Preços de carros, vinhos e até pães disparam na esteira do dólar

Bruno Porto- Hoje em Dia
23/01/2016 às 07:55.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:08
 (Carlos Henrique)

(Carlos Henrique)

No ritmo acelerado do dólar sobem os preços dos produtos importados e com uso de matérias-primas vindas do exterior. Do pãozinho ao carro importado, do vinho aos planos de viagem para fora do país, o momento é de rever os gastos programados porque os preços vão subir. O novo pico do dólar, que atingiu na última quinta-feira a cotação de R$ 4,17, e R$ 4,11 ontem, pode se transformar em um gatilho para uma nova rodada de reajuste de preços nos mais variados segmentos da economia.

O repasse da valorização do dólar para os produtos importados não é automático, mas é inevitável. “O impacto no preço não é instantâneo porque fazemos uma média ponderada de um determinado período para tomar as decisões. É por isso que quando o dólar cai também não se percebe o preço caindo imediatamente. Mas se o dólar continuar subindo o repasse é inevitável”, disse o sócio-diretor da Enoteca Decanter, casa especializada em vinhos, Flávio Morais.

Ele conta que ainda possui estoque para entre 7 e 10 dias, e que o processo de importação, mesmo quando é da vizinha Argentina, é demorado, de 30 a 90 dias. Por isso, segundo Morais, as estratégias devem ser bem elaboradas.

Na Terranova, concessionária de veículos Jaguar e Land Rover em Belo Horizonte, a escalada do dólar já havia provocado uma revisão na tabela de preços em novembro, e mais uma está agendada para fevereiro, inicialmente de 3%, mas esse percentual foi decidido antes do novo pico de valorização da moeda estrangeira. “O negócio de importados passa por um nível de exposição (ao dólar) muito alto, com muita incerteza também. Nossos concorrentes já reajustaram preços e nós teremos que fazer isso mais uma vez em fevereiro”, disse o gerente da revenda, Eduardo Barreto.

Ele lembra que na segunda metade de 2014 o dólar ainda estava na casa dos R$ 2 e, agora, beira os R$ 4,20. “Nesse período, a correção dos preços ficou muito defasada. As fábrica operam sangrando, mas não podem parar, têm que manter o capital de giro, manter as concessionárias operando, porque o momento é transitório. O que repassamos é para não deixar a revenda deficitária e inviabilizar o negócio”, afirmou.

Assim como o pão francês, produzido com trigo importado, toda a linha de panificação vai sofrer aumento de preços.

“O reflexo da questão cambial é imediato porque afeta a indústria, que nos vende mais caro. Como estamos crescendo menos do que a inflação, não tem como segurar aumento de custos. Os preços vão subir”, disse o presidente da Associação Mineira da Indústria da Panificação (Amipão), José Batista Oliveira.
 
Alta da moeda norte-americana prejudica empresas endividadas

A disparada do dólar vai deteriorar os indicadores de muitas empresas com dívidas na moeda estrangeira. Mesmo companhias exportadoras, que possuem receitas em dólar, mas que se endividaram na moeda estrangeira sem o uso de ferramentas de controle de riscos (hedge), estão vulneráveis.

Em Minas Gerais, nos setores de fabricação de aço e de frigoríficos os impactos são mais perceptíveis, mas exportadores de café também estão expostos ao risco de terem elevados passivos em dólar em uma conjuntura de preços em trajetória de queda. Para os cafeeiros a situação é menos dramática porque não há queda acentuada na demanda pelo produto.

“Quando uma empresa contrai dívidas em dólar, mas tem receitas também em dólar, chamamos isso de hedge natural. Mas quando as receitas caem por demanda fraca e o dólar sobe, aumentando a dívida, a situação complica muito. Em Minas, temos visto muitos casos ocorrendo com empresas entrando em inadimplência com os bancos”, disse o professor de Finanças do Ibmec, Ricardo Couto.

Ele conta que as instituições financeiras começaram a negociar com várias empresas a conversão da dívida em moeda estrangeira para real. “As empresas pagam as perdas geradas pela oscilação cambial, mas se livram da dívida em dólar. Muitas vezes, isso é interessante porque essas empresas se colocaram em uma situação de exposição indevida a riscos cambiais, como a contratação de financiamentos em dólar maior que a capacidade das empresas de exportação, ou seja, da capacidade de ter receitas em dólar”, disse Couto.

Beneficiados

Em alguns setores, como o de minério de ferro, açúcar e café, a valorização do dólar pode ter impactos positivos. Além de aumentar as receitas com a exportação, o câmbio valorizado ameniza a desvalorização dos preços desses produtos, todos cotados internacionalmente.

No entanto, diante do cenário internacional para as commodities, de demanda enfraquecida derrubando preços, esse aspecto positivo do dólar em alta acaba sendo limitado. As perdas com o preço são apenas parcialmente compensadas pelo câmbio, como ficou evidente na balança comercial de Minas Gerais em 2015, quando a conjuntura era semelhante.

O saldo da balança comercial mineira foi de US$ 13,2 bilhões, o mais baixo desde 2009. O recuo das exportações, mesmo com o dólar em alta, foi o principal responsável pelo desempenho ruim. As vendas externas somaram US$ 22 bilhões, o pior resultado desde 2007.

Com uma pauta concentrada em commodities, houve queda nas vendas para os 11 principais destinos de produtos mineiros, que respondem por quase 70% de tudo que o Estado embarca.

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