Prática da garantia estendida pode ser uma grande ilusão para os clientes

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
26/07/2014 às 08:39.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:31
 (CARLOS RHIENCK)

(CARLOS RHIENCK)

A oferta de garantia estendida, prática que se tornou comum como forma de incremento do faturamento no varejo, principalmente de eletrodomésticos, pode esconder armadilhas para o consumidor.   De acordo com o coordenador do Procon Assembleia, Marcelo Barbosa, embutir o valor do seguro no preço do produto, oferecer desconto para itens segurados e condicionar a venda à aquisição do serviço são práticas ilegais, mas que ainda acontecem.   “O consumidor tem que saber que está contratando a garantia estendida. E ela deve ser vendida por um corretor autorizado, com contrato por escrito e uma apólice indicando que tipo de cobertura está prevista”, afirma Barbosa.     Alterações   Diante da polêmica – e dos vários casos de reclamações nos órgãos de defesa do consumidor –, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) regulamentou, no ano passado, a venda de garantia estendida dentro dos estabelecimentos comerciais.    O texto determina que um representante legal da seguradora esteja presente nas lojas, que o pagamento do serviço seja feito separadamente, assim como a discriminação dos preços, e reforça a proibição de atrelar a compra do bem à contratação do seguro. No próximo dia 5, a entidade lançará uma campanha de conscientização em Belo Horizonte.   “Todos os produtos já saem de loja com a garantia legal (obrigatória), e outros, com a garantia contratual (facultativa), oferecidas pelo fabricante. A primeira coisa que a pessoa tem que fazer é avaliar esses prazos e decidir se vale a pena ou não pagar para estendê-lo” diz a coordenadora institucional da Proteste - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, Maria Inês Dolci.    Segundo a coordenadora, depois da medida adotada pela Susep, as queixas relacionadas ao assunto caíram significativamente, mas ainda há registro de episódios de desrespeito à regra.     Avaliação   Para o advogado Frederico Damato, na maior parte das vezes não é vantagem contratar esse tipo de seguro, sobretudo nos casos em que o preço do produto não for alto.   “Isso é mais uma jogada de marketing para aumentar os lucros do que um serviço para o consumidor fazer uso dele. A vantagem, quase sempre, é para quem vende e não para quem adquire. Além disso, já dá tanto trabalho fazer valer a garantia legal, será que compensa levar a estendida?”.     Pressão sobre vendedores leva a falta de transparência    Se para o consumidor a tentativa de empurrar a garantia estendida é motivo de dor de cabeça, para os vendedores, ela pode ser a causa de estresse e até desistência do emprego. Foi o que aconteceu com o ex-gerente de uma rede varejista nacional, Giovane Nogueira, que, depois de cinco anos e meio, não suportou mais a pressão.   Segundo ele, existe mais cobrança para atingir a meta de vendas de agregados do que para vender os próprios produtos da loja. “Fui contratado para vender eletros, não seguros, mas as lojas têm um lucro muito grande com eles. Para a gente, a comissão não compensa o estresse que passamos”, diz.   Pressionados, alguns vendedores acabam embutindo o valor da garantia estendida no preço do produto, o que não é permitido.    “Não são todos que fazem isso. Tem alguns que avisam depois que a compra já foi realizada e outros nem isso, o que é ainda pior. Quem fica abaixo dos 60% por dois ou três meses consecutivos corre o risco de ser mandado embora. Se o vendedor não traz lucro para a empresa, ele não serve”, relata Nogueira.     Agravantes   Na avaliação do professor do Ibmec/MG e doutor em Economia Felipe Leroy, as garantias estendidas são, de fato, uma maneira de incrementar o faturamento final das lojas.   “O usuário que contrata esse seguro pode ou não acionar a seguradora. Mas a proporção dos que acionam é muito baixa, então, eles acabam apenas contribuindo com o lucro da empresa”.   Leroy ainda aponta outro agravante: as garantias estendidas não possuem padronização nem critérios para estipular preços médios, tornando a cobrança aleatória.   “Outra coisa: de maneira geral, não dimensionam o preço dado e a probabilidade de o produto apresentar defeito. Não é como o seguro de carro, por exemplo, que faz uma avaliação do risco e a condiciona ao perfil do contratante.    No caso da garantia estendida, o custo varia significativamente entre as lojas. Na maioria das vezes, nem compensa contratar o serviço, fica mais em conta comprar outro produto, caso o primeiro estrague”, diz o professor.

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