Inflação maior que a rentabilidade corrói o saldo da caderneta de poupança em 2015

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
26/04/2015 às 08:08.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:46
 (Luiz Costa/Hoje em Dia)

(Luiz Costa/Hoje em Dia)

Investimento mais popular do país, a caderneta de poupança é destino das economias de quase 60% da população. O problema é que a queridinha dos brasileiros tem ganhado ares de vilã. No primeiro trimestre do ano, quem optou pela modalidade para guardar ou ganhar dinheiro, acabou, na verdade, perdendo. Ela deixou, inclusive, de proteger o patrimônio.    O que acontece é que a inflação alta vem engolindo a rentabilidade da poupança. Cálculo feito pelo diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, mostra que enquanto a aplicação mais utilizada no Brasil rendeu 1,72% entre janeiro e março, a inflação oficial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) avançou 3,83%. O resultado é uma perda real da poupança de 2,07%.    Analisando só o mês de março, quando a rentabilidade da caderneta foi de 0,51%, ante um aumento de preços de 1,32%, o prejuízo fechou em 0,80%.    O analista de mercado e professor da Faculdade Horizontes Paulo Vieira faz as contas na ponta do lápis.    “Considerando um valor de R$ 1.000 depositado durante um mês, o rendimento seria de R$ 5,17 no período, o que, incorporado ao capital, daria R$ 1.005,17 após 30 dias. No entanto, como a inflação foi de 1,32%, a poupança deveria render, apenas para empatar com a inflação, R$ 13,20, perfazendo um saldo de R$ 1.013,20 ao final do mês. O que não aconteceu. Ou seja, a perda monetária chega a R$ 8,03”, afirma.    Em outro exemplo, usando como base as taxas de inflação e a rentabilidade da poupança no primeiro trimestre de 2015, além da aplicação dos mesmos R$ 1.000 na poupança, o professor calcula que é como se R$ 21,10 tivessem escorrido pelo ralo.    “A poupança é uma aplicação de fácil apelo e liquidez. Mas a última coisa que quem aplica deve pensar é em ganhar. No máximo, a pessoa diminui o prejuízo que teria se o dinheiro estivesse embaixo do colchão”, diz Paulo Vieira.    E o pior é que analistas preveem que a perda deve se repetir muitas vezes neste ano. Segundo especialistas, esse tipo de aplicação só voltará a ser atrativo quando o dragão der uma trégua, cenário fora do radar em 2015.    “Do jeito que a economia anda patinando, tudo leva a crer que a inflação irá ultrapassar a casa de 8% neste ano. Até o Banco Central já admite esse panorama. Então, se a pessoa tiver até R$ 10 mil e não for precisar do dinheiro a curto prazo, é aconselhável buscar outras alternativas, como Fundos de Renda Fixa, Certificado de Depósito Bancário (CDB) ou Tesouro Direto”, afirma o professor.    Além da voracidade do dragão, contribui para a queda da atratividade da poupança a escalada da taxa básica de juros. Em março, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou mais uma vez a Selic, para 12,75% ao ano, o maior nível em seis anos. E a perspectiva é a de que um novo aumento pode vir na próxima reunião.    “Com uma Selic a quase 13%, praticamente qualquer investimento se torna mais atrativo que a poupança, mas os brasileiros não sabem disso e acabam perdendo recursos”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Educação Financeira, o consultor Reinaldo Domingos.    A exceção, segundo ele, vale para investimentos a curto prazo, de até seis meses. A poupança também pode funcionar para a formação de uma pequena reserva para situações de emergência, já que existe a possibilidade de resgate do dinheiro a qualquer momento, sem cobrança de taxa ou multa.   Alta do custo de vida pressiona saques, e saída de recursos é a maior da história   Além da rentabilidade baixa, a caderneta vem sofrendo outro golpe: com a disparada do custo de vida, os brasileiros estão raspando as economias.    Segundo dados do Banco Central, em março deste ano, a poupança registrou a maior fuga de recursos da série histórica, iniciada em janeiro de 1995, e bateu um novo – e indigesto – recorde pelo terceiro mês seguido. Com o reajuste das contas de água e luz e aumento do preço da gasolina e dos impostos, as pessoas fizeram mais saques do que depósitos. E o resultado para o mês foi um saldo negativo de R$ 11, 43 bilhões.    “O consumidor acaba retirando o dinheiro da poupança porque o salário já não dá para cobrir todas as despesas. E não faz sentido ter recursos na caderneta rendendo 0,5% ao mês quando se tem de pagar juros de 10% a 12% pelo cheque especial ou cartão de crédito”, aponta o diretor da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira.    E a tendência é a de que os saques continuem superando os depósitos. “Inflação crescente, aumento do desemprego, renda contida. Tudo isso dificulta fechar o orçamento no azul. E até o final do ano, quando é pago o 13º salário, os trabalhadores não terão refresco. Certamente a poupança vai sofrer”, avalia o analista Paulo Vieira.    Sobrou até para o cofrinho de casa. Segundo a comerciante Aleida Moreira de Andrade, dona da Para Casa Utilidades Domésticas, as vendas de cofres de gesso cresceram neste ano. “Por necessidade, muitos clientes quebraram o cofre antigo para resgatar a economia e voltaram para comprar um novo”, diz.    Na Fabiano Valente, na Savassi, o freguês encontra nas prateleiras quase 500 tipos de cofres. Os preços variam de R$ 20 a R$ 200. “Eu mesma já consegui juntar R$ 2 mil para uma viagem”, conta a sócia da loja, Sônia Valente. 

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