Indústria moveleira cai e deixa Ubá à míngua

Bruno Porto - Hoje em Dia
16/06/2015 às 06:22.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:29
 (Arquivo)

(Arquivo)

A redução do consumo e a consequente desaceleração do ritmo de atividade industrial faz vítimas no município de Ubá, na Zona da Mata mineira, principal polo moveleiro do Estado. Nos últimos dois meses, pelo menos seis fabricantes de móveis interromperam as atividades e colocaram na rua mais de 600 trabalhadores. No ano, as demissões somam 1.500 somente no setor. Vapor do comércio, quando a indústria de móveis demite, os lojistas também sofrem e cerca de 30 estabelecimentos fecharam as portas. Somado com a redução de pessoal de outras lojas, este ano o comércio já dispensou 2.400 trabalhadores no município.

Ubá é uma das cidades-polo de Minas Gerais, e abriga em seu entorno mais de 660 empresas fabricantes de móveis. Foi planejada como Arranjo Produtivo Local (APL) e uma das apostas de diversificação da economia estadual, assim como o polo de eletroeletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, e o calçadista, em Nova Serrana. Hoje encara o efeito cascata devastador que atinge o setor público, o comércio e a indústria, com a pujança dando lugar à recessão. Na edição de segunda-feira (15) o Hoje em Dia mostrou a situação dos municípios de Itabira e Ipatinga.

Na Prefeitura de Ubá, onde metade das receitas vem da indústria moveleira, o impacto é transformado em cortes. No custeio de cada secretaria o prefeito reduziu 20% das despesas. Os investimentos da secretaria de obras serão 40% menores neste ano. “Ampliações de escolas e do atendimento da rede de saúde que estavam previstos não vão mais ocorrer”, disse o prefeito Edvaldo Baião (PT-MG). Somente de ICMS o Executivo contabilizou retração nos repasses de 17% neste ano, de janeiro a abril, na comparação com igual intervalo de 2014.

Obrigações

O presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá (Intersind), Michel Pires, confirma o fechamento das empresas e que parte delas não honrou com suas obrigações trabalhistas ao encerrar as atividades. “As empresas fecharam porque quebraram e outras vão fechar. Sabemos que algumas não acertaram as contas com os trabalhadores. O fato é que não existe venda, ninguém compra, e a situação não deve melhorar por agora”, prevê.

O presidente do Sindicato dos Marceneiros de Ubá, José Carlos Reis Pereira, informou que as seis empresas que encerram atividade no município são: Kiplac Móveis, Josep, Makplus, Thinassi, Carol Estofados e SFM. Elas são responsáveis por mais de 600 demissões. A reportagem tentou contato com todas elas por telefone, mas não teve sucesso.

O sindicato negocia com outras cinco empresas que estão com produção parcialmente paralisada como forma de conter as demissões, e tem conseguido acordo com algumas.

Comércio busca alternativas, mas permanece incrédulo

Com aproximadamente 30 lojas fechadas e severo enxugamento do quadro de trabalhadores, o comércio de Ubá sente os reflexos das demissões no polo moveleiro da cidade, se movimenta para minimizar seus efeitos, mas não vê no curto prazo recuperação sólida.

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Ubá (Aciubá), William Rosignoli, observa que as lojas da cidade contabilizam forte queda de vendas. “Quando o trabalhador perde o emprego na fábrica de móveis e fica sem receita, o primeiro impacto é no comércio, que deixa de vender e acaba entrando na crise também. Para agravar a situação, os imóveis da região comercial da cidade estão muito caros e concentrados nas mãos de poucas pessoas, que não aceitam uma negociação no preço do aluguel. Isso tem acelerado o processo de fechamento de lojas e demissões”, afirmou.

Para minimizar os impactos da crise no comércio os lojistas se unem para fazer promoções em conjunto, e trazer para a cidade consumidores de outras cidades, vizinhas a Ubá.

O prefeito de Ubá, Edvaldo Baião, diz que a situação é difícil para a cidade, até então acostumada com índices de pleno emprego. “O desemprego nunca foi realidade aqui, e a diferença dessa crise é que não vemos reação, com a crise se estendendo. Tentamos atrair investimentos, tanto públicos como privados, para tentar gerar vagas de emprego em outros setores como construção civil e redes de varejo e atacado, mas a indústria do móvel tem uma importância econômica muito relevante”, disse.

Entre os investimentos citados pelo prefeito está a construção de uma segunda unidade de uma grande rede varejista na cidade, com abertura de 140 postos de trabalho, além da construção de um presídio e a liberação de R$ 1,2 milhão de verbas federais para obras pela secretaria de Defesa Civil.

150 milhões de reais é o orçamento anual da prefeitura de Ubá

1,5 mil trabalhadores foram demitidos na indústria do móvel em Ubá, segundo a prefeitura municipal

“Seis empresas fecharam, mas estão em situação muito ruim praticamente todas. O consumidor deixou de consumir, e o lojista, de comprar da indústria. Além disso, o preço das matérias-primas está em alta, não tem muita solução agora”
Michel Pires - presidente do Intersind

7 dias e nenhum carregamento de móveis pelos fabricantes do polo moveleiro de Ubá



 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por