Empresário defende ações para atrair visitantes o ano todo, como no Carnaval

Paulo Henrique Lobato
phlobato@hojeemdia.com.br
02/03/2020 às 09:30.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:48

Ex-seminarista na PUC Minas e ex-coroinha na paróquia Nossa Senhora de Fátima, Paulo César Pedrosa, de 65 anos, tornou-se um dos empresários mais bem-sucedidos em Belo Horizonte. Há duas décadas, é presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes da capital e região metropolitana, o Sindhorb.

Casado, teve quatro filhos. Um deles faleceu há três meses: “Havia sido aprovado no concurso da magistratura”. A dor é amenizada pela presença dos seis netos.N/A / N/A

Ex-seminarista na PUC Minas e ex-coroinha na paróquia Nossa Senhora de Fátima, Paulo César Pedrosa, de 65 anos, tornou-se um dos empresários mais bem-sucedidos em Belo Horizonte

Pedrosa conhece o Hipercentro da capital, onde tem dois hotéis, como poucos: “Lá se vão 50 anos neste local”. Empreendedor de nascença, articula com a Cúria Metropolitana de Belo Horizonte um projeto para que a Semana Santa entre no calendário das grandes festividades de BH. Esse e outros assuntos fazem parte da entrevista que o Hoje em Dia, publica nesta segunda-feira, com o executivo.

O Carnaval se tornou um grande filé para a hotelaria em Belo Horizonte nos últimos cinco anos. Qual outra data que anda em baixa para o setor pode ser alavancada?

Tradicionalmente, o segundo semestre é melhor que o primeiro para a rede hoteleira. O Carnaval melhorou muito para o setor. Estamos desenvolvendo propostas para eventos religiosos. Queremos fazer um trabalho com a Cúria Metropolitana. As conversas, inclusive, foram iniciadas. O Sindhorb foi procurado por representantes de Dom Walmor (Oliveira de Azevedo, arcebispo de BH), que teve a ideia de que, assim como a capital recuperou o Carnaval, precisa recuperar a Semana Santa.

Dessa forma, na hipótese de tudo sair como pensado para a Semana Santa, BH teria duas datas importantes para a hotelaria no primeiro semestre...

Precisamos fortalecer, além da Semana Santa, o turismo receptivo. Não podemos ser um turismo emissor de passagens. Mandamos muita gente para fora de Minas Gerais, para destinos como o Nordeste e o Rio de Janeiro. Precisamos fazer um trabalho para recuperar a cidade na baixa temporada. Não é bairrismo nenhum, mas não há nenhum estado no Brasil que tenha nossas características. Temos o barroco, as estâncias minerais, dezenas de circuitos... Minas Gerais tem 853 municípios e temos de trabalhar em parceria com empresas do setor de turismo. Temos de ser mais agressivo, assim como o Nordeste é. E temos um ministro mineiro, o Marcelo Álvaro Antônio. Nossa gastronomia pode ser o carro-chefe, depois, claro, da hospitalidade mineira. Somos o estado com o maior numero de festivais de comida. E Belo Horizonte, apesar do que ocorreu com a Backer, é a capital da cerveja artesanal. 

O Sindhorb também representa donos de bares e restaurantes, que têm peso grande na economia da cidade. Embora a economia nacional ainda patine, pontos de vendas de cerveja na capital ficam lotados, sobretudo, nos finais de semana. O emprego vem aumentando no setor?

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o setor de hoteis, restaurantes e bares emprega aproximadamente 75 mil pessoas nos cerca de 35 mil pontos de vendas de cerveja. Há muitas empresas familiares. No Carnaval, houve uma contratação temporária em torno de 500 pessoas só na capital. Há uma previsão de que cerca de cinco postos de trabalho em nossos segmentos sejam criados até dezembro de 2020.

Quais medidas, além da Reforma Tributária, o poder público pode implantar para ajudar a hotelaria, bares, restaurantes e similares?

Seja a prefeitura, o Estado ou a União... Precisamos apostar mais no setor. Nós vendemos lazer, vendemos turismo... Em relação à carga tributária, no que diz respeito ao ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza), a hotelaria é um dos três segmentos que mais contribuem para as prefeituras. Quando falo do ISSQN, por exemplo, é o maior imposto da rede de hotelaria. Nossa alíquota em BH é de 5%. Mas essa redução precisa ocorrer por meio de um projeto de Lei do Executivo. Em relação ao Estado, estamos trabalhando na tentativa de que o governo reduza a alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Temos uma carga tributária extremamente elevada. O ideal seria que o ICMS fosse 3%. Quanto menor a carga tributária, a possibilidade de aumentarmos o exército de empregados é grande.

Diante do imbróglio entre bolsonaristas e o Congresso, o senhor confia que 2020 será um ano bom para o setor?

O ano passado foi melhor do que 2018 e nossa expectativa para 2020 é melhor ainda. Acreditamos num crescimento da ordem de 10% para a hotelaria, o que irá refletir no salto do número de empregos. Em 2019, tivemos na hotelaria de Belo Horizonte uma taxa de ocupação da ordem de 60% a 65%. Alguns hotéis tiveram média de 70%. Estamos sentindo uma recuperação ano a ano.


Por outro lado, muitos hoteis anunciados para serem inaugurados para a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, sequer estão prontos. Vários investidores perderam dinheiro...

Muito investidor deu murro em ponta de faca. Até hoje não viu o retorno. Pior, pois ainda tem de pagar todo mês a taxa de manutenção. Este ano devem ser inaugurar dois ou três hotéis que deveriam ter ficado prontos naquela época. Mas há uns cinco ou seis que ninguém sabe quando terão as portas abertas. A oferta de leitos em Belo Horizonte cresceu muito. Para você ter uma ideia, havia 12 mil leitos em 2014 e, hoje, há aproximadamente 24 mil. Ou seja, o número dobrou, mas a ocupação não acompanhou. Em BH, há uma guerra de preço na hotelaria. Só na região da Pampulha foram 12 inaugurações para a Copa.


Por falar na Pampulha, o Sindhorb é favorável à reabertura do Aeroporto Carlos Drummond de Andrade, mais conhecido como Pampulha?

Precisamos incrementar o turismo com a reabertura do aeroporto da Pampulha. O terminal atenderia bem voos para Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória e Brasília. Não irá atrapalhar o movimento do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins. Mas parece que há lobby para que isso não ocorra. Também há pressão de associações de bairros. Mas aqueles bairros no entorno do terminal surgiram após a inauguração do aeroporto. Dá para imaginar São Paulo sem o aeroporto de Congonhas ou o Rio de Janeiro sem o o aeroporto Santos Dumont? É por isso que, às vezes, o turismo aqui não cresce. Há pessoas do próprio turismo que deveriam ser a favor da reabertura do aeroporto da Pampulha. Mas são contra.

A pista do aeroporto fica à margens da lagoa da Pampulha, cujo conjunto arquitetônico que leva a assinatura do arquiteto Oscar Niemeyer (1907/2012) foi reconhecido como patrimônio cultural da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Lá se vão três anos e meio. Na prática, incrementou o turismo em BH?

Não melhorou (para a rede hotelaria), porque a igrejinha (São Francisco de Assis), por exemplo, ficou bom tempo fechada (para reforma de novembro de 2017 a outubro do ano passado). Teve o problema com as capivaras. E a limpeza da lagoa tem de ser feita. Falo há muitos anos: tinha de dar um jeito de esvaziar a lagoa da Pampulha, que é um reservatório de esgoto. Depois, limpá-la. Claro que isso vai custar dinheiro. Já imaginou o que vamos encontrar debaixo d’água quando ela for esvaziada? Depois disso, vai lá e faz a lagoa direito. Tem de lembrar que é uma lagoa artificial. Não sei por que a Copasa permite que se jogue esgoto na Pampulha. É um cheiro forte, principalmente na época de estiagem.

Além do turismo de lazer, outros ramos vêm crescendo na cidade?

Sim. O esportivo está crescendo muito. Delegações de vôlei, basquete... Também o de negócios. Quem deseja organizar eventos, precisa, primeiramente, analisar o espaço e a hotelaria. Não se faz turismo de negócios, esportivo, religioso sem a presença da hotelaria. Belo Horizonte, hoje, é uma apresentação excelente para se viver. A capital é uma cidade fácil de se vender fora do Brasil. Temos boa gastronomia.

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