Estiagem prolongada demanda mais informação

Maria Helena Dias - Especial para Força do Campo
03/06/2015 às 09:13.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:19
 (Rafael Motta)

(Rafael Motta)

É só a chuva aparecer para muitos esquecerem as preocupações com a escassez dos recursos hídricos. A desinformação ainda é apontada como a principal causa do mau uso da água no agronegócio. Diante disso, sindicatos de produtores rurais têm realizado eventos sobre a crise hídrica e iniciado projetos, seja com o apoio de instituições, iniciativas municipais ou de agentes múltiplos, e até mesmo junto à Agência Nacional das Águas (ANA). Para a coordenadora da Assessoria de Meio Ambiente da Faemg, Ana Paula Mello, precisamos nos preparar melhor para as estiagens que ainda virão.   O que podemos esperar da situação hídrica para os próximos anos?   A situação, que já não é boa em Minas, pode piorar. São várias as vertentes que precisam ser pensadas de forma integrada para que as soluções não sejam isoladas, melhorando em um ponto e piorando em outro. Estiagens assim já ocorreram, mas o contexto da demanda é outro hoje, com aumento do consumo tanto pelo crescimento populacional, quanto pela alteração dos padrões de vida, levando a agricultura, indústria e setor energético, por exemplo, a atender a esse contexto atual, cuja tendência é continuar sofrendo essas modificações.    Despertamos tarde para os cuidados com os recursos hídricos?    Podemos dizer que sim, em alguns critérios de planejamento e de conscientização das pessoas, que até hoje não têm ciência do que poderão enfrentar nos próximos anos. As chuvas que virão podem fazer muitos se esquecerem do problema, mas o fato é que nada aliviará a situação dos reservatórios, por exemplo. É importante nos prepararmos melhor.   O produtor tem consciência da importância do seu papel?   O produtor depende do solo, da chuva e da água dos rios para sua atividade. É o primeiro a sentir quando esses recursos naturais lhe faltam. Porém, faltam apoio e assistência técnica no meio rural. Há muitos exemplos de boas práticas, de tecnologias e de formas de manejo que precisam ser multiplicadas.    A agricultura é vista como a vilã da demanda de água. O que há de verdade nisso?   Quando um problema incomoda e precisa gerar mudanças, a tendência é apontar o dedo para certos setores, mas acredito que já estamos vencendo essa fase. Em regiões de agricultura irrigada há um uso (e não consumo) de parcela da água disponível para outorga, que é 30% da menor vazão do rio em 10 anos, ou 50% em algumas bacias. Esses 30% ou 50% é que são distribuídos para os diversos setores e usos por meio de uma autorização chamada outorga, e a irrigação usa uma parcela disso.    A concessão do uso de água tem se tornado mais acessível?   Os procedimentos são os mesmos e as dificuldades já existiam. Há uma insuficiência de pessoal para análise dos pedidos e também para fiscalização. Há um passivo de mais de 10 mil processos de outorga em espera, só na região central, e há pessoas aguardando há três ou quatro anos. Agora, com bacias em situação crítica de escassez, vai haver mais indeferimento de processos e mais redução de vazões outorgadas.    O que se tem feito para alertar a cadeia do agronegócio sobre os cuidados com a água?    Além das ações de iniciativa dos sindicatos, o Sistema Faemg está realizando o II Seminário Ambiental, em 11 e 12 de junho, com a presença de secretários de estado (Agricultura e Meio Ambiente), de referências no mundo acadêmico, técnicos da área ambiental e agrícola, governo federal, instituições de pesquisa, além de experiências bem-sucedidas. Será lançado também o Programa Nosso Ambiente, com ações voltadas à questão ambiental e hídrica, e uma dessas ações será iniciada na bacia do Rio Doce, com a assinatura de protocolo na abertura do evento.

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