Enxugar para expandir: empresários têm que adequar necessidades às compras

Da Redação
primeiroplano@hojeemdia.com.br
23/11/2018 às 20:13.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:59
 ( Flávio Tavares)

( Flávio Tavares)

Reduzir gastos é um dos primeiros mandamentos da cartilha básica de sobrevivência em tempos de crise econômica –como a que o Brasil enfrenta. No mundo corporativo, no entanto, cortar na carne não é simples: o exagero ou o corte na área “errada” pode paralisar o empreendimento. Passo inicial é fazer um minucioso diagnóstico da empresa. A medida, garante a consultoria internacional Expense Reduction Analysts (ERA), permite reduzir, em média, 19,7% dos custos com o gargalo detectado.

A estatística é fruto de estudo baseado em mais de 25 mil consultorias prestadas ao redor do mundo. “Percebemos que os gestores costumam generalizar custos. Analisam de forma geral, de forma holística. Não têm condições de ir a fundo em cada um dos gastos, como seria o ideal”, afirma o CEO da ERA, Fernando Macedo.

O consultor explica que as empresas costumam registrar gastos médios, sem se preocupar com a demanda necessária.  “O empresário vê que gastou R$ 99 em janeiro, R$ 110 em fevereiro, R$ 100 em março e acha normal, pois a oscilação é pequena. Mas, às vezes, deveria gastar apenas R$ 50. Ou seja, o custo é excessivo. Não adianta comparar histórico. O correto é adequar a necessidade à compra”, exemplifica. 

Vilão

Quando questionado sobre os principais gastos excessivos já detectados nas corporações, Macedo é categórico: telecomunicações. De acordo com ele, com o dinamismo da tecnologia e a quantidade de planos oferecidos pelas operadoras atualmente, quase sempre é possível economizar. 

Também para o analista do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas), Newton Gonzalez, quem deseja economizar deve se debruçar sobre os números da empresa. “O setor de compras é sempre um dos focos de quem deseja cortar gastos indesejados”.

Negociar constantemente prazos e valores com fornecedores é fundamental. “Especialmente em tempos de crise, em que as margens são ainda mais apertadas, as empresas têm que manter o estoque sempre pequeno. Mercadoria parada é dinheiro parado”, alerta.

Na prática 

Pedro Paulo Drummond, presidente da Cia do Terno, intensificou essa estratégia em 2014, quando a crise econômica deu os primeiros sinais. “Renegociamos vários contratos com fornecedores. Não procuramos nenhum fornecedor novo e não chantageamos nenhum antigo, mas enxugamos os gastos. Obtivemos sucesso em 99% dos casos”, afirmou. Na maioria dos contratos, destaca, foi possível diminuir o preço.

Na época, o empresário optou por reduzir as operações e fechou 31 lojas de 2014 a 2016. “No Brasil, as pessoas não entendem que fechar lojas pode fazer parte de uma estratégia para ser maior no futuro. Nossa maior preocupação eram os funcionários. Estendemos o plano de saúde, fizemos o possível para que eles soubessem que nós realmente nos importamos”, diz. 

A estratégia de dar um passo para trás para saltar dois para frente funcionou. Desde o ano passado, 52 lojas foram abertas. “Se não tivéssemos cortado na carne, eu não sei onde estaríamos hoje”.


Promove investe na digitalização para reduzir uso de papel

Com os custos fixos mantidos e a receita menor, resultado da estagnação do mercado, a Faculdade Promove, com cinco unidades em Belo Horizonte, criou estratégias para aumentar a renda e cortar o máximo de despesas possíveis. Um dos focos foi a redução do uso de papel, que chegava a 5% dos gastos da instituição. 

“Fizemos uma redução responsável das despesas, sem afetar a qualidade do nosso produto. Temos 50 mil alunos por semestre e, para cada um deles, imprimíamos um contrato de cinco páginas. Com a digitalização desses contratos, deixamos de gastar com 500 mil páginas, uma economia enorme”, comemora o diretor executivo do Promove, Thiago Muniz.

O empresário destaca que conta com a ajuda dos funcionários para alcançar os objetivos propostos. Para isso, o Promove lançou mão de uma gestão transparente e estipulou metas entre os colaboradores, premiando ações bem-sucedidas. “Estipulamos que precisamos reduzir a energia elétrica em 10%, por exemplo. Quando essa meta é batida, fazemos um churrasco para os funcionários, ou algo do tipo”. 

O uso de copos descartáveis também foi banido da instituição. “Fizemos copos para todas as pessoas que trabalham conosco. A redução no fim do ano é enorme e é uma prática que agride menos o meio ambiente”, pondera.

Mais clientes

Além disso, o Promove desenvolveu uma série de atividades para captar alunos. Por meio da Ação Promove, por exemplo, a instituição fornece bolsas de até 90% aos candidatos que apresentam melhor desempenho em provas. Outra estratégia desenvolvida para manter alunos matriculados é o programa Promove Empregos, que faz o encontro dos alunos com vagas de trabalho. 

O analista do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae MG) Newton Gonzalez afirma que estratégias para atrair clientes são sempre bem-vindas. O objetivo é diluir o custo fixo entre mais consumidores. “Alguns restaurantes cobram menos após determinado horário, por exemplo, na intenção de aumentar a receita. Como depois de uma certa hora a comida costuma estar ‘mexida’, muitas pessoas deixam de consumi-la. Com preço menor, as chances de atrair cliente são muito maiores”, exemplifica.

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