Inflação faz auxílio emergencial 'enxuto' encolher ainda mais

André Santos e Evaldo Magalhães
primeiroplano@hojeemdia.com.br
23/03/2021 às 19:48.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:29
 (Marcello Casal JrAgência Brasil)

(Marcello Casal JrAgência Brasil)

Após uma novela que se estendeu desde fevereiro, o governo federal finalmente definiu algumas regras e datas para a reedição do auxílio-emergencial, medida que, em 2020, salvou milhões de brasileiros da miséria, em meio à pandemia. Os valores da nova rodada, que devem ser pagos a cerca de 45 milhões de famílias em quatro parcelas, a partir da segunda quinzena de abril, contudo, são bem inferiores aos do ano passado: de R$ 600, média no auge dos pagamentos, oscilarão entre R$ 150 e R$ 375, dependendo do perfil do beneficiário. 

Além de menores, as quantias agora propostas também chegam impactadas severamente pela inflação. Do primeiro semestre de 2020 até fevereiro, por exemplo, houve grande elevação de preços de itens como os de alimentação – também em virtude da crise sanitária e econômica instalada no ano passado, com alta do dólar e preferência de produtores nacionais pela exportação. 

A cesta básica mensal da capital mineira, composta por 13 produtos alimentícios para um trabalhador, calculada pelo Ipead da UFMG, por exemplo, subiu de R$ 490,15, em junho do ano passado - quando ao “coronavoucher” predominante era de R$ 600 -, para R$ 570,80 em fevereiro deste ano, puxada por itens como óleo (71% mais caro) e arroz (52% de aumento). E o benefício federal, em abril, será de R$ 150 para quem vive sozinho (25% do que foi pago mensalmente em 2020). 

Para o economista Felipe Leroy, mesmo carcomido pela inflação, o dinheiro que irá circular com a renovação do auxílio emergencial deve trazer alívio. “Sabemos que o reflexo será menor do que ano passado, mas, mesmo assim, é algo que trará condições para que hajauma movimentação econômica, algo que, nos últimos dois meses, perdeu força, significativamente”, sustenta.

Comida

Mesmo com menor poder de compra, o novo ”coronavoucher” deve ajudar bastante as famílias de baixa renda. Levantamento da Central Única de Favelas em Minas Gerais (Cufa-MG) mostra que quase 3 milhões de pessoas chegaram ao fim do ano passado em situação de extrema miséria no Estado, e que, dessas, 70% chegaram a passar fome nos primeiros meses de 2021. 

Quase 3 milhões de mineiros chegaram ao final de 2020 em situação de extrema miséria

A pesquisa mostra ainda que, sem o auxílio, 53% de tais pessoas precisaram diminuir os gastos com alimentos. Além disso, a pesquisa aponta que, na última quinzena de fevereiro, 68% das pessoas afirmaram que faltou dinheiro em pelo menos um dia para comprar comida. Para o coordenador nacional da Cufa, Leonardo Ribeiro, o auxílio traz alento justamente nesse sentido. “Não é o ideal, mas já vai garantir um pouco de comida para os que mais necessitam”, explica Ribeiro.​ARTE

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