, como a da Covid-19, aliada a uma escalada assustadora de preços de produtos e serviços. Provas já não faltam: de um lado, setores como comércio e indústria não apenas desaceleram, como veem subir indicadores de mau desempenho; de outro, o custo de “motores” da recuperação, como gasolina, álcool e diesel, não para de subir. Como agravante, indicadores econômicos vitais para a recuperação, como a taxa básica de juros, seguem em elevação, indiretamente freando investimentos e a criação de empregos.

Em relação aos preços, a escalada inflacionária em 2021 é puxada, principalmente, por dois grupos de itens de consumo: combustíveis e alimentos, em especial as carnes, com mostra o infográfico abaixo. 

Os impactos disso são tão graves que, ontem, por exemplo, o Boletim Focus, do Banco Central, elevou a projeção de alta na inflação de 7,58% para 8%, ao fim deste ano. O ajuste foi nada menos que o 23º consecutivo feito pelo BC – todos para cima.

Freio

Essa disparada nos preços acaba travando o crescimento, na medida em que a principal medida para freá-la é a alta dos juros. Paulo Casaca, economista do Ibmec, diz que, como a corrida inflacionária não deve ser contida nos próximos meses, o “remédio” (as subidas da Selic) deve continuar sendo aplicados. “O problema disso tudo é que a política de juros altos impede a retomada da produção que acaba diminuindo a criação de postos de trabalho. Com tudo mais alto, desde os alimentos, passando por combustíveis até os custos de produção, a capacidade de crescimento vai sendo minada gradualmente”, explica.

Sem fôlego

A tímida força da retomada é outro fator que faz com que o risco de estagflação se torne real. Indicadores recentes da indústria e do comércio, setores que vinham capitaneando a recuperação, por exemplo, mostram que o fôlego do crescimento é cada vez menor. 
A produção industrial registrou a segunda queda consecutiva – 1,3% negativo, em julho, se comparado a junho. O resultado faz a indústria voltar a patamares abaixo dos registrados antes da pandemia. Já o comércio teve retração de 0,7%em agosto em comparação a julho, segundo o Serasa Experian. 

Para o economista Marco Flávio da Cunha Resende, da UFMG, voltar de fato a crescer dependeria de maior investimento público, algo difícil no momento. “Nas condições que estamos, com consumo estagnado, altas taxas de desemprego e um Estado sem condições de investir, o capital privado vai recuar e buscar se proteger. Com isso, a estagnação é um cenário cada vez mais real e possível”.

Já para o também professor Paulo Vicente Santos Alves, da Fundação Dom Cabral, além dos juros altos, o dólar valorizado também dificulta a retomada, limitando crescimento de empregos e renda. “Estamos em um corredor cada vez mais apertado, em que a saída está longe”, diz.

Recuperação judicial e falências

Não bastasse o recuo dos índices da atividade comercial e da indústria, o número de pedidos de recuperação judicial aumentou 50% em agosto, em comparação aos registrados em julho.

Segundo dados do Indicador de Falências e Recuperação Judicial da Serasa Experian, o mês de agosto foi o que registrou o maior número de pedidos desde o começo de 2021 – foram 111 neste mês contra 74 do mês anterior.

Entre os setores da economia mais afetados está justamente o do comércio, que alcançou a maior parte das registros – 43,2% do total.
Já os pedidos de falência permaneceram praticamente estáveis em agosto em comparação a julho – recuo de 0,5%. Entre as empresas, as Micro e Pequenas (ME) foram as que mais fecharam as portas – seis a cada dez negócios que faliram pertencem a este segmento. Já as de médio porte atingiram 19% das falências e as grandes, 16% do total. 

Entre os segmentos econômicos, os que mais registraram o fim definitivo de atividades foram os negócios do ramo de serviços: 60% das falidas estão neste setor. Na sequência vêm os ligados à indústria – que alcançaram 19% do total. Já o percentual das empresas ligadas às atividades comerciais que fecharam as portas foi de 16%.

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