Recuperação em curso: balanço aponta que comércio ainda patina, mas com sinais claros de melhora

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
12/08/2020 às 19:15.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:16
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Indicadores de performance do comércio varejista no país e no Estado têm confirmado queda expressiva de vendas nos últimos meses, em razão da pandemia e das medidas de isolamento social adotadas para tentar contê-la. A boa notícia, contudo, é que os números estão menos desastrosos que os projetados inicialmente pelo mercado.

Dados do IBGE, divulgados ontem, por exemplo, apontaram que, em junho, as vendas do setor cresceram 8% no Brasil na comparação com maio. Foi a segunda alta consecutiva, após tombos gigantescos em março e abril, quando os impactos econômicos da Covid-19 foram bem mais severos.

Com o resultado, o varejo brasileiro acumulou queda de 3,1% no ano e de 0,1% em 12 meses. Além disso, teve a primeira queda semestral desde o primeiro semestre de 2017 (-0,2%) e a mais intensa desde o segundo semestre de 2016 (-5,6%). 

Só que, na comparação com junho de 2019, houve elevação, e de 0,5% – primeira taxa positiva após três meses de perdas nesta base de análise. Mais do que isso: em relação ao que vinha sendo especulado (um respiro em torno de 5%), a taxa de crescimento foi quase 3% maior.

Em Minas, a situação foi pior que a do país. Mas, ainda assim, com o relaxamento temporário de restrições ao comércio ocorrido em Belo Horizonte entre os finais de maio e junho, o balanço também foi positivo: 2,5% de crescimento sobre o mês anterior. Na comparação com o mesmo período de 2019, a variação positiva das vendas em Minas foi de 2,7%, acima da média nacional (0,5%).

Destaques

No país, de acordo com a pesquisa, com exceção de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-2,7%), todas as outras sete atividades cresceram ante maio. Os maiores percentuais de avanço foram nas vendas de livros, jornais, revistas e papelarias (69,1%), tecidos, vestuário e calçados (53,2%). 

Maio e junho foram meses de retomada após tombos severos em março e abril

“Os resultados positivos eram esperados porque viemos de uma base de comparação muito baixa, que foi o mês de abril (-17%). Esse crescimento, então, foi praticamente generalizado, distribuído em quase todas as atividades”, observou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos. Outro destaque foram as lojas de móveis e eletrodomésticos (31%), que interromperam queda observada desde fevereiro e passaram a acumular avanço de 3,5% em 12 meses, apesar do recuo de 1,3% no semestre. 

Em Minas, o segmento específico de móveis, aliás, foi o campeão em alta das vendas em junho: 24,9%, acima de eletrodomésticos (10,8%) e hiper e supermercados (6,8%). Por outro lado, os setores de livros, jornais, revistas e papelaria (-48,3%) e de tecidos, vestuário e calçados (-33,3%) fizeram caminho inverso no Estado ao que apresentaram no cenário nacional. 

Setores de móveis e de vestuário estão em lados opostos

Conforme os números do IBGE sobre as vendas de junho, no comércio de Minas, dois setores são exemplos tanto do bom quanto do mau desempenho. No primeiro caso, as lojas de móveis, com quase 25% de aumento na comercialização de produtos, atribuem o sucesso, em meio à pandemia, principalmente à mudança de hábitos dos consumidores, forçados a passar mais tempo em casa.

“O setor moveleiro é um dos poucos privilegiados no momento. Com o isolamento social, as pessoas querem viver com mais conforto, o que as leva a trocar colchões, sofás, mesas, cadeiras. Tudo isso por estarem mais tempo em casa e, naturalmente, não terem outra coisa em que investir, como viagens e lazer, por exemplo”, diz o empresário Alessandro Teixeira, dono da Universal Móveis.

Com sete lojas em BH e uma em Betim, onde emprega 80 pessoas, Alessandro conta que viveu momentos distintos desde a chegada da Covid-19. Em março, após o fechamento das unidades por força de decretos, precisou intensificar os canais virtuais de venda, sobretudo pelas redes sociais. Entre os finais de maio e junho, voltou a operar por quase 30 dias, na segunda fase da flexibilização do comércio, na capital, e as vendas foram normais – o que se refletiu no resultado da pesquisa.

“Depois, fechamos de novo e só pudemos reabrir na semana passada, três dias antes do Dia dos Pais. De qualquer forma, a situação nos levou a intensificar as estratégias on-line. Esse tipo de comunicação com o cliente, via Whatsapp e Instagram, tem sido importante para garantir nossa performance ”, ressalta.

Já Marcelo Almeida, dono da “Por 1 Fio”, especializada em moda feminina e com quatro lojas em shoppings da capital, integra um dos poucos segmentos comerciais que não recuperam as vendas em junho: o do vestuário. A queda em Minas, somada à dos setores de tecidos e de calçados, foi superior a 30% em relação a junho de 2019.

“O faturamento das lojas foi zero nos últimos quatro meses, obviamente porque ficaram fechadas. Radicalizei logo no começo, prevendo essa situação: dispensei os 40 funcionários”, afirma ele. O que o salvou do desastre financeiro foram as vendas on-line, que aumentaram 300% no período. “Nossa aposta, agora, é nesta volta gradual do comércio, para que possamos reduzir perdas”.

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