Para Ipea, setor público deveria retomar investimentos

Daniela Amorim
03/07/2012 às 13:15.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:17

A postura de sacrificar investimentos públicos em nome de fazer superávit primário não se justifica na situação atual da economia brasileira, afirmou o coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Roberto Messenberg. Segundo o economista, o País não vive um problema de endividamento público, além de ter um cenário inflacionário convergente para o centro da meta estipulada pelo governo.

"Começamos a entrar numa política de privilegiar o superávit primário. (O governo) começa a pensar em fazer ajuste fiscal, e para ter ajuste fiscal você vai cortar investimento, que era a única possível esperança de manter a taxa de investimento", citou Messenberg. "Mas você não tem problema, por um lado, de endividamento público, então não se justifica."

O pesquisador explica que a ideia do superávit primário em um sistema de metas de inflação é não deixar o mercado formar expectativas elevadas de inflação mais para frente, para viabilizar o pagamento da dívida pública. Mas o contexto é de desaceleração no ritmo de aumento de preços.

"Se você não tem problemas de demanda agregada na economia, a inflação desacelera fortemente. Então, não vejo problema de superávit primário. Isso parece mais um respeito desnecessário a uma convenção: estamos em momento de crise e caldo de galinha não faz mal a ninguém. Fazendo a melhor coisa possível do modo preventivo parece a melhor coisa. Eu não vejo isso como coisa boa nenhuma", observou Messenberg, ressaltando que a inflação já está sob controle e a dívida pública, em trajetória de queda.

Na avaliação de Messenberg, a única forma de convencer o setor privado a retomar os investimentos é aumentar os aportes do setor público. Para ele, novos pacotes com medidas pontuais, como os que foram tomados pela equipe econômica do governo recentemente em benefício a alguns setores, não solucionam os problemas, apenas postergam uma solução mais definitiva.

"(Se forem anunciados novos pacotes e medidas), aí não tem fim. Você vai ter sempre o problema, porque não vai resolver o problema. Você vai multiplicando a pontualidade das medidas, que vão apagar novos incêndios gerados pelos problemas que persistem, e que geram outras distorções na economia. Aí você toma um rumo que não tem fim, um processo que não tem fim, que não resolve", alertou o economista do Ipea.

O Ipea apresentou nesta terça-feira a 19ª edição do Boletim Conjuntura em Foco, com análises sobre a competitividade industrial, investimentos produtivos e retomada do crescimento econômico.
http://www.estadao.com.br

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