"Para nós, Minas é o estado mais importante", diz Jorge Gerdau

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
29/03/2014 às 07:58.
Atualizado em 18/11/2021 às 01:49
 (Wikipedia/Reprodução)

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Jorge Gerdau, além de presidente do Conselho de Administração do grupo Gerdau, uma das mais bem sucedidas multinacionais brasileiras, também se transformou num dos mais próximos e prestigiados colaboradores da presidente Dilma Rousseff, como coordenador da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do governo federal.    Nesta entrevista, concedida durante a Reunião Anual das Assembleias de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), na Costa do Sauípe, Bahia, ele defende que o governo adote o modelo clássico de desenvolvimento, baseado no incentivo à poupança e investimentos em infraestrutura e nas demandas sociais. Diz, também, que Minas é hoje o estado mais importante nos negócios siderúrgicos da sua companhia. E ainda faz um desabafo: “Tenho angústias sobre a Copa.”    Qual sua expectativa para a Copa? Qual o papel que o Brasil fará no Mundial?   Realmente é um desafio enorme não fracassarmos na gestão da Copa. A imagem do país, indiscutivelmente, passa pela qualidade daquilo que ofereceremos aos visitantes. Copa ou Olimpíadas são oportunidades para as pessoas conhecerem o Brasil. Por interesses pessoais de esporte, acompanhei as últimas cinco Olimpíadas e sempre passo uma semana no país sede. E é uma oportunidade fantástica de conhecer o país. Você se movimenta no meio da massa toda, da rua, dos transportes. A imagem que você leva do país é muito forte.    Quais os principais problemas?   Acho que em termos de estádio estamos com a guerra vencida. Agora, a infraestrutura deixa a desejar. Mas é típico da nossa história. Se Deus quiser vai dar certo. Mas tenho angústias sobre esse tema da Copa. E o ruim da imagem não fica atrelada a determinado líder, mas ao país. A imagem ruim fica sobre todos nós. Eu fico atingido na minha relação pessoal, de negócios, seja o que for. A medição do país passa para todos.    Quais suas principais angústias?   Na parte de logística. Talvez o maior problema que o Brasil tenha é a mobilidade. Indiscutivelmente, transformar esse sistema é o maior desafio que temos. Temos que trabalhar e fazer um esforço enorme para vencer esse desafio. E há pouco tempo pra isso.   Os últimos dias foram marcados pelo rebaixamento da nota de classificação de risco do Brasil pela Standard e Poor’s. O que o governo deve fazer para reverter essa situação, para que o Brasil não perca o grau de investimento?   O crescimento econômico da modelagem clássica do mundo, da prosperidade, passa por investimentos. É poupança, investimento, que no ciclo econômico normal são os definidores. Dentro do cenário mundial, dessa crise toda, o Brasil se saiu bastante bem, se compararmos nesses anos todos com muitos países. Também tivemos oportunidades boas graças às demandas dos mercados asiáticos. As commodities tiveram uma valorização enorme, como o minério. Nossa balança comercial mandou bem e conseguimos gerenciar todo esse processo. Agora a globalização do mundo está exigindo ajustamentos nos processos econômicos. E esses ajustamentos passam por algumas mudanças na macroeconomia que precisam ser feitas.   E quais são essas mudanças que precisam ser feitas?   Temos que sair de um índice de poupança de 18% para 25% do PIB. E essa decisão é eminentemente do setor público. O setor privado tem índice de poupança próximo de 30% do seu PIB. Mas no setor público essa poupança é muito baixa. Esse equilíbrio entre poupança e gasto é uma questão macroeconômica que atinge a visão de objetivos políticos. Estamos em pleno processo de maturação disso. Se a gente analisa as macroeconomias, vemos que esse problema está em todos os lugares. Como esse processo deve andar é um desafio fantástico.   Qual o dever de casa do próximo governante?   É fazer esse ajuste macro da poupança e investimento em infraestrutura. São basicamente três pontos: índice de poupança, índice de investimento, e atendimento às demandas da população. E a que pode ter maior efeito é justamente a infraestrutura. Esse debate ainda não veio a público mas durante o processo eleitoral eu tenho esperança de que ele venha a ser posto na mesa.    Para este ano, quais as perspectivas para o setor industrial?   Não é um problema industrial, mas do país como um todo. Vamos passar esse ano absorvidos entre Copa do Mundo e eleições etc, e que não vai ser muito diferente do ano passado. Mas é necessária a adaptação da realidade brasileira ao que o novo cenário mundial está exigindo.    Qual a posição de Minas Gerais em relação aos negócios da Gerdau?   Para nós, Minas é hoje o Estado mais importante na nossa atividade siderúrgica.    Quais os planos da empresa para Minas?   Estamos entrando em alguns projetos essencialmente vinculados a nossa usina siderúrgica em Ouro Branco, onde começamos a laminar produtos planos. Vamos trabalhar agora no projeto de placa grossa de qualidade e na mineração para aumentar nossa eficiência competitiva. Essa conjugação de esforços e investimentos nos faz estar muito focados em Minas. Minas é um estado siderúrgico. E há muitos anos, mesmo antes de estarmos tão próximos, sempre dizia que ninguém consegue ser grande siderurgia se não estiver em Minas.

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