(Editoria de Arte )
A decisão do Copom, do Banco Central, de aumentar mais uma vez a taxa básica de juros da economia (Selic) - de 2,75% para 3,5%, com viés de alta para 3,75% em junho -, nesta semana, teve como objetivo reduzir a escalada da inflação, que acelera neste início de ano. A medida, no entanto, causou reações contrárias do setor produtivo, para o qual ela deve provocar mais transtornos do que benefícios – em plena pandemia e em meio a dificuldades para a retomada econômica.
Na indústria, a subida da Selic foi duramente criticada. Diante de custos de produção cada vez mais elevados - segundo o IBGE, a inflação da indústria ficou em 4,78% em março, segunda maior alta desde 2014 -, o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, diz que o aumento dos juros trará impactos negativos a médio prazo, diminuindo a produção e os investimentos no setor.
“A medida (alta da Selic) é como um médico que olha para a metade do corpo de um paciente e prescreve um remédio que vai ter efeito só nesta parte. Ou seja, resolve a inflação, mas destrói o resto da economia”, afirma Roscoe.
Construção
Integrante da indústria, a construção civil também fez ressalvas à elevação da Selic. Empolgado com o boom experimentado no ano passado – com criação de 106 mil empregos, só em Minas –, o segmento encarou o anúncio do Copom a um balde de água fria na aceleração que se desenhava em 2021.
O pessimismo é tanto que a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) do setor caiu de 4% para 2,5%. Para a assessora econômica do Sinduscon-MG, Ieda Vasconcelos, a alta dos juros – e a consequente restrição maior ao crédito que ela deve gerar –, aliada à disparada dos preços dos materiais de construção (que atingiu 33,9% nos últimos 12 meses) vai frear projetos e obras.
“Infelizmente, o primeiro impacto negativo será na geração de empregos, que vai diminuir. Não há mais como manter a previsão de novos empreendimentos, com o cenário que está se desenhando até o fim do ano”, explica a economista.
Comércio
A segunda subida da Selic desde fevereiro também desagradou o comércio. Já sofrendo fortes de fechamentos para conter a pandemia, o segmento espera agora mais dificuldades para pagar contas e retomar os empregos.
Para Marcelo Souza e Silva, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), o aumento da Selic veio em um momento inoportuno.
“O foco do governo federal deveria ser a criação de um ambiente econômico confiável, com uma campanha de vacinação eficaz, política distributiva de renda, reformas estruturais”, afirmou.
Os impactos da Selic corrigida também atingirão o bolso dos trabalhadores, em especial, os que endividados no cheque especial e no cartão de crédito. Para o economista Paulo Casaca, a decisão do BC, além de apertar o cinto de quem está no vermelho, não terá muitos efeitos sobre a inflação. “Aumentar juros é algo que, agora, não deverá deter a alta de preços, como se espera”, diz.