Minério mais pobre do Brasil vai virar produto premium

Bruno Porto - Hoje em Dia
26/05/2014 às 08:48.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:44
 (João Marcos Rosa/Nitro/Divulgação )

(João Marcos Rosa/Nitro/Divulgação )

Relegado por outras mineradoras e com teor de ferro mais próximo de rejeito do que de produto comercializável, o minério depositado no solo de Morro do Pilar, na região do Médio Espinhaço, vai cruzar o oceano com status de produto nobre, inclusive mais caro do que o minério extraído em regiões tradicionais, como o Quadrilátero Ferrífero ou a nova fronteira minerária do Pará. A mineradora Manabi, fundada em 2011, confia no rigor dos processos de beneficiamento para conseguir margens de lucro sustentáveis mesmo com um custo de produção duas vezes maior do que para o minério comum.


A Manabi recebeu dois aportes financeiros e hoje tem capital de US$ 850 milhões. A composição societária inclui um fundo de Previdência Privada de Ontário (17,8%), no Canadá, o Korea Investment Group (17,3%), um fundo soberano coreano, o grupo brasileiro Fábrica (14,7%) e os australianos do setor de energia da EIG (11,5%). O britânico South Eastern detém 9,1% e o restante é pulverizado em percentuais menores.


Em um primeiro momento, o sentimento pode ser de incredulidade ao ver uma empresa júnior tentar ser competitiva com um minério com teor de 30% de ferro, enquanto as gigantes da indústria extrativa lavram o mineral com até 60% de teor. No entanto, o gerente-geral de processos de tecnologia da Manabi, Camilo Silva, explica que a excelência nos processos e a busca pelo nicho certo de mercado vão garantir a viabilidade e rentabilidade do negócio.


“Estamos aplicando tecnologias que não são as mais baratas. Também não são técnicas inovadoras. O que vamos perseguir é o rigor nos processos, e com algumas diferenças do modo tradicional”, disse.


A Manabi vai moer o minério de ferro até que chegue a uma granulometria que separe a hematita do quartzo em duas frações de tamanho. Granulometria melhor definida e mais uniforme assegura um desperdício menor. “Nosso rejeito terá um teor de 8% enquanto o de outras empresas tem 20% ou mais”, disse Silva.


Para chegar a um minério rico, de 68% de ferro, a empresa vai movimentar muito mais material na mina para uma produção menor. No entanto, o teor acima de 62%, que é o tradicional do mercado, pode ter um prêmio de US$ 30 por tonelada, hoje cotada a US$ 100. É aí que está a margem de lucro da empresa, que terá um custo de produção de US$ 40 por tonelada, o dobro do comum no setor.
 

Manabi se beneficia de preços em queda


O projeto da Manabi, que consiste em mina, mineroduto e porto (ES), encontra-se em processo de licenciamento ambiental. A companhia aguarda a emissão da Licença Prévia, já requerida ao órgão ambiental. O plano da empresa é iniciar a produção em 2018.


“As condições de hoje, com preço em queda e ociosidade no parque de serviços e de fornecedores, são boas para nós. Apostamos que no start up da mina os preços estarão em novo ciclo, de alta”, afirmou o gerente-geral de processos e tecnologia da Manabi, Camilo Silva.


Do total orçado para o projeto, de R$ 10,5 bilhões, R$ 6,5 bilhões serão investidos em Minas Gerais, distribuídos em mina, estruturas de processamento e beneficiamento do minério de ferro, e mineroduto, que vai escoar a produção de Morro do Pilar para o porto que a empresa vai construir em Anchieta, no Espírito Santo.


A previsão é que a partir da emissão da Licença de Instalação, que permite o início das obras, serão 40 meses até a conclusão das obras.


O produto final, o pellet feed premium, a ser comercializado pela mineradora, tem como destino usinas siderúrgicas que usam a técnica de redução direta com gás natural. “Hoje, no Brasil não há mercado, mas o próprio gás da bacia do São Francisco, se viabilizado, potencializa nossos negócios”, disse. 


A companhia ainda vai precisar captar recursos no mercado e não descarta uma oferta pública de ações, embora veja outras opções. “Quando as licenças forem emitidas, o plano ganha mais atratividade e por consequência mais facilidade da atração de investidores”, afirmou Silva. 

 

A Manabi iniciou os procedimentos para abrir capital na BMF Bovespa, mas abortou o plano. Em 2011, a Comissão de Valores Mobiliários chegou a conceder o registro de empresa de capital aberto à Manabi.
 

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