Mineração de nióbio e fosfato triplica o PIB de Araxá em uma década

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
13/07/2014 às 08:58.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:21
 (Marcelo Prates/Arquivo Hoje em Dia)

(Marcelo Prates/Arquivo Hoje em Dia)

ARAXÁ – Nesta cidade do Alto Paranaíba, com menos de 100 mil moradores, fincaram endereço gigantes da mineração. Do solo rico do pacato e charmoso município saem minérios fosfatados direcionados ao agronegócio e nióbio, metal raro utilizado para a produção de ligas especiais, como aços resistentes a altas temperaturas para uso em turbinas de aviões e naves espaciais. Riquezas que se traduzem em emprego e renda para a população e o comércio local.

Terra de Dona Beja e de fontes de águas termais, Araxá, tema da sétima matéria da série de reportagens sobre cidades mineradoras, publicada aos domingos pelo Hoje em Dia, assiste a um salto na sua economia. Puxado pelo motor da mineração, em uma década, o Produto Interno Bruto (PIB) subiu de R$ 810 milhões, em 2001, para R$ 2,8 bilhões, em 2011.

As cifras provenientes da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem) também impressionam, com crescimento de 53% entre 2012 e 2013. Só até junho deste ano, o imposto somou aos cofres municipais R$ 3,57 milhões.

Grande parte dos recursos é proveniente das atividades da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), o mais importante fornecedor de nióbio do mundo, com aproximadamente 95% da produção universal. Com seis décadas de exploração, estima-se um potencial de extração do minério raro por pelo menos mais 200 anos.

Paralelamente, a companhia desenvolve uma tecnologia para a concentração de terras-raras (grupo de elementos químicos) presentes na monazita, mineral contido no minério utilizado pela CBMM em Araxá. Mais de R$ 60 milhões foram investidos no projeto, e potenciais consumidores internacionais já manifestaram interesse pelo produto. Hoje, a companhia conta com cerca de 1.800 funcionários.

Outra grande mineradora em Araxá é a Vale Fertilizantes, que emprega atualmente 2.300 profissionais entre quadro próprio e terceiros. Juntas, a empresa e a CBMM alavancam uma cadeia de empresas prestadoras de serviços, responsáveis por 70% da arrecadação de ISSQN.

“Podemos dizer que a cidade é quase uma ilha no meio da baixa produtividade econômica do país”, diz o presidente da Associação Comercial e Industrial de Araxá (ACIA), Marcio Antonio Farid.

Na Park Idiomas, mais de 40% dos alunos são funcionários ou familiares de trabalhadores que ganham a vida nas mineradoras. “Começamos em 2011, com 47 estudantes. Hoje, 550 aprendem inglês conosco”, comemora a proprietária e professora da escola, Beth Abdanur.

Levados pela mineração, profissionais que visitam Araxá também dificilmente resistem aos doces e compotas de frutas. Dos tachos da fábrica Dona Joaninha, a mais tradicional da cidade, saem iguarias suficientes para preencher três mil vidros por mês. “Quase 90% da nossa clientela são provenientes do turismo de negócios”, afirma o empresário Luiz Augusto Nunes, filho da Dona Joaninha.

Parque tecnológico receberá R$ 40 milhões

Para agregar valor à riqueza extraída em solo araxaense e desenvolver tecnologia a partir do fosfato, nióbio e terras raras, principais matérias-primas da região, até o início de 2015 será implantada no município a Cidade Internacional da Inovação e Tecnologia de Araxá (Ciitat).

O objetivo é abrigar incubadoras e empresas para a realização de intercâmbios entre estudantes, professores e demais profissionais ligados a universidades e centros internacionais de pesquisas. Universidad Pontifícia de Salamanca, Universidade de Coimbra, Colorado School of Mines e Worcester State University, em Massachusetts, são potenciais parceiras, segundo o secretário municipal de Planejamento e Gestão, Alex Ribeiro Gomes.

A sede do parque tecnológico será o antigo Hotel Colombo, construído em estilo art déco em 1926. Com uma área de 12 mil metros quadrados, o local onde durante 22 anos funcionou um cassino receberá cursos de pós-graduação e servirá de residência internacional estudantil, residência de docentes estrangeiros, projetos de pesquisa, seminários internacionais e para o setor administrativo.

“O dinheiro para a obra, estimada em R$ 10,3 milhões, já está garantido”, afirma o secretário. Em uma área de 168 hectares, localizada às margens da BR-262, ficarão as empresas. Todo o projeto é orçado em aproximadamente R$ 40 milhões.

“O Brasil exporta nióbio e fosfato. Lá fora, essas matérias-primas são transformadas em produtos com valor agregado por empresas que vendem para a gente de novo. Com o parque tecnológico, queremos quebrar esse ciclo e gerar mais renda e emprego aqui”, diz Alex Ribeiro.

Até o início de 2015, também estará em funcionamento em Araxá o novo campus da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Entre os novos cursos estão Engenharia Civil e de Minas, Letras e Hotelaria. “Com isso, mais araxaenses poderão permanecer na cidade”, ressalta.

Turismo de negócios cresceu 18% em 2013

O turismo também pega carona na mineração. Graças à realização de congressos, feiras, seminários e festivais, o número de eventos em Araxá cresceu 18% em 2013, na comparação com 2012. Segundo a Secretaria Municipal de Turismo, a taxa média anual de ocupação da rede hoteleira, composta por 2.775 leitos, é de 67%.

“Poderia ser melhor, mas estamos conseguindo captar eventos, muitos deles com patrocínio das mineradoras, caso do Encontro de Carros Antigos, que é um sucesso”, diz a turismóloga da pasta, Fernanda Araújo.

Termas de Araxá

Principal empreendimento do setor hoteleiro, o Tauá Grande Hotel e Termas de Araxá também vê aumentar em 10% ao ano a quantidade de eventos realizados nas suas dependências. Na alta temporada, a lotação é máxima. Durante o restante do ano, porém, a ocupação dos quartos cai para 38%.

Para receber bem o hóspede, que tem à disposição a água da fonte do rejuvenescimento onde Dona Beja se banhava, sauna seca e úmida e ducha escocesa, 248 funcionários formam a equipe. As demais atividades, como banho de lama negra (R$ 90) e vinhoterapia (R$ 240), são pagas e abertas aos visitantes.

Com um arrendamento de 15 anos, renováveis, a rede Tauá quer retomar os tempos áureos do hotel, que chegou a ficar fechado e só foi reaberto em 2001. Atualmente, o piso dos apartamentos é reformado e passadeiras de todos os andares estão sendo trocadas. O investimento não foi revelado.

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