Faturamento de bares e restaurantes de Belo Horizonte está em queda livre

Tatiana Moraes - Hoje em Dia
28/06/2015 às 08:52.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:40
 (Marcelo Prates/Hoje em Dia)

(Marcelo Prates/Hoje em Dia)

A inflação em alta corroeu o bolso do consumidor e jogou água no chope do setor de bares e restaurantes de Belo Horizonte. Sem dinheiro, é cada vez mais comum que as pessoas encontrem alternativas para se divertir gastando menos.   Uma delas é se reunir com os amigos em casa. Como consequência, no primeiro trimestre do ano, 57% dos estabelecimentos registraram queda no faturamento, quando comparado com o dos últimos três meses de 2014, segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) em parceria com a Fispal.    É o caso do Barbazul, tradicional bar localizado no bairro Funcionários, na região Centro-Sul de BH. De acordo com o proprietário, José Márcio Ferreira, a redução na frequência dos consumidores é nítida. “Se antes a pessoa vinha ao bar quatro vezes por semana, hoje ela aparece duas. E ainda consome menos”, afirma.   A cerveja foi o produto mais cortado. Como reflexo, em alguns meses a queda no faturamento chegou a 20%, na comparação com igual período do ano passado. Atualmente está 10% inferior.    Demissões   Para enfrentar a situação, foi necessário cortar pessoal. Antes, 28 pessoas trabalhavam no Barbazul. Hoje, o quadro é composto por 22 funcionários. O cardápio também mudou. Percebendo que as pessoas estavam preocupadas em consumir menos, o empresário decidiu reduzir as porções e os preços. O espetinho de 160 gramas de carne que custava R$ 10,90 foi reduzido para 120 gramas e hoje sai por R$ 7.    Na Panelinha   No outro estabelecimento do empresário, chamado Na Panelinha, também localizado no Funcionários, o problema foi maior. Inaugurado em março de 2014, o restaurante tinha a proposta de funcionar no período da manhã como restaurante e à noite como bar. Devido à crise, a ideia não decolou.      “Tivemos que encerrar as operações da noite e fechar a área de churrasco. O cardápio também muda de acordo com a inflação. Se hoje o peixe está em promoção, o destaque é o peixe. Se amanhã o preço do frango cai, oferecemos mais frango”, afirma o empresário. Com a queda no faturamento, não foi possível manter os funcionários. Dos 12 empregados que trabalhavam no local, restaram quatro.     Casa de comida japonesa no Buritis chegou a cortar nos preços para minimizar o impacto   Cássio Arantes Lira, proprietário do Kinoko, famoso restaurante japonês localizado no Buritis, região Oeste de Belo Horizonte, precisou se desdobrar para atrair a clientela. Voltado para as classes A e B, o Kinoko registrou queda de 40% no faturamento desde dezembro.   Além da redução no movimento, Lira explica que o tíquete médio despencou. “As pessoas estão consumindo menos. Hoje elas não tomam bebida alcoólica, não pedem sobremesa e optam pelos rodízios mais baratos”.    A solução foi baixar os preços. No Kinoko, os pratos são servidos em uma esteira localizada no centro do restaurante. O cliente serve-se daqueles que mais gostar e paga pela quantidade. É o único de Minas nesse estilo. Cinco pratos custavam R$ 35. Hoje custam R$ 30. Quinze pratos custavam R$ 75. Agora, saem por R$ 70. O rodízio completo, sem limite de peças, custa R$ 130.     Alta dos custos   Embora o preço tenha sido reduzido, a quantidade de peças mais nobres agora é limitada. O motivo é simples. Além de o faturamento dos bares e restaurantes estar em queda livre, os custos têm aumentado progressivamente. “Nos rodízios completos, a pessoa pode consumir cinco pratos nobres, como os de sashimis”, explica o empresário.   Para atrair o cliente, ele desenvolveu uma verdadeira força-tarefa. Distribuiu nas 13 academias do bairro cerca de 7 mil cartões de descontos progressivos, visitou as empresas da região para informar que aniversariantes acompanhados não pagam o rodízio, distribuiu folders nas portas dos colégios da região com prêmios que vão desde descontos e rodízios grátis no restaurante até brindes nas escolas e academias parceiras.    “Envolvi toda a comunidade em uma espécie de clube de vantagens”, diz Lira. Parcerias com sites de compras também foram realizadas. Segundo ele, a ação tem dado certo. “Começamos em maio e agora estamos colhendo os frutos”, afirma.   Para economizar, casal optou por reunir amigos em casa   Casados há 12 anos, a engenheira de Segurança do Trabalho Marcelle Hermann e o técnico em Segurança do Trabalho Gustavo Souza adoram o ambiente boêmio e sempre frequentaram os bares. No entanto, a alta dos preços mudou a rotina do casal.    “Tudo está caríssimo. Por isso, preferimos nos reunir com os amigos em casa. Além de ficar mais barato, é mais confortável e agradável. Sem contar que temos criança, que sempre consome alguma coisa”, afirma Marcelle. De acordo com ela, a conta fica pelo menos 60% mais barata.  Quando eles decidem frequentar algum estabelecimento, o tempo de permanência é reduzido. “Se vamos a algum bar para assistir a um jogo, por exemplo, saímos assim que a partida termina”, diz Marcelle.   O comportamento do casal é repetido por outras milhares de pessoas em Belo Horizonte. Entre elas, a engenheira civil Juliana Costa. Assustada com os preços da alimentação fora do lar, ela, o noivo e um grupo de amigos montaram um grupo em uma rede social chamado Encontro Gourmet. O nome já diz tudo. Por meio da ferramenta, eles marcam encontros gastronômicos.   De acordo com Juliana, enquanto uma conta em um bar chega a R$ 60 por pessoa, um jantar com entrada, prato principal e sobremesa sai por R$ 25 em casa. Isso, sem a bebida.   “Eu gosto de vinho, que custa muito caro no restaurante. No supermercado, posso comprar um mais em conta e fico bem. Meu noivo gosta de cerveja, que custa cerca de R$ 9 no bar. Gastamos muito menos e nos divertimos mais”, comemora.   Estabelecimento com tíquete inferior a R$ 15 amplia clientela   O diretor-executivo da Abrasel em Minas Gerais, Lucas Pêgo, é taxativo. Enquanto as casas com tíquete médio acima de R$ 30 perderam clientela e precisaram se reinventar para sobreviver no mercado, as que oferecem produtos mais baratos e possuem tíquete inferior a R$ 15 ganharam público. Neste meio, as casas especializadas em espetinhos, que não cobram entrada, 10% e muitas vezes oferecem shows ao vivo, ganham mercado.   “Sem contar que esse tipo de estabelecimento precisa de menos mão de obra especializada. E a mão de obra chega a representar até 35% dos custos de uma casa”, afirma Pêgo. Os insumos representam 30% dos custos, enquanto a aquisição e manutenção de maquinário e uniformes consomem 8% do faturamento. O aluguel, 12%, os impostos, 10%, água, luz e gás representam 5%.   Por semana, pelo menos 4 mil pessoas passam por cada uma das unidades do O Rei dos Espetinhos, localizadas no Prado, região Oeste, Floresta, região Leste e no Anchieta, na região Centro-Sul, de acordo com o proprietário, Alisson Andrade Godinho.   Em todas unidades, o valor dos produtos (cerveja, espetinhos comuns e refrigerante) é o mesmo: R$ 6. “A pessoa pode tomar quatro long necks e comer dois espetinhos com R$ 36. Ou comer dois espetinhos e tomar dois refrigerantes com R$ 24. Isso, sem pagar para entrar, sem pagar 10%. É um valor muito em conta”, diz o empresário.    De acordo com ele, o faturamento da unidade do Anchieta, inaugurada há pouco tempo, tem crescido a passos largos. O das demais casas, no entanto, tem andado mais devagar.   Mix   Embora o movimento do Rock Esporte Clube, no Funcionários, tenha se mantido muito alto, o faturamento da casa registrou leve queda. De acordo com o proprietário, Daniel Ballesteros, as pessoas têm segurado a mão na hora de gastar.   A casa serve espetinhos e long necks, mas também oferece porções e chopes. Para atrair a clientela, Djs animam a noite às quintas e sextas, sempre sem cobrança de entrada. “Também fazemos muitas promoções de chopes, que saem por até R$ 4, mais barato do que a long neck”, diz Ballesteros.

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