Nova classe média de BH compra carro importado

Janaina Oliveira - Do Hoje em Dia
08/07/2012 às 08:49.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:24
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

“Classe média? Eu? Tem certeza, moça?”, espanta-se o balconista Altamir Luiz da Silva Ramos, 33, morador do Morro do Papagaio, ao saber do recém-criado parâmetro para especificação da nova classe média brasileira, definida por uma comissão de especialistas formada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). A partir de agora, as famílias que tiverem renda per capita entre R$ 291 e R$ 1.019 são consideradas como pertencentes à classe média. Pelo menos para o Governo federal.  “Sou da classe do Deus nos acuda”, contesta Altamir, que com a esposa, a saladeira Larissa Fátima Silva, 33, consegue somar R$ 1.200 por mês em salários, e mais “um bocado” com bicos.   Pois dentro do novo critério, da noite para o dia, ele e a mulher deram um salto. Passaram a fazer parte dessa fatia do bolo, mais especificamente da média classe média, um dos três subgrupos que compõem a nova classe média do país. Com renda per capita familiar de R$ 450, menos de um salário mínimo, estão no intervalo entre R$ 442 e R$ 641 que define a média classe média. Já a baixa classe média é formada por integrantes de famílias com renda per capita entre R$ 291 e R$ 441, e a alta classe média, de R$ 642 a R$ 1.019.   Mas a realidade é bem diferente do que podem sugerir os números. É certo que Altamir e Larissa melhoraram de vida. Só tiveram o pequeno Gabriel, 2, uma década após o nascimento da primogênita Isabela, quando a corda no pescoço afrouxou um pouco. Hoje, ele dirige seu próprio carro, um Corsa ano 98, pago em 48 prestações mensais de R$ 350. Ela economizou, calculou daqui e dali, e conseguiu financiar geladeira, máquina de lavar e três TVs – a xodó tem 29 polegadas, mas “ainda” é de tubo.    Embora os cômodos da casa sejam bem pequenos, ela cresceu. Passou a ter quatro andares, que pouco a pouco vão sendo pintados pelo próprio casal. Do mais alto, dá para ver o tamanho do abismo social do país: de um lado, prédios imponentes; do outro, o morro. Nem os pais nem os filhos possuem plano de saúde. As crianças estudam em escola pública. E nunca viajam de férias. “Não sobra nada”, diz Altamir, que se desdobra fazendo bicos “de qualquer coisa” para reforçar o orçamento.    “O que se pode constatar no cotidiano é que essa classe média maquiada é formada por brasileiros extremamente endividados, que, não raro, trabalham de 10 a 14 horas por dia. Não possuem capital escolar nem tampouco apresentam capacidade de planejar o futuro”, diz o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Jessé Souza, que já escreveu e organizou 22 livros sobre sociologia política e desigualdade no Brasil contemporâneo. O último deles recebeu o sugestivo título: “Os Batalhadores Brasileiros: Nova Classe Média ou Nova Classe Trabalhadora?”.   Leia mais na versão eletrônica.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por