Freada chinesa já corta empregos em Minas Gerais

Bruno Porto - Hoje em Dia
10/02/2015 às 06:32.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:58
 (Eugênio Moraes/Hoje em Dia)

(Eugênio Moraes/Hoje em Dia)

A desaceleração da economia chinesa já causa reflexos negativos em Minas Gerais, com corte de emprego nas minas de ferro. O menor apetite do gigante asiático pela commodity jogou os preços do insumo para baixo, reduziu a rentabilidade do negócio e promoveu o corte de 200 postos de trabalho na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Congonhas, na região de Campos das Vertentes.

Publicado na primeira semana deste mês, um relatório da agência de classificação de risco Moody´s apontou a CSN como a mineradora brasileira com maior vulnerabilidade em um cenário de redução de importação de minério de ferro por parte da China.

Dois dias antes, na segunda-feira (2), o Departamento de Recursos Humanos da CSN se reuniu com o Sindicato Metabase de Congonhas para informar que 200 trabalhadores seriam desligados da empresa e de sua controlada, a Namisa, neste mês, como resultado da depreciação do preço do minério, informou o secretário-geral do sindicato, José Antônio de Freitas. “As demissões já são 30 e vão chegar a 200 até o final de fevereiro”, disse. De acordo com Freitas, a Namisa emprega cerca de 1.600 trabalhadores e a CSN, outros 2.800 funcionários.

A empresa não comenta o assunto. O resultado financeiro da CSN, que inclui a Namisa, registrou prejuízo líquido de R$ 250 milhões no terceiro trimestre de 2014 – último demonstrativo financeiro publicado. O documento revela alta de 7% nas vendas em comparação com os três meses anteriores. O volume comercializado atingiu 7,7 milhões de toneladas. Mesmo com o maior volume, a receita líquida caiu 18% e totalizou R$ 918 milhões.

A China deverá crescer em 2015 entre 5% e 7%, estima a Moody´s. O país é o principal parceiro econômico do Brasil, respondendo por 18% das vendas externas, e de Minas Gerais, onde é o destino de 30% das exportações.

O minério de ferro responde por 40% de tudo o que é exportado por Minas Gerais, sendo 70% dele destinados à China, e a deterioração dos indicadores econômicos lá tem impacto direto aqui. A Moody´s colocou o Brasil no quinto lugar no ranking de países mais expostos ao arrefecimento do crescimento chinês na América Latina, e analistas avaliam que em Minas Gerais a vulnerabilidade é maior.

“Um menor crescimento chinês vai pegar o Brasil no meio de uma reorganização da economia e pode causar estragos. Mas para Minas a situação é bem pior, com intensificação da paralisação de atividades nas minas, redução de arrecadação de tributos e corte de empregos. Mineradoras de médio porte são mais afetadas, porque não conseguem se manter competitivas com o preço do minério”, afirmou o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen.

O último resultado do PIB em valores correntes publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de 2012 e aponta para Minas Gerais a cifra de R$ 403,6 bilhões. Considerando o dólar médio de R$ 1,95 daquele ano, as exportações de Minas Gerais para a China, de US$ 10,548 bilhões na mesma época, tiveram peso de 1,3% no PIB do Estado.

“A menor demanda chinesa, associada aos preços em queda do minério, vai ter impacto no crescimento da economia estadual, que deverá encerrar 2015 no negativo. Menor importação de minério pela China vai gerar menor ritmo de atividade econômica, perda de emprego e renda, com reflexos no consumo e arrecadação estadual. No final, isso é revelado no PIB”, observa o professor do Ibmec e doutor em economia Paulo Pacheco.

Domínio da logística e escala de produção poupam a Vale

Pelo relatório da Moody´s publicado na semana passada, a Vale, gigante brasileira do setor de mineração com produção majoritária em Minas Gerais, deve ser a mineradora com menor impacto da desaceleração chinesa. Isso se deve ao seu melhor posicionamento em termos de logística e escala, o que lhe assegura mais competitividade em períodos de preços baixo.

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), apontada como a mais exposta ao menor crescimento chinês, é a segunda maior produtora de minério do país e, de acordo com a Moody´s, seus contratos com a China representam 50% das vendas.

Paulo Pacheco, do Ibmec, lembra que, em ciclos de baixa do minério, é no município minerador onde são percebidos os primeiros impactos, uma vez que a economia local gira em torno da indústria extrativa.

“Começa na alta do desemprego, que depois vai gerar uma pressão sobre os serviços públicos, sobretudo aqueles de assistência. Na maioria da vezes, essas cidades não estão preparadas para isso”, disse.

O professor ainda comenta que tanto o governo mineiro como as empresas mineradoras instaladas aqui se acomodaram com o período de bonança das commodities, que atravessaram longo ciclo de valorização nos últimos anos.

“Não houve e não há em curso, nem pelo poder público nem pela iniciativa privada, o planejamento de estratégias de longo prazo para o comércio internacional. Por isso, não diversificamos os destinos das exportações de minério e tampouco os produtos exportados”, afirmou Pacheco.
 

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