Presidente da Cemig, Djalma Moraes, garante que companhia seguirá investindo

Bruno Porto - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
08/09/2014 às 07:28.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:06
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Formado e pós-graduado em engenharia pelo Instituto Militar de Engenharia, Djalma Bastos de Morais preside a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) desde 1999. Na entrevista a seguir, ele fala sobre a compra de participação na hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, pela estatal mineira. O empreendimento é deficitário e apresenta atrasos nas obras. Djalma comenta também os planos da Cemig para a Gasmig, subsidiária envolvida em uma polêmica sobre a venda de seu controle acionário, e também reafirma que a concessionária manterá a postura que marcou sua gestão – a política agressiva de aquisições. De 1993 a 1994, Morais exerceu o cargo de ministro das Comunicações do Brasil. De 1995 a 1998, foi vice-presidente da Petrobras. Ocupou ainda vários outros cargos, como diretor presidente da Telecomunicações de Minas Gerais S.A. (Telemig).   A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) ampliou sua participação na usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, um empreendimento que dá prejuízo. No primeiro semestre deste ano a empresa ficou no vermelho em R$ 470 milhões. Qual a lógica desse aumento da fatia da Cemig e quais salvaguardas contratuais a Cemig detém?   Com a medida provisória 579 da presidenta, editada há cerca de dois anos, nós teremos de devolver aproximadamente 600 MegaWatts (MW) em 18 usinas e mais 1.900 MW em três outras usinas, um total de 2.500 MW. Então, a Cemig precisa adquirir ativos para agregar valor. Foi isso o que aconteceu com Taesa (setor de transmissão), com Light (setor de geração) e várias outras empresas que nós compramos. Isso não só pela MP 579, mas porque nós precisamos crescer, gerar Ebitda, dar lucro, melhorar os dividendos, investir. Esse é o nosso trabalho. Quando realmente sentimos a necessidade de focar mais em geração de energia, começamos a viabilizar ativos. Estamos participando com 25% na Renova, uma geradora eólica, participamos de leilões, mas não tivemos sucesso em alguns deles, e começamos a trabalhar na possibilidade de ampliar a nossa participação em Santo Antônio (Cemig já detinha 10% de participação). Não é nada, não é nada, são 3.500 MW, e cada 10% são 350 MW. Fizemos alguns estudos e chegamos à conclusão de um quantitativo, que foi aceito pela Andrade Gutierrez (vendeu sua fatia), que foi de 12%. Estamos estudando ampliar essa participação porque estamos perdendo um parque gerador importante para nós e a empresa precisa crescer.    Mas o negócio é bom, em termos de rentabilidade?   Quanto aos problemas de rentabilidade, o investidor da Cemig é de médio e longo prazo. Não é investidor imediatista. Pode ser até que o rendimento de Santo Antônio esteja com alguns problemas por questões na Justiça, por greve, compra de energia, mas isso acontece em todas as geradoras. Temos projetos nossos que tiveram problemas parecidos, e a rentabilidade do projeto cai. Mas, no médio e longo prazos, essas coisas se tornam viáveis e muito boas para a empresa. Temos certeza que a médio e longo prazos Santo Antônio vai dar a rentabilidade que nós projetamos.   Decisões como a do Superior Tribunal de Justiça na semana passada, que negou recurso do consórcio de Santo Antônio e decidiu que devem ser pagos R$ 1 bilhão de compromissos já assumidos, não mina esse potencial de rentabilidade?   Estamos recorrendo. Me parece que tem uma reunião na Aneel para reexaminar algumas pendências. A rigor, o problema que enfrentamos em Santo Antônio é que houve 63 dias de greve e a Aneel não reconhece que isso prejudicou o andamento da obra. Parece que vai reconhecer 40 dias, o que já minimiza os prejuízos do consórcio. Agora, o que precisa ficar claro é que alguns problemas são dos construtores da obra, eles é que estão sendo questionados, e não o investimento. Tem determinados problemas de atraso, como turbinas que não estão atendendo a contento, e isso é problema do epecista, do construtor, e não do investidor. A maioria dos problemas são do epecista. Sempre trabalhamos com ativos que vão nos proporcionar melhorias do Ebitda em médio e longo prazos. Não trabalhamos com risco. O investidor de energia elétrica sabe que você vai chegar em casa e vai ligar a televisão, vai tomar banho. A rentabilidade esperada não é alta para depois cair, é pequena, mas eterna.   E a rentabilidade de Santo Antônio virá quando?   Esperamos que se viabilize quando todas as turbinas estiverem colocadas. A totalidade é de 3.500 MW, acho que hoje tem menos de 2 mil MW operando. Essas coisas vão ocorrendo. Quando adquirimos a Taesa foi o mesmo problema, e hoje tem uma rentabilidade muito boa e é um case de sucesso.   O aumento de participação em Santo Antônio é uma alternativa ao negócio que não deu certo de compra da colombiana Isagen?   Os leilões não têm sido aquilo que esperamos, então temos que ver ativos em funcionamento. Santo Antônio, por exemplo, te disse que estamos pensando em ampliar a participação, mesmo com todos esses problemas. Temos dois consórcios que são construtores e também sócios em Santo Antônio, que são Andrade Gutierrez e Odebrecht. Tem Furnas também, mas Furnas não vende participação. Eu estou querendo mais 10%. Na Colômbia, éramos o principal competidor para adquirir a Isagen, mas o governo de lá decidiu, por questões deles, adiar a venda. Ainda estamos acompanhando isso. Aumentamos participação em Belo Monte em 10% também.   Esse foco em geração de energia não pode obrigar a Cemig a alienar ativos fora do core business?   Se a Cemig tem 100% da Cemig Telecom, posso trazer um parceiro com 50%, com expertise no setor e que vai colocar dinheiro. É isso que nós já estamos fazendo.   No caso da Gasmig, era necessário a aprovação de um projeto na Assembleia Legislativa de Minas Gerais que permitisse a venda de participação acionária de empresas sem vínculo direto com o Estado, como a Gasmig, subsidiária da Cemig, para realizar a fusão com outra empresa. O projeto foi retirado de pauta e a transação inviabilizada. A espanhola Gás Natural Fenosa, que faria a fusão com a Gasmig, ainda tem compromisso com o negócio? Para quando se espera um desfecho?    Não existe prazo imposto pela Fenosa. Ela está no Rio de Janeiro, capital e interior, e em São Paulo. O negócio seria muito bom para a Fenosa entrar em Minas Gerais, e a associação com a Gasmig, a solução ideal. Íamos entrar com o ativo Gasmig dentro da holding Fenosa, participar dentro da holding com trinta e poucos por cento (32%) e seríamos sócio da distribuição no Rio de Janeiro e em parte de São Paulo. E, evidentemente, sócios também aqui (Minas Gerais). Um dos pontos estabelecidos pela Fenosa é que a Gasmig não deveria ter mais como sócio majoritário o Estado. Então, enviamos projeto ao legislativo, mas o processo eleitoral atropelou o projeto. Estamos esperando passar a eleição. Estivemos reunidos esses dias com a Fenosa, e vamos tentar viabilizar o projeto com o Executivo o enviando. A Fenosa permanece com o compromisso.   O balanço da Cemig mostra aumento de participação de gás natural nos negócios. Seria o momento certo de vender a Gasmig?   Não estamos vendendo a Gasmig. Estamos entrando com a Gasmig em uma holding. Estamos deixando, sim, de ter o controle da Gasmig, e vamos ser sócios da holding (Fenosa) no Rio de Janeiro e em São Paulo. E teremos mais condições de atender à população com o gás residencial.   Esse negócio com a Fenosa não é exclusivo para viabilizar a construção do gasoduto até o Triângulo, um compromisso já assumido pela Cemig e orçado entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2 bilhões?   Temos duas estratégias nisso. Primeiro, trazer um sócio com grande expertise em distribuição residencial e, segundo, um sócio que vai entrar com 68% do investimento no gasoduto. O mais importante é que teremos todo um setor da nossa sociedade atendido com gás, seja residência ou indústria.   Na Bacia do São Francisco, a Cemig tem participação em quatro blocos exploratórios. Qual o desafio dessas empresas que lá estão que encontram gás, mas não avançam para a fase exploratória?   É um desafio tecnológi-co, mas sobretudo financeiro. O negócio de gás é o tipo do negócio que tem risco maior. O investidor da área elétrica tem outro perfil, sabe que haverá consumo de energia. É certo, embora possa até ter rendimento menor em alguns casos. O investidor na área de exploração, ao prospectar, gasta uma fortuna. É o cara que tem R$ 1 bilhão e vai aportar R$ 100 mil. Se perder R$ 100 mil, ele continua rico, mas os R$ 100 mil podem virar R$ 2 bilhões. Não é o mesmo investidor da área elétrica. Temos participação no negócio, mas ele requer investimentos muito pesados, e nós temos outras prioridades dentro do Estado, como a área de geração e de distribuição de energia. Por isso, temos dificuldades de investir nisso, é um recurso que pode me dar uma rentabilidade dez vezes maior ou posso perder o montante investido.   Quando fica pronta a nova sede da Cemig?   Em novembro. Parte do pessoal do prédio atual vai pra lá, funcionários de outros prédios também, inclusive a Gasmig. E vamos vender os outros prédios.   O senhor pretende continuar na presidência da Cemig em 2015?   Devo muito a Minas Gerais, mas esse é um problema do controlador com o Conselho de Administração.

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