Maioria das famílias onde falta comida compra fiado

Agência Estado
18/12/2014 às 15:51.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:25

A maior parte (43,3%) das famílias que enfrentaram falta de alimento em 2013 tentou resolver a dificuldade comprando fiado, aponta pesquisa sobre segurança alimentar do brasileiro divulgada nesta quinta-feira (18), pelo IBGE. A segunda maior estratégia foi pedir alimentos emprestados a outras pessoas. Em menor incidência, houve quem tenha deixado de comprar alimentos supérfluos; pedido dinheiro emprestado; reduzido o consumo de carnes e recebido doações, entre outras respostas.

O suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostrou que 7,2 milhões de pessoas no País convivem com a fome. Elas moram em 2,1 milhões de domicílios onde pelo menos uma pessoa passou um dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para comprar comida, nos três meses anteriores à pesquisa. No termo técnico, essas pessoas vivem em insegurança alimentar grave e são 3,6% do total de moradores em domicílios particulares (193,9 milhões). Houve avanço em relação a 2009, quando 11,3 milhões de pessoas (5,8% do total) vivam sob ameaça da fome - uma redução de 36%.

A pesquisa não revela quantas pessoas efetivamente passam fome no país. Em 2013 o IBGE investigou pela primeira vez a atitude das famílias diante da falta de alimentos e não há comparação com outros anos.

Presente à divulgação da pesquisa, o secretário de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), demógrafo Paulo Jannuzzi, disse que grande parte das pessoas que vivem em insegurança alimentar grave está em áreas de difícil acesso e de extrema pobreza do Norte e Nordeste. "Povos isolados da região Norte e bolsões de pobreza no Nordeste já estão sendo objeto de ações específicas, mas outras ações precisarão ser deflagradas para garantir que tenham acesso a alimentos. A distribuição de cestas básicas é uma das estratégias de que o governo se vale, pela dificuldade de produção nas próprias comunidades. Procuramos identificar população quilombola, índios, ribeirinhos, povos da floresta. É uma estratégia que ainda tem que persistir, com seus desafios, inclusive pelo isolamento de muitas comunidades", afirmou.

Jannuzzi considerou positivo que a maioria das famílias recorra à compra fiado para resolver o problema. Para o secretário, é um indicativo de que elas têm crédito no mercado, graças a programas sociais. "Recorrer à compra fiado revela o sucesso da estratégia do governo brasileiro em fazer a ampliação dos programas de transferência de renda para a população mais pobre. Exatamente no Norte e Nordeste é que mais recorrem ao comércio para pedir fiado, porque eles têm crédito na praça. O cartão do Bolsa Família garante ao comerciante que aquela dívida será honrada. É revelador que um menor número de famílias peça a vizinhos, como era a estratégia há dez ou quinze anos. Ou recorria a entidades religiosas. Muitas dessas famílias preferiram comprar fiado do que deixar de comer carne ou frutas", destacou.

O representante do MDS fez questão de esclarecer que a informação de que 7,2 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar grave não significa que todas passem fome. "Não é correto dizer que temos sete milhões de pessoas que passam fome. São pessoas residentes em domicílios onde foi reportado que pelo menos um indivíduo deixou de se alimentar propriamente e passou fome nos últimos três meses. Dos 52 milhões que vivem em algum grau de insegurança, 34 milhões vivem em domicílios onde há preocupação de que venha a faltar alimento. Não estão passando fome de modo algum", afirmou o secretário.

É considerada insegurança alimentar leve a situação em que a família tem preocupação ou incerteza quando à disponibilidade de alimentos no futuro. A insegurança média refere-se à família onde houve redução da quantidade de alimentos entre os adultos.
http://www.estadao.com.br

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