Livrarias reinventam o negócio para faturar

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
23/04/2014 às 08:15.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:15
 (André Brant)

(André Brant)

No país onde cai o número de livros vendidos, livrarias se reinventam para sobreviver. Em Belo Horizonte, grande parte delas já não depende só da venda das publicações. A nova geração de estabelecimentos incorporou ao negócio editoras, cafés, restaurantes, loja de presentes e até show de música ao vivo. A ideia deu tão certo que entretenimento e alimentação respondem por 50% do faturamento das empresas.

“O café ajuda a livraria e vice-versa. São atividades complementares, uma mistura boa”, diz o gerente da Status, Gustavo Batista. Há quatro meses, a casa, que oferece bufê aos domingos de manhã, ampliou o cardápio e passou a servir almoço a quilo, de segunda a segunda.

Todos os dias, a partir das 19 horas, há música ao vivo. No repertório, blues, jazz, bossa nova, MPB e chorinho. Na casa instalada no coração da Savassi, o cliente também encontra brinquedos, camisetas e artigos de informática. “O brasileiro não tem cultura de ler. Para sustentar o negócio, temos que diversificar”, afirma Gustavo.

No Café com Letras, também na Savassi, a culinária e livraria dividem o espaço e complementam a receita. “Uma atividade ajuda a outra. Essa é a nova realidade do mercado”, diz a gerente da livraria, Sara Ramos de Oliveira. São 1 mil títulos e um cardápio de dar água na boca.

Com dificuldades para vender livros na sua loja na Savassi, Welbert Belfort, proprietário da Livraria e Editora Scriptum, investiu em um site. Desde a criação do espaço virtual, há um mês, ele conseguiu recuperar parte das perdas sofridas na loja física. “Neste ano, as vendas de livros caíram 30% na livraria. E com Copa do Mundo, feriados e eleições, as perspectivas são assustadoras. O site é que tem nos ajudado”, revelou.

Com a ferramenta, os livros que vende e edita passaram a ser comercializados com mais facilidade em outros Estados. Rio, São Paulo, Santa Catarina, Bahia, Pernambuco, Goiás, Paraíba e Distrito Federal estreitaram os laços e aumentaram as compras. “Editamos livros de escritores renomados, o que contribui para atrair mídia e divulgação”, diz Belfort.

Livreiro e editor da Asa de Papel, Álvaro Gentil é mais otimista. “É dificílimo sobreviver num mercado cada vez mais exigente e com pequena margem de ganho. Mas sempre teremos leitores e gente escrevendo. Acredito na estabilidade”, aposta.

Brasileiro lê pouco e compra cada vez menos livros

O brasileiro lê menos de quatro livros por ano. Na Europa, por exemplo, a média de leitura é de sete publicações por habitante. Dados de 2013 só serão divulgados no final deste semestre. Mas pesquisa encomendada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) mostra que as editoras brasileiras venderam 434,92 milhões de livros em 2012, queda de 7,36% em relação aos 469,46 milhões de exemplares de 2011.

Em contrapartida, o faturamento foi de R$ 4,98 bilhões, crescimento de 3,04% ante o ano anterior, quando o resultado foi de R$ 4,83 bilhões. Ou seja, o livro está custando mais caro. O preço médio praticado pelas editoras é R$ 13,66. O consumidor final paga mais: R$ 34.

O levantamento também revela que se for considerada apenas a parcela vendida ao mercado (excluindo o governo), a queda no número de exemplares vendidos chega a 5,43%, com um total de 283,98 milhões em 2011, ante 268,56 milhões, em 2012. Nesse caso, o faturamento cresceu 0,4%, já descontada a inflação.

Para o sócio da Leitura, Marcus Teles, apesar dos resultados ruins do mercado em geral, há espaço para novas livrarias. “Existe uma concentração. Cidades brasileiras com 100 mil, 200 mil habitantes, não possuem livrarias. Mesmo municípios da Grande BH com potencial, como Santa Luzia e Ribeirão das Neves, não contam com estabelecimentos de porte”, diz. Não é à toa que a Leitura prepara nove inaugurações para 2014. Entre os destinos, Porto Velho, Recife, São Luiz, Fortaleza e Belém.

Em BH, segundo a Câmara Mineira do Livro, funcionam 233 estabelecimentos, entre livrarias e papelarias.

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