Taxa extra na conta de luz mesmo com a chuva

Tatiana Moraes - Hoje em Dia
21/01/2016 às 06:52.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:06
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

As fortes chuvas registradas nos últimos dias deram uma trégua aos reservatórios do Sudeste e do Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração elétrica do país, e afastaram, por hora, o fantasma do racionamento. Somente de 1º a 18 de janeiro, segundo relatório do Operador Nacional do Sistema (ONS), o nível médio dos reservatórios saltou de 29,9% para 37,47%. O índice é mais de duas vezes superior ao registrado no mesmo mês de 2015, quando fechou em 16,84%.

Apesar da melhoria no cenário, uma redução na conta em decorrência de mudança na bandeira tarifária de vermelho para verde é descartada por especialistas do setor para o curto prazo. A previsão do ONS é a de que ao final de janeiro os reservatórios cheguem a 42%, se as chuvas permanecerem nesse ritmo, Mas o ideal para baratear a conta de luz são 70%.

Nos primeiros 18 dias de janeiro foram registrados 360 milímetros de chuva no Triângulo mineiro, polo de hidrelétricas, segundo o meteorologista do TempoClima PUC-Minas Claudemir Félix. O volume é superior à média do mês. Félix explica, no entanto, que as fortes chuvas em janeiro são comuns. Ou, pelo menos, deveriam ser.

“Não podemos dizer que 2016 tem surpreendido. Na verdade, as chuvas de 2015 decepcionaram. O período chuvoso é crucial para a recuperação dos reservatórios, como vemos agora”, afirma o especialista.

Cobrança

A bandeira tarifária foi instituída em janeiro de 2015 e, de lá para cá, a cobrança já sofreu algumas alterações no preço. Atualmente, na bandeira vermelha, a cada 100 quilowatts-hora (KWh) o consumidor deve arcar com R$ 4,50, fora os impostos (só de ICMS são 42%). Na bandeira amarela, o valor é de R$ 2,50 a cada 100 KWh. Na bandeira verde, não há cobrança excedente.

O objetivo do encargo é quitar os custos de geração das térmicas, que, antigamente, ficavam por conta das concessionárias e somente eram repassados ao consumidor no reajuste anual. Ou seja, causavam um rombo no caixa das empresas. No caso da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), o reajuste acontece sempre em 8 de abril.

Térmicas

Desde o início da cobrança, a bandeira vermelha está “hasteada”. E, para garantir a segurança energética, a previsão é a de que continue assim. Ou seja, as térmicas, cujos combustíveis são mais caros do que a água, não serão desligadas no curto prazo.

“As térmicas mais caras foram desligadas. O objetivo agora é encher os reservatórios”, explica o gerente de regulação da Safira Energia, Fábio Cuberos. Em 18 de janeiro, 8.001 megawatts eram despachados via térmicas. Na mesma data de 2015, o volume era de 6.783 MW. “Os níveis dos reservatórios das regiões Sul e Sudeste estão muito bons, acima dos 30% na região Sudeste e próximo de 100% na região Sul. No entanto, o armazenamento no Norte e Nordeste está comprometido”.
 
Cautela

“É necessário que haja cautela por parte do ONS a fim de administrar de maneira responsável a energia proveniente das diversas matrizes energéticas e atender a demanda do Sistema Interligado Nacional (SIN),” adverte o gerente de regulação da Safira Energia.

Em entrevista recente ao Hoje em Dia, o presidente da Cemig, Mauro Borges, também rechaçou um eventual hasteamento de bandeira verde. “Se mudasse a bandeira para amarela ou verde, você mudaria a geração hidráulica fortemente, o que impediria de recuperação dos reservatórios. O que a ONS está fazendo é garantir a recuperação dos reservatórios, dilapidados nos três anos anteriores”.

Retração econômica contribuiu para evitar o racionamento

Mas São Pedro não é o único responsável por afastar os riscos de apagão. É difícil admitir, mas, se não fosse a retração econômica, possivelmente o Brasil já estaria mergulhado em medidas para evitar o racionamento. Ou, pelo menos, para minimizar os problemas da falta de energia.

Em novembro, houve retração de 4,4% na carga de energia, ou seja, no consumo de eletricidade no país, na comparação com igual mês anterior. É o que aponta o último relatório da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O resultado é o pior para novembro. A indústria foi responsável por puxar o índice para baixo, com retração de 8,9%. Em 12 meses, a queda foi de 2,6%.

O faturamento da indústria mineira, por exemplo, fechou em queda de 23,6% em novembro, frente a igual mês anterior. No acumulado de 2015 até o penúltimo mês do ano houve retração de 15,8%, no confronto com o mesmo intervalo de 2014. As informações foram divulgadas nessa quarta (20) no relatório Indicadores da Indústria, da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

De acordo com o diretor do Instituto de Desenvolvimento para o Setor Energético (Ilumina) e ex-conselheiro de Furnas, Roberto D’Araújo, em 2015 a demanda caiu o equivalente ao crescimento da demanda dos últimos dois anos.

“Se não fosse essa queda, estaríamos atravessando medidas desesperadas para evitar desabastecimento energético. O problema é que não podemos contar com a queda da indústria para salvar o sistema elétrica. Esta não é a solução”, pondera D’Araújo.

Cemig

Pelo bem ou pelo mal, os reservatórios registraram recuperação vertiginosa no último ano. Conforme exemplifica o engenheiro de Planejamento Energético da Cemig, Ivan Sérgio Carneiro, em janeiro de 2015 o nível da usina de Camargos, localizada no Rio Grande, estava em 20,23%. Em 18 deste mês ela fechou em 46,90%, mais do que o dobro.

“Camargos passou por uma fase muito ruim, chegou a 0,7% em 2014. Agora, começa a se recuperar”. O engenheiro destaca que a usina fica na cabeceira do Rio Grande e, portanto, a água que passa em Camargos é capaz de gerar energia em todas as demais usinas que ficam abaixo no rio. Inclusive, as que são movidas a fio d’água, ou seja, que não possuem reservatórios.

Mercado livre
 
Para o mercado livre – ambiente em que há liberdade de negociação de energia entre grandes consumidores e fornecedores –, as chuvas também trazem boas notícias. Projeções da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) indicam que o Preço de Liquidação de Diferença (PLD) deve manter o valor mínimo (R$ 30,25/MWh) nos submercados Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Norte ao longo de 2016.

O PLD é utilizado como balizador para que o MWh possa ser vendido no mercado à vista, ou seja, no mercado spot. No Nordeste, a expectativa é que o PLD deve chegar a R$ 30,25/MWh apenas a partir de junho.

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