Em tempo de crise, sites e aplicativos que 'devolvem dinheiro' ganham força em BH

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
03/04/2017 às 08:32.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:59

Sites e aplicativos que devolvem parte do dinheiro gasto na compra, o chamado cashback, estão virando febre em Belo Horizonte, turbinados pela crise econômica e pela necessidade de economia dos consumidores.

Após surfar na liderança brasileira do segmento, superando o valor de R$ 27 milhões devolvidos em seis anos, a mineira Méliuz agora enfrenta a concorrência da paulista Be Blue, que chegou à cidade no último mês e aposta no mesmo nicho. Para não perder espaço, a Méliuz também decidiu investir em parceria com lojas físicas (antes, os descontos eram oferecidos apenas para compras em redes de varejo virtuais).

“Neste período de crise, as pessoas tentam economizar o máximo. Querem bons preços, bons negócios”Ofli GuimarãesFundador do Méliuz

O sistema funciona da seguinte forma: parte do valor de compra de determinado produto ou serviço, feito nas lojas parceiras, é devolvida ao cliente. No caso da Méliuz, com depósito em dinheiro na conta corrente do usuário. E na Be Blue, como crédito no sistema para a próxima compra.

Na semana passada, a grande maioria dos descontos oferecidos pelas duas empresas era inferior a 10%. Mas, seguindo estratégia de marketing, descontos pontuais para número limitado de usuários podem inclusive superar os 100%. Foi o caso da venda de copinho de sorvete de uma famosa rede de lojas, oferecido com 120% de desconto (ou seja, com devolução em valor acima do gasto), ou de 100% em uma grande choperia na Savassi. Ou, ainda, desconto de 50% em um posto de gasolina no Sion.

“A gente quer fazer parte da rotina, do dia da pessoa, com desconto na farmácia, no posto de gasolina. A reação é muito positiva”Daniel AbbudCEO da Be Blue

Na noite da última quarta-feira, também era possível conseguir descontos de 70% em uma hamburgueria gourmet em Lourdes, ou 40% numa churrascaria no Santo Agostinho.

A Be Blue, que começou a operar no ano passado em Ribeirão Preto, agora se prepara para entrar no Rio e São Paulo, depois de estrear em BH e Uberlândia, diz o CEO e cofundador Daniel Abbud.

Ofli Guimarães, fundador da Méliuz, avalia que o momento de crise tem ajudado na estratégia de trabalhar com lojas físicas. “As pessoas querem buscar bons preços, fazer bons negócios. Se conseguem economizar R$ 2 no almoço, R$ 5 no posto de gasolina, no final do mês, a diferença é grande”, diz. Segundo ele, 500 estabelecimentos de Belo Horizonte se encontram cadastrados no aplicativo para compra em loja física.

Para o professor de gestão de vendas do Ibmec, Víctor Bercala, muitos desses aplicativos, seja de desconto, de devolução de créditos ou de comparação de preços, existem desde antes da crise. “Agora, no entanto, eles têm um apelo muito maior”, afirma.Cristiano Machado / Hoje em Dia

Busca pelos aplicativos cresce a cada dia como forma garantir economia nas compras
A consultora de projetos sociais Taís Souza, 29 anos, sempre está atenta às oportunidades de sistemas de desconto e trocas de pontos. “Uso muito o Dotz (comum em redes de supermercados), que é mais tradicional, com o qual já resgatei de pen drive a passagem aérea. O Méliuz eu uso há quase dois anos em loja de tudo quanto é coisa – para comprar sapato, eletrodoméstico e eletrônico. E neste mês, baixei o Be Blue para ver como funciona, mas ainda vou testar ”, conta.

Outra disputa
No segmento específico do transporte, os aplicativos como Uber e Cabify têm usado estratégias agressivas de descontos em corridas como forma de disputar mercado.

“Em BH e nas três outras praças em que nos encontramos, estamos com o ‘Viva Cabify’, que concede 55% de desconto em algumas horas durante o dia. Via de regra, em todos os lançamentos que fizemos do serviço, houve corridas grátis”, explica Diogo Cordeiro, Geral Manager da empresa em Belo Horizonte.

“A gente entende que incentivar o uso do aplicativo, aproximar a sua utilização com o desconto faz sentido. Mas não quero que o usuário pense que só vale a pena usar com desconto, mas sim pela qualidade do serviço. São ações que levam em conta a concorrência, o momento do mercado”, afirma Cordeiro.

Concorrente do Cabify, no Uber, novos usuários e quem os indica ganham descontos em viagens após o novo usuário completar a sua primeira viagem pela plataforma, que podem chegar a até R$ 20 nas duas primeiras viagens do indicado e também até R$ 20 para quem faz as indicações (os descontos variam de cidade para cidade).


Especialista alerta consumidor a verificar se realmente existe desconto real
O professor Victor Barcala, do Ibmec, explica que muitas vezes as empresas que dão os descontos encurtam a margem de lucro ao máximo. A intenção é aproveitar o momento para ganhar mercado. “É como se as empresas estivessem comprando uma fatia do mercado, fazendo com que o consumidor teste aquele produto”, diz.

“Muitos desses aplicativos existem desde antes da crise. Agora, no entanto, eles têm um apelo maior”Víctor BercalaProfessor de Gestão de Vendas do Ibmec

Ele alerta, ainda, que o consumidor deve ficar atento para não levar gato por lebre. “Ele deve conferir se há desconto real em cada situação. Muitas empresas criam promoções falsas para gerar no consumidor a percepção de que ele está comprando algo mais barato”, pondera.

Troca
Já André Lacerda, presidente do Sindicato das empresas de Publicidade de Minas Gerais, aponta que existe uma “troca” na utilização d[/TEXTO]esses serviços de descontos on-line. A moeda de troca, explica, é ter as informações cadastrais do o usuário, que passa a fazer parte de um grande banco de dados, em troca da economia do consumidor.

“Há uma série de informações cadastrais do consumidor, bem como as características das compras que ele passa fazer e os lugares em que ele faz essas compras que passam a ser acessados pelas empresas. Fazendo uso de geoprocessamento, algoritmos (fórmulas computacionais) e outras ferramentas tecnológicas, você consegue rastrear o comportamento do consumidor. Muita gente transformou isso em produto”, avalia. Os dados servem para nortear estratégias de marketing. 

Para o especialista, que explica que esse movimento é uma tendência global, uma grande questão no médio prazo é como os consumidores têm avaliado e tomam conhecimento do grau de informação cedido às empresas.

Colaborou Tatiana Moraes Flávio Tavares/Hoje em Dia Fila para compra de gasolina no bairro Sion, em BH. Combustível estava saindo pela metade do preço

Por dentro do “Cashback”

- Lojas parceiras anunciam nos sites e aplicativos de cashback (dinheiro de volta, em inglês) 
- As empresas de cashback, por sua vez, revertem o valor anunciado, “recompensando” o cliente que faz compras nas lojas anunciadas com a “devolução” de um percentual, parte do dinheiro do produto comprado
- Algumas empresas de cash back devolvem o valor direto na conta bancária do cliente; em outras o dinheiro vira um bônus que precisa ser gasto dentro do sistema de lojas parceiras
- Além de lojas on-line, por meio do qual o sistema se popularizou, empresas como Méliuz e Be Blue passaram a disponibilizar o cash back para compras em lojas offline (na rua). O serviço começou a funcionar neste ano em Belo Horizonte
- Poup e Cashola são outros exemplos de serviços de cashback

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