Mercado vê blefe da China para baratear o minério de ferro

Bruno Porto - Hoje em Dia
20/12/2013 às 06:26.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:55
 (Ricardo Bastos)

(Ricardo Bastos)

A sinalização do governo chinês de que efetuará corte na produção de aço no país, inclusive com o desligamento de usinas obsoletas, visando menor agressão ao meio ambiente, não convenceu o mercado, que vê blefe do governo asiático na tentativa de derrubar o preço do minério de ferro, matéria-prima da produção siderúrgica.

Se a China realizar redução significativa na fabricação de aço, a decisão causaria importantes alterações no mercado mundial, uma vez que o país asiático abriga o maior parque siderúrgico do mundo e é o maior importador de minério de ferro do planeta. Além da descrença sobre a redução da produção siderúrgica, especialistas veem apenas motivações sazonais na recente queda dos indicadores de produção de aço chinês.

No mês passado, as usinas chinesas produziram 60,9 milhões de toneladas, uma queda de 6,5% em comparação com outubro, o nível mais baixo desde dezembro do ano passado, de acordo com dados do Escritório Nacional de Estatísticas.

“Estamos em um período de inverno rigoroso na China, o que reduz a velocidade dos investimentos em construção e afeta até mesmo a operação de algumas usinas. Isso acontece todo ano. A China fala em reduzir a capacidade de produção há 20 anos e nunca o faz”, diz o analista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi.

Uma usina na província de Hebei foi fechada recentemente, mas não foi o suficiente para vencer o descrédito do governo. Segundo a provedora de preços e notícias sobre commodities Platts, a planta que foi fechada em Hebei tem produção irrisória. Seriam menos de 7 milhões de toneladas por ano, em um total estimado em 1 bilhão de toneladas anuais.

A diretora de energia e recursos naturais da consultoria EY (antiga Ernst & Young), Luciana Pires, observa que a própria Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, indica em seus balanços que a demanda na Ásia vai aumentar nos próximos anos e que as sobras de aço no mundo vão permanecer pressionando as margens de preço do setor siderúrgico. “No Brasil já temos uma ociosidade nas usinas maior do que a média mundial. A tendência é de que esse processo continue, com ociosidade alta, demanda em queda e preços mais baixos”, afirma.



O sócio da consultoria PwC e especialista em mineração, Ronaldo Valiño, considera que a ideia propalada de redução da produção é uma estratégia de mercado da China para conter a valorização do minério. Porém, ele não acredita em sua efetividade.

Minas ganha na mineração, mas perde na siderurgia

Se a China precisa de minério mais barato para alimentar seus altos-fornos, Minas Gerais se beneficia quando a matéria-prima do aço está valorizada, uma vez que a balança comercial do Estado é sensível aos preços da commodity.

Neste ano, até novembro, Minas Gerais contabiliza exportações totais de US$ 30 bilhões. Desse valor, 46,8% (US$ 14,2 bilhões) são minério de ferro, e 64,7% disso (US$ 9,2 bilhões) foram para a China.

Em 2002, o país asiático era destino de 39% do minério extraído em Minas. A receita com exportações de minério para a China saiu de US$ 470 milhões em 2002 para os atuais US$ 9,2 bilhões em 11 meses deste ano. Um crescimento de 1.857.

As altas taxas de crescimento da economia chinesa, que aumentaram a demanda global por ferro, puxaram também os preços. Entre 2002 e 2013, a disparada no preço do insumo chegou a 981%. O minério de ferro fechou o ano de 2002 com a tonelada cotada a US$ 12,68, para atingir neste ano US$ 136.

Na queda de braço entre produtor e comprador, Minas está ganhando quando se trata apenas de minério de ferro, mas perde sob a ótica siderúrgica. A produção de aço em alta na China joga para baixo o preço do produto, do qual Minas é o maior fabricante do país.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por