Em Minas, um pequeno grupo de cidades não sabe o que é recessão e desemprego

Tatiana Lagôa e Janaína Oliveira
primeiroplano@hojeemdia.com.br
29/11/2016 às 19:52.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:52

FLAVIO TAVARES

Planejamento – Infraestrutura turística e agenda recheada de eventos e festivais blindaram a economia de Tiradentes

 Em função da recessão, a grande maioria dos municípios brasileiros pena com queda na arrecadação de impostos e diminuição dos repasses da União. Mas um pequeno grupo de cidades em Minas está conseguindo driblar a crise – e até mesmo crescer – graças às características e potencialidades econômicas locais.

Algumas delas são exemplo de sucesso de planejamento de longo prazo. Outras tiveram a sorte de experimentar uma conjugação positiva de variáveis econômicas que não podem ser reproduzidas em outros locais.

Com apenas 7 mil habitantes, Tiradentes, no Campo das Vertentes, atrai turistas como “gente grande”. Graças ao seu charme e patrimônio histórico, e também pelo esforço na atração de um turismo qualificado, o município não sofre com a crise. Neste ano, a cidade ainda teve a ajuda da alta do dólar, que tira o fôlego dos roteiros internacionais mesmo entre os mais abonados e redireciona os viajantes para destinos domésticos.

“A cada ano recebemos um número maior de visitantes, que no geral têm um bom poder aquisitivo. É um turista qualificado, exigente e disposto a gastar, o que movimenta a economia local”, diz o prefeito Ralph Justino (PV).

De saída da prefeitura após quatro anos de mandato, ele diz que o turismo é o principal responsável por não deixar as contas municipais no vermelho. “Sofremos dificuldade por causa da queda do repasse de verbas federais e mais obrigações financeiras impostas pela União, como o reajuste do salários dos professores. Mas não atrasei salário, paguei o 13º em dia e ainda vou deixar um dinheiro em caixa para o meu sucessor”, afirma Justino.

No mês de julho ou em feriados, a ocupação de hotéis e pousadas chega próxima a 95%. Já para festivais tradicionais, como Bike Fest, encontro de motociclistas, Festival de Cultura e Gastronomia e Mostra de Cinema, a ocupação é de 100%. “Isso movimenta as pousadas, restaurantes e toda gama de prestação de serviços, gerando emprego e renda”, diz.

O prefeito não soube precisar a arrecadação com turismo ou mesmo o número de turistas que Tiradentes recebe por ano.

Emprego

Considerada um ponto fora da curva em meio ao fechamento de vagas e de empresas país afora, Extrema figura atualmente como o município que mais gera empregos no Sul de Minas, e fica na quinta posição no Estado e 55ª no Brasil.

Segundo dados do CAGED, do Ministério do Trabalho, Extrema abriu 794 postos entre os meses de janeiro e outubro de 2016, enquanto vizinhas como Pouso Alegre e Camanducaia, por exemplo, fecharam 552 e 131 vagas respectivamente.

“Enquanto a maioria dos municípios do Brasil sofrem com problemas financeiros e administrativos, Extrema apresenta condições diferenciadas. Desenvolvemos um programa de capacitação de empresas dos mais variados setores que, hoje, garantem empregos para mais de 65% da população ativa”, diz o prefeito Luiz Carlos Bergamin (PSDB), que encerra no próximo mês um ciclo de oito anos consecutivos à frente da administração municipal.

Segundo Bergamin, a cidade possui indústrias dos setores automotivo, alimentício, metalúrgico, vestuário, estética, eletrodomésticos (Panasonic e outras), além das empresas de serviço e distribuição.

“As empresas que estão no município se equilibram pela sazonalidade comercial. Enquanto um setor diminui a intensidade, as demais aquecem e mantém a curva do emprego sempre em expansão”, diz.

Extrema é considerada a capital regional do chocolate, já que conta com a presença da suíça Barry Callebaut, a maior fabricantes de chocolates do mundo, além do grupo CRM, detentor das marcas Kopenhagen e Chocolates Brasil Cacau. No segmento, ainda há uma fábrica da Bauducco.

“Essas empresas reconhecem na nossa localização geográfica uma posição estratégica para escoamento de mercadorias”, afirma o prefeito, que será sucedido pelo colega de partido João Batista.

Segundo ele, a arrecadação de Extrema é estimada em R$ 162 milhões para o exercício de 2016. Em caixa, o município possui hoje aproximadamente R$ 45 milhões.

Enquanto algumas poucas cidades mineiras crescem, o Brasil perdeu 751,8 mil vagas de empregos entre janeiro e outubro. Em Minas Gerais, o saldo negativo é de 55,2 mil no mesmo período. A expectativa é que o país tenha uma queda de 3,49% no PIB em 2016, segundo boletim Focus do Banco Central

Grãos e mineração de ouro são antídotos de municípios contra a derrocada econômica

Paracatu, no Noroeste de Minas, é uma das ilhas de desenvolvimento em meio à crise. Com cerca de 85 mil habitantes, a cidade tem duas atividades principais: a mineração, graças às reservas de ouro, calcário, zinco e chumbo, e a agropecuária. Na agricultura, o município tem mais de 40 mil hectares de área irrigada com produção de milho, feijão e soja.

E é justamente graças a essas duas vocações econômicas que a cidade apresentou alta de 10,7% na arrecadação total entre janeiro e outubro na comparação com o mesmo período de 2015, passando de R$ 158,96 milhões para R$ 176,05 milhões, segundo o secretário Municipal da Fazenda, Flávio Côrtes Ramos.

No caso da mineração, a cidade se “gaba” de a Kinross Gold Corporation, multinacional que detém os direitos de exploração, ser responsável por 22% do ouro produzido no Brasil.

A expectativa da prefeitura é arrecadar em torno de R$ 210 milhões em 2016. Se efetivado, o volume será 19% maior do que os R$ 176 milhões alcançados em 2015.

O nível de empregos também está positivo na cidade. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, de janeiro a outubro, Paracatu teve um saldo positivo de 633 empregos.

Café

Já em Guaxupé, no Sul de Minas, o café é o diferencial econômico. A cidade abriga a Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé Ltda (Cooxupé), que recebe café produzido em mais de 200 municípios.

“Nós temos várias fazendas produtoras de café e a presença de uma cooperativa exportadora no município deixa o mercado movimentado todo ano”, afirma o secretário de desenvolvimento econômico da cidade, Renato Carlos Gouvêa.

O comércio e o setor de serviços sentem reflexos positivos. “Enquanto nas outras cidades o comércio segue no negativo, aqui nós vamos, na pior das hipóteses, repetir o resultado de 2015”, afirma o presidente da Associação Comercial e Industrial e Guaxupé, Aroldo Moreira.

Segundo o superintendente de política econômica e agrícola da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), João Ricardo Albanez, o ano está sendo positivo para os municípios produtores de base agrícola em função do aumento da safra e da elevação dos preços internacionais das commodities. O milho saiu de um preço médio de R$ 29,05 a saca de 60 quilos em 2015 para R$ 45,65 em 2016, uma variação de 57%. A soja valorizou 13%, passando de R$ 72,65 para R$ 82,12; e o café, 8% saindo de R$ 451,03 para R$ 487,44.

  

  

  

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